A causa da morte de Jesus Cristo terá sido embolia pulmonar, afirma um médio israelita que põe em causa a ideia geralmente aceite de que morreu de asfixia e perda de sangue durante a crucificação.
Benjamin Brenner, investigador no Centro Médico de Rambam em Haifa (Israel), diz que divulga esta teoria para chamar a atenção para a embolia pulmonar, um problema de saúde muitas vezes mortal associado às viagens aéreas de longo curso.
"As pessoas não têm consciência dela, tanto ao nível do público como da prática médica", disse Brenner à agência Associated Press, fazendo notar que, mesmo agora, 80 por cento das embolias pulmonares só são diagnosticadas nas autópsias.
Porém, o autor de um aprofundado relatório anterior sobre a morte de Jesus Cristo rejeita a teoria, e estudiosos da Bíblia dizem que embora a descoberta da causa física da morte de Cristo seja interessante, ignora a dimensão espiritual.
"Sabe-se que a embolia pulmonar é a causa comum de morte quando há politraumatismo, imobilização e desidratação", escreveu Brenner no "Journal of Thrombosis and Haemostasis".
"Isto adapta-se bem ao estado físico de Jesus e muito provavelmente é a causa principal da morte das vítimas de crucificação", acrescentou.
A teoria de Brenner vem publicada na revista não como um estudo médico, mas na qualidade de carta à redacção.
A embolia pulmonar ocorre quando um coágulo de sangue se aloja nos pulmões, proveniente em geral de uma perna, provocando falta de ar e dores no peito. Frequentemente é fatal.
Brenner baseou a sua teoria num trabalho de 1986 sobre o Novo Testamento que usou fontes religiosas contemporâneas e foi publicado no Journal of the Americam Medical Association.
Segundo esse estudo, Jesus passou 12 horas sem comer nem beber, esteve sob "stress" emocional, foi espancado e forçado a caminhar até ao local da crucificação com uma pesada cruz de madeira às costas. Foi ainda chicoteado antes de ser pregado à cruz, o que provocou perda de sangue.
Brenner diz que os autores do trabalho poderão não ter pensado na hipótese de embolia por não ser totalmente compreendida na época.
Porém, um dos autores do trabalho, William D. Edwards, rejeita a teoria de Brenner dizendo que conhecia muito bem na altura os efeitos da embolia pulmonar.
"Não a mencionámos porque não a considerámos uma causa provável", afirmou. "Jesus esteve na cruz apenas seis horas. Parece improvável que um trombo de uma veia profunda da pele se tivesse desenvolvido e causasse uma embolia pulmonar fatal em tão curto espaço de tempo".
Para Stephen Pfann, um estudioso da Bíblia em Jerusalém, "o que estão a fazer é a autópsia do corpo físico, que pode ser interessante do ponto de vista académico".
"Mas se as pessoas se concentram só nessa parte do evento", acrescentou, "estão a perder a parte mais importante, que é o sofrimento espiritual".