Tem 47 anos, formou-se em Direito pela Universidade Eduardo Mondlane e é mestre em Gestão de Desenvolvimento pela Universidade Católica de Moçambique. Foi professor de ciências-políticas e apresentador de rádio.
Alto, casado, com três filhos, o agora presidente-eleito era um relativo desconhecido da maioria dos moçambicanos até à sua designação surpresa como candidato da Frente de Libertação de Moçambique, Frelimo, às presidenciais.
Em 2015, foi designado administrador do distrito de Palma, no nordeste de Moçambique, e no ano seguinte tornou-se governador da província de Inhambane, no sul do país.
Foi agora declarado vencedor das sétimas eleições presidenciais de 9 de outubro, com 10,67 por cento dos votos, pela Comissão Eleitoral, cuja fiabilidade é contestada pela oposição e por observadores estrangeiros, devido à sua alegada proximidade com a Frelimo.
O candidato do Podemos, que, de acordo com os resultados anunciados esta quinta-feira, obteve o segundo lugar com 20,32 por cento dos votos, convocou ainda manifestações em todo o país, depois de uma semana já marcada por tumultos e pelo duplo homicídio de dois apoiantes de Mondlane, o advogado Elvino Dias e o docente Paulo Guambe. Foram ambos mortos a tiro numa emboscada em Maputo na noite de 18 de outubro.
Daniel Chapo poderá assim ter de enfrentar contestação acesa ainda antes de tomar posse. A cerimónia que o irá consagrar como successor de Filipe Nyusi, está marcada para janeiro de 2025.
Vítima de guerra
Nascido em Inhaminga, na província de Sofala, a 6 de janeiro de 1977, Daniel Francisco Chapo é o primeiro presidente do país nascido já depois da independência declarada em 1975.
É igualmente o primeiro a não ter combatido nas fileiras da Frelimo durante a guerra civil (1975-1992), que fez um milhão de mortos e que deixou cicatrizes profundas, como fez questão de recordar no arranque da sua campanha, na cidade da Beira, província de Sofala, no centro do país.
"Quando eu tinha cinco anos, naquela altura da guerra [civil], fui capturado e vivi por dois anos em cativeiro. Só saímos do cativeiro em 1985, fugimos, andando a pé desde Inhaminga [vila do distrito de Chiringoma, na província de Sofala] até ao distrito de Dondo. Dormimos no mato, na chuva e no sol. Sei o que é este sofrimento", contou Daniel Chapo.
Talvez por isso, logo de início Daniel Chapo apelou à paz e união de todos os moçambicanos, como primeiro pilar do seu projeto politico.
"Não há desenvolvimento sem paz. Temos os nossos irmãos que estão a sofrer com ataques terroristas em Cabo Delgado. Cabo Delgado também é Moçambique e merece a nossa atenção ", declarou.
O conflito em Cabo Delgado fez mais de 5.800 mortos e provocou mais de um milhão de deslocados. Impossibilita ainda o desenvolvimento da exploração de depósitos de gás natural localizados no Oceano Índico, que poderiam ajudar ao desenvolvimento de Moçambique, um dos países mais pobres do mundo. O projeto, liderado pelo consórcio francês Total Energies, está orçado em 20 mil milhões de dólares, mas encontra-se paralisado desde 2021 devido ao conflito.
Daniel Chapo acompanhou o processo, enquanto administrador da província de Palma em 2015.
“Na altura, os projetos de gás natural estavam a ser desenvolvidos e ele desempenhou por isso um papel importante, ou pelo menos compreendeu como tratar com as multinacionais a nível local”, referiu Borges Nhamirre, do Instituto de Estudos de Segurança, de Pretoria, África do Sul, citado pela Agência France Press.
Influenciável
Não se conhecem contudo qualidades relevantes a Daniel Chapo, que o distingam enquanto político. Homem do aparelho da Frelimo, muitos acreditam que é “influenciável” e que essa foi a razão da sua escolha enquanto candidato, em maio de 2024. O processo de seleção levou dois dias, incluindo debates intensos entre os cerca de 250 membros do Comité Central da Frelimo, e votações sucessivas. Daniel Chapo enfrentava três outros candidatos internos, representantes de outras tantas fações, que acabaram derrotadas.
“A Frelimo não conseguia chegar a acordo, escolheram Chapo para poder influenciá-lo. Ele não põe em causa os equilíbrios e estará muito apoiado”, resumiu à AFP um analista sob anonimato.
Borges Nhamirre é da mesma opinião. “Ninguém podia acreditar que tivesse sido nomeado porque nunca se tinha ouvido falar dele, nenhuma entrevista importante, ou discurso interessante, apenas um politico vulgar”, descreveu.
O presidente cessante, Filipe Nyusi, de 65 anos, que atingiu o limite de mandatos, apelou “ao apoio total a Daniel Chapo”, tal como os seus antecessores, Joaquim Chissano e Armando Guebuza.
No seu último comício nos arredores de Maputo, saudado por alguns milhares de apoiantes transportados até ali em autocarros, Daniel Chapo prometeu construir escolas e hospitais e fortalecer a economia.
Com um sistema de saúde periclitante e assolado por greves de médicos e funcionários, que contestam uma situação caótica, falta de material e cortes salariais, o novo presidente de Moçambique tem neste dossier trabalho garantido.
O combate à corrupção, que o próprio presidente-eleito descreve como um mal que "infeta e afeta" Moçambique, é outra preocupação.
Do programa político de Chapo fazem ainda parte a industrialização da economia moçambicana e a reabilitação da Estrada Nacional Número 1, a principal do país.
c/ agências