O "leitor de tabaqueira" é um funcionário das fábricas de tabaco que lê em voz alta para os seus companheiros de trabalho jornais, revistas, romances, panfletos, receitas de cozinha e textos de vários outros géneros, graças ao relativo silêncio do processo produtivo nessas fábricas. Cuba reconheceu agora esse posto de trabalho como património cultural e, segundo diário espnhol El Pais, pretende que a UNESCO faça outro tanto.
Mas entretanto o mundo deu muitas voltas e em várias delas a profissão de leitor de tabaqueira esteve à beira de ser destruída ou desvirtuada. Logo no início, as autoridades coloniais espanholas quiseram convertê-la num instrumento da sua propaganda e ordenar a leitura, principalmente, de compêndios da História espanhola.
Mas a influência de sindicatos e mesmo de administrações hostis à submissão colonial pesaram a favor de uma lista de leituras diferente, em que a literatura espanhola estava representada pelo D. Quixote, de Cervantes, e outras literaturas traziam também, a um proletariado quase analfabeto, uma cultura literária incluindo nomes tão críticos como Victor Hugo e Zola.
Não surpreende portanto que o herói da independência cubana, José Martí, tenha afirmado que "a mesa de leitura de cada tabaqueira foi tribuna avançada da libertade". Inversamente, as autoridades coloniais sentiram no "leitor de tabaqueira" uma ameaça e em várias ocasiões tentaram impor um index de livros que deviam ser banidos das leituras fabris. Num momento, tentaram mesmo acabar com a profissão.
Esta manteve-se, apesar de tudo, ao longo dos anos, até hoje. O jornalista de El Pais Mauricio Vicent, em artigo hoje publicado naquele diário, recorda uma visita que fez há alguns anos à fábrica Partagas, em que encontrou os trabalhadores a discutirem apaixonadamente entre si os comportamentos de personagens de Stendhal, de Vermelho e Negro, que por esse tempo estava a ser-lhes lido em folhetins. E recorda que alguns, impacientes para conhecerem o fim da história, tinham ido à livraria comprar o livro.