O prazo para apresentar os candidatos ao Colégio de Comissários da União Europeia termina no final de agosto. À exceção de Ursula von der Leyen, a atual presidente da comissão, e de Kaja Kallas, representante da UE para as Relações Externas, terão todos de ser aprovados pelo Parlamento Europeu.
A maioria dos candidatos até agora são homens, apesar dos apelos de diversificação feitos por von der Leyen. Três países, Itália, Bélgica e Bulgária, ainda estudavam as suas opções esta quarta-feira. Portugal apresentou o nome de Maria Luís Albuquerque, antiga ministra das Finanças.
As importantes pastas da política industrial e do orçamento estão entre as mais cobiçadas.
Áustria e Irlanda apresentaram assim candidatos da mesma área de Albuquerque, respetivamente o atual ministro austríaco das Finanças, Magnus Brunner e o recém-ocupante do cargo irlandês, Michael McGrath. Mas estão longe de ser os únicos.
Brenner, de 52 anos e da mesma família política de von der Leyen, ocupa a pasta das Finanças austríacas desde dezembro de 2021, com experiência tanto no setor público como privado, sendo oriundo de uma família de empresários da região mais ocidental da Áustria, perto da Baviera alemã e da Suíça. Os simpatizantes de Brunner dizem que ele é um bom gestor de crises, os críticos, que é mãos largas.
Já McGrath distinguiu-se por ter criado um fundo soberano na Irlanda, às custas de impostos corporativos, para responder aos desafios demográficos e de transição climática. Homem de família, aos 47 anos um dos seus pontos fortes para ser visto com simpatia pela presidente da Comissão, será o facto de, tal como von der Leyen, ter sete filhos. A Irlanda dirigiu contudo a pasta dos Serviços Financeiros da anterior comissão, pelo que a sua escolha para a Indústria ou o Orçamento é pouco provável, apesar das pretensões de Dublin.
Também a Eslovénia já fez saber do seu interesse nos dossiers ligados à Economia, Finanças e Competitividade. Nomeou por isso Tomaz Vesel, de 56 anos, ex-presidente do Tribunal de Contas esloveno, especialista em administração e contratação públicas. Presidiu ainda à auditoria independente à FIFA quando o seu presidente, Gianni Infantino, foi acusado de corrupção. É visto como alguém que "põe ordem na casa", de acordo com uma fonte anónima do executivo esloveno, com quem não esteve sempre de acordo, sobretudo quanto às medidas para conter a pandemia de Covid-19.
Outro interessado na pasta do Orçamento é o polaco Piotr Serafin, de 50 anos, um aliado próximo do primeiro-ministro Donald Tusk, o que poderá influenciar a decisão de von der Leyen. Serafin tem experiência nos corredores de Bruxelas, tendo sido o braço direito de Tusk quando este era presidente do Conselho Europeu numa época minada de desafios, da crise migrante à crise da dívida grega e ao Brexit. Atual embaixador da Polónia junto da União Europeia, Serafin é tido como solucionador junto de diplomatas e jornalistas e poderá revelar-se um trunfo para a Polónia.
Os Países Baixos jogam a sua cartada com Wopke Hoekstra, de 48 anos, conhecido como Sr Não, por ser essa a resposta quase invariável dada aos pedidos de dinheiro por parte seus colegas no executivo holandês quando era ministro das Finanças. A sua coroa de glória são os orçamentos bem desenhados do país e os investimentos feitos com as sobras orçamentais. Hoekstra é conhecido pelo seu rigor e chegou a defender que os países que não respeitassem as regras orçamentais da União Europeia não deveriam receber fundos sendo também contra a partilha de dívida europeia para enfrentar a crise pandémica. Retratou-se, mas ganhou inimigos.
Os deputados europeus também criticaram a sua experiência ao serviço da Shell e da McKinsey, quando Hoekstra foi ouvido sobre o seu desempenho como comissário para a Ação Climática, cargo no qual substituiu Franz Timmermans em outubro último, sendo por isso um repetente.
Outro interessado nas pastas da Indústria, ou talvez da Energia, é Jozef Síkela, de 57 anos, proposto pela República Checa. É o atual ministro para a Indústria e Comércio. Mas o seu curriculum é sobretudo ligado ao setor da banca.
Os repetentes
Vários nomes propostos são já velhos conhecidos dos europeus.
À cabeça, Kaja Kallas, de 47 anos, que se demitiu a 15 de julho do cargo de primeira-ministra da Estónia para abraçar a liderança da política externa da União Europeia. Tal como o português António Costa, Kallas foi já aprovada pelo Parlamento Europeu. A estoniana considerou que, ao lado de von der Leyen, os três "fazem uma grande equipa".
O francês Thierry Breton, de 69 anos, é o atual comissário europeu para o Mercado Interno e Serviços e procura renovar a sua participação no executivo europeu, por mais cinco anos. Mas não necessariamente com os mesmo dossiers. O seu interesse será uma superpasta económica. A sua experiência junto da indústria da Defesa, assim como a sua nacionalidade, poderão fazer dele o candidato ideal para o novo cargo de Comissário da Defesa, uma área que a União Europeia tem pressa em desenvolver.
Outro candidato a repetente, e neste caso pela terceira vez, é oriundo da Letónia. Valdis Dombrovskis, de 53 anos, é atualmente vice-presidente executivo da Comissão Europeia para a Economia Que Sirva as Pessoas e comissário europeu para o Comércio. Desta vez, o seu objetivo será o dossier da reconstrução da Ucrânia.
Uma das escolhas mais controversas vem da Hungria, com o primeiro-ministro Viktor Orbán a insistir na nomeação de Olivér Várhelyi, de 52 anos, que tem ocupado a pasta para a Ampliação e Política de Vizinhança. O seu desempenho foi criticado, sobretudo os contactos com países candidatos que levantam preocupações a Bruxelas quanto ao funcionamento como Estados de Direito e democratas. É pouco natural que reocupe o cargo, sobretudo quando a União Europeia se prepara para negociar a adesão da Ucrânia e da Moldova.
A croata Dubravka Šuica, de 67 anos, é igualmente uma outra repetente, sendo atual comissária para a Democracia e Demografia. Estará interessada em prosseguir com o projeto. No seu curriculum consta ainda que foi professora de alemão, presidente da câmara de Dubrovnik e deputada europeia.
Šefčovič serviu em Bruxelas nos últimos 15 anos, sob Barroso, Jean-Claude Juncker e von der Leyen. Passou duas grandes crises financeiras, o Brexit, uma pandemia e uma guerra junto às fronteiras do seu país. Sobreviveu a tudo, sendo considerado um bom comissário interino de uma pasta necessitada.
Dos 34 aos 67 anos
Uma série de outros nomes compõem as propostas dos vários Estados-membros da União Europeia.
A Roménia recorreu a Victor Negrescu, um social-democrata recém-nomeado vice-presidente do Parlamento Europeu, de apenas 39 anos. Estará interessado numa pasta ligada a investimentos mas, sobretudo, quer atrair jovens para o projeto europeu. Negrescu estudou em Paris e em Bruxelas, foi jornalista e passou a deputado europeu em 2014. Trabalhou em áreas como orçamento, digital e cultura.
Teresa Ribera, até há pouco vice-primeira-ministra e ministra para a Transição Ecológica de Espanha, terá como objetivo a pasta do Acordo Verde Europeu. Se a conseguir, será uma má notícia para os defensores da energia atómica, com a França à cabeça. Será esse aliás o maior obstáculo que Ribera, de 55 anos, terá de enfrentar, pois a antiga negociadora da ONU para o clima tem a seu favor décadas de experiência, contactos ao mais alto nível e uma reputação imaculada.
Dan Jørgensen é a proposta dinamarquesa para o segundo Colégio de
Comissários de von der Leyen, e já era esperada. Jørgensen, de 49 anos,
um social-democrata, já foi deputado europeu com experiência na pasta do
Ambiente. Foi depois ministro do seu país para a Alimentação,
Agricultura e Pescas e depois para o Clima, Energia e Cooperação e
Desenvolvimento. Experiência que o torna capaz em diversas áreas e um
sério concorrente de Teresa Ribera.
A Suécia propôs Jessika Roswall, de 51 anos, que detinha a pasta dos Assuntos Europeus no executivo sueco e que por isso detém uma vasta rede de contactos em Bruxelas. A nomeada estará interessada em pastas ligadas à guerra na Ucrânia, competitividade, clima e crime.
O governo lituano escolheu entretanto um falcão, apoiante de Kiev e crítico da Rússia,
que tem defendido que os aliados europeus da Ucrânia deveriam
contribuir com 0.25 por cento dos seu PIB para ajudar a derrotar o
presidente russo Vladimir Putin. Andrius Kubilius, de 67 anos, antigo
académico e por duas vezes primeiro-ministro, foi coautor do Plano
Europeu para a Ucrânia. A candidatura tem ainda de ser aprovada pelo
parlamento e pelo presidente do seu país.
Outro eurodeputado que passa a candidato é o do Luxemburgo. Aos 42 anos, Christophe Hansen descreve-se a si mesmo como "filho e neto de agricultores" e é um sério candidato para a pasta da Agricultura. Enquanto deputado do grã-ducado chefiou a comissão daquele dossier e foi ainda membro da Comissão para o Comércio Internacional do PE, com a responsabilidade de negociar as regras de desflorestação.
A escolha de Malta fez por sua vez levantar de espanto algumas sobrancelhas. Trata-se de Glenn Micallef, de apenas 34 anos, um funcionário público que serviu como chefe de gabinete do primeiro-ministro Robert Abela e liderou o departamento de coordenação com a União Europeia. Falta-lhe experiência política e muitos malteses acreditam que isso irá implicar uma pasta de "terceira-categoria" para o país, em vez do ambicionado dossier para o Mediterrâneo, para o qual poderiam concorrer com a Grécia e com o Chipre.
Este último nomeou Costas Kadis, um biólogo, professore de ciências do Ambiente, que desempenhou cargos políticos, nas pastas da Agricultura, do desenvolvimento Rural e do Ambiente, esta última até fevereiro de 2023. É atualmente reitor da Faculdade de Ciências da Saúde na Universidade Fredrick no Chipre.
Já a Grécia escolheu Apostolos Tzitzikostas, o governador de 45 anos da Macedónia Central, como seu candidato. É experiente em Bruxelas, onde já foi presidente do Comité para as Regiões. A Grécia ambiciona uma pasta que reflita os seus progressos económicos mas igualmente a sua posição estratégica no flanco sueste da Europa e da NATO.