Da pena de morte à prisão perpétua por causa de Trump

por Cristina Santos - RTP
Foto - Hennie Stander - Unsplash

A menos de um mês da tomada de posse de Donald Trump, o ainda presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aceitou comutar as penas capitais para perpétua de 37 detidos que estavam no chamado "corredor da morte".

Três factos podem ajudar a perceber por que razão Biden decidiu comutar 37 penas a poucas semanas de deixar a Casa Branca.

Primeiro, Donald Trump tem afirmado repetidamente que quer alargar a aplicação da pena capital para imigrantes que mataram cidadãos norte-americanos, traficantes de droga e responsáveis por tráfico de seres humanos.

Segundo, o receio que as organizações de defesa dos Direitos Humanos têm quanto a uma "onda de execuções", após a tomada de posse de Trump.

Terceiro, no início de dezembro, mais de 130 organizações, incluindo o poderoso grupo de direitos civis ACLU ou a Amnistia Internacional dos Estados Unidos, pressionaram Joe Biden uma vez que, durante a campanha presidencial de 2020, assumiu o compromisso de lutar contra a pena de morte (o que conduziu à moratória sobre as execuções ao nível da justiça federal decretada em maio de 2021).

Todos os 37 prisioneiros foram condenados pela justiça federal norte-americana, distinta da justiça estadual, e Biden, em comunicado, justifica a substituição de penas por serem “consistentes com a moratória que (o) Governo impõe às execuções federais em casos que não sejam terrorismo e assassinatos em massa motivados pelo ódio”.

“Decidi comutar as sentenças de 37 dos 40 prisioneiros que estão no corredor da morte federal para prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional”.Alguns prisioneiros que escapam à pena capital

Nove
foram condenados pelo assassinato de outros presos. Outros quatro assassinaram pessoas durante assaltos a bancos e um matou um guarda prisional.

Estes crimes levaram o presidente democrata a escrever: "Condeno estes assassinos, lamento as vítimas dos seus atos desprezíveis e lamento por todas as famílias que sofrem estas perdas inimagináveis e irreparáveis".

No entanto, Biden acrescenta: "Guiado pela minha consciência e pela minha experiência (…) estou mais convencido do que nunca de que devemos parar de usar a pena de morte a nível federal".
Quem são os prisioneiros que não escapam ao corredor da morte
Os três são Dzhokhar Tsarnaev, um dos autores do ataque à maratona de Boston, de 15 de abril de 2013; Dylann Roof, supremacista branco que matou nove afro-americanos numa igreja de Charleston em 2015; Robert Bowers, autor de um ataque a uma sinagoga de Pittsburgh em 2018, que matou 11 judeus.
A pena de morte nos EUA

As execuções federais são raras, sendo a maioria realizada pelos Estados norte-americanos. Cerca de 2.300 prisioneiros estão no corredor da morte nos Estados Unidos e, desde a decisão de Biden, três (acima indicados) foram condenados pela justiça federal. A pena capital foi abolida em 23 dos 50 estados norte-americanos. 

As moratórias também estão em vigor em seis outros Estados (Arizona, Califórnia, Ohio, Oregon, Pensilvânia e Tennesse).

Vinte e cinco execuções ocorreram em 2024 nos Estados Unidos, todas no nível da justiça estadual.

As últimas execuções federais aconteceram no final da (primeira) presidência de Trump. Após um hiato de 17 anos, 13 prisioneiros foram condenados à morte em seis meses (entre 14 de julho de 2020 e 16 de janeiro de 2021). Este foi o maior número de execuções durante o mandato de um presidente norte-americano em cerca de 120 anos.
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