O parlamento sul-africano nomeou, esta quinta-feira, Cyril Ramaphosa como Presidente, numa sessão sem a presença de dois dos principais partidos da oposição. A votação aconteceu depois de Jacob Zuma ter anunciado na quarta-feira que renunciava ao cargo com “efeitos imediatos”.
Ramaphosa, de 65 anos e até agora vice-presidente do país, colocou no topo das suas prioridades a erradicação da corrupção e a revitalização do crescimento económico.
Ramaphosa já deu indicações de que, na noite de sexta-feira, irá dirigir-se ao país, num discurso em que irá abordar o Estado da Nação, intervenção que esteve prevista para início da semana e para ser pronunciada por Zuma.
Com a aprovação do Parlamento, Ramaphosa assegura a presidência do país até às eleições de 2019. Este milionário, antigo homem de negócios, chega à presidência da África do Sul num momento difícil da história recente do país.
Ramaphosa, antigo ativista anti-apartheid que chegou a trabalhar com Nelson Mandela, foi eleito presidente do Congresso Nacional Africano (ANC) em dezembro de 2017, e faz parte da fação moderada e reformista do ANC, partido que governa a África do Sul desde as primeiras eleições livres, em 1994.
Desde 1994 que o ANC tem obtido a maioria absoluta no Parlamento, tendo sido presidido sucessivamente por Nelson Mandela (maio de 1994 a junho de 1999), Thabo Mbeki (junho de 1999 a setembro de 2008), Kgalema Motlanthe (interino, setembro de 2008 a maio de 2009) e Jacob Zuma (maio de 2009 a fevereiro de 2018).Quem é Cyril Ramaphosa?
O líder do ANC, Cyril Ramaphosa, começou como dirigente sindical, tendo agora a ambição de se tornar chefe de Estado nas eleições de 2019.
Matamela Cyril Ramaphosa, 65 anos, natural do Soweto (arredores de Joanesburgo), onde nasceu a 17 de novembro de 1952.
Vice-presidente de Zuma desde 25 de maio de 2014, Ramaphosa aproveitou a “margem de manobra” dada pelo agora ex-presidente, acusado de vários atos de corrupção, lavagem de capitais e de subornos, para, na campanha para a liderança do ANC, aplicar uma estratégia de combate aos atos ilícitos.
Esta era a óbvia forma de voltar a convencer o tradicional eleitorado do partido, já muito descontente com o regime de Zuma, para evitar o que seria uma derrota humilhante do ANC nas eleições presidenciais de 2019, devendo, para tal, aproveitar o pouco mais de um ano para recuperar a credibilidade.
Desde que o ANC conquistou o poder, em 1994, Ramaphosa torna-se no quinto presidente da África do Sul, depois do “histórico” Nelson Mandela (maio de 1994 a junho de 1999), de Thabo Mbeki (junho de 1999 a setembro de 2008), de Kgalema Motlanthe (interino, setembro de 2008 a maio de 2009) e de Jacob Zuma (maio de 2009 a fevereiro de 2019).
De líder sindical, ainda nos tempos do sistema de segregação racial (apartheid) que vigorou até 1991 e que lhe valeu a atribuição do Prémio Olof Palme em 1987), a empresário (em 2007 surgiu na revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do ano no mundo), Ramaphosa tem agora o caminho livre para se tornar presidente efetivo da África do Sul.
Ramaphosa tem agora inúmeros desafios pela frente, sobretudo o de levantar um país economicamente debilitado.
Milhares de pessoas ainda vivem sem eletricidade e sem instalações sanitárias, as escolas e hospitais são frequentemente rudimentares e uma recente sondagem deu conta de que oito em cada 10 crianças são iliteradas, além da já tradicionalmente elevada criminalidade violenta.
C/Lusa