Crise na Venezuela conduz a êxodo para vizinhos da América Latina

por Raquel Ramalho Lopes - RTP

O Presidente brasileiro está a ponderar a distribuição de senhas na fronteira no estado fronteiriço de Roraima para controlar o número de venezuelanos que tentam entrar no Brasil. No último ano, deixaram a Venezuela mais de um milhão e meio de pessoas. O Peru declarou o estado de emergência médica nas duas províncias na fronteira a Norte. Nicolás Maduro pede aos migrantes que “deixem de lavar latrinas e voltem” à Venezuela.

O Presidente do Brasil está a considerar distribuir senhas na fronteira do Brasil com a Venezuela para controlar o número de pessoas que entram no país.

"Entram 700 a 800 pessoas por dia [na fronteira do Brasil com a Venezuela em Roraima]. Pensamos em colocar senha para entrar 100, 150 até 200 pessoas por dia e organizar um pouco mais essas entradas", disse o Presidente brasileiro à Rádio Jornal de Pernambuco.

É uma solução possível para resolver as dificuldades criadas com a chegada em massa de pessoas, que passam por áreas como a “vacinação e a organização”.

O transporte de refugiados para outros Estados, uma medida que Michel Temer chama de “interiorização”, é outro dos cenários possíveis.

O estado de Roraima, um dos mais pobres do Brasil, é a principal rota utilizada pelos migrantes que fogem da grave crise política, económica e social na Venezuela. Há 10 dias, os acampamentos dos migrantes na cidade de Pacaraima foram queimados e 1200 pessoas foram forçadas a regressar à Venezuela.

Na sequência do aumento da violência, o Presidente brasileiro autorizou o envio das Forças Armadas para garantir a segurança no estado fronteiriço até 12 de setembro. Temer também endureceu o discurso em relação a Caracas e responsabilizou Nicolás Maduro pela crise migratória.

"É inadmissível o que está acontecendo lá [na Venezuela]. Isto está colocando em desarmonia o próprio continente sul-americano. Tenho falado com o Presidente da Colômbia, Peru e do Equador que têm milhares de refugiados. Eu disse que é preciso modificar aquele clima da Venezuela", defendeu o Presidente do Brasil, que quer tentar travar o impacto da crise em Caracas nos países vizinhos.

A solução ideal para Michel Temer seria enviar ajuda humanitária para a Venezuela, mas a ideia foi rejeitada por Nicolás Maduro.

"Há um ano e meio propusemos ajuda humanitária, alimentos, remédios e o Governo [da Venezuela] recusou. O Governo recusou lá e os venezuelanos vêm para cá (...) O ideal para nós era que eles recebessem nossa ajuda humanitária e lá [na Venezuela] pudessem permanecer", afirmou.

Nos últimos dois anos mais de 56 mil venezuelanos pediram refúgio ao Brasil, de acordo com dados do Governo.
Mais de um milhão e meio de migrantes
Para fugir da pobreza, da hiperinflação e do colapso dos serviços públicos, mais de milhão e meio de venezuelanos deixou o país nos últimos três anos, de acordo com as Nações Unidas. Noventa por cento vão para os países da América Latina.

A vizinha Colômbia é o principal destino, tendo recebido cerca de um milhão de pessoas. Quatrocentas mil escolheram o Peru, embora apenas 178 mil tenham autorização de residência ou feito o pedido de registo.

A amplitude do fluxo migratório levou as autoridades de Bogotá e Lima a criar uma base de dados comum sobre os migrantes.

O ministro colombiano dos Negócios Estrangeiros apelou a uma resposta conjunta para enfrentar o desafio. Nesse sentido, estiveram reunidos em Bogotá altos representantes do Brasil, Peru e Colômbia com a pasta da Imigração. Na próxima semana, os ministros dos Negócios Estrangeiros da Colômbia e do Equador encontrar-se em Quito.

O Peru e o Equador começaram, sábado, a pedir passaporte aos venezuelanos, em voz dos bilhetes de identidade. No primeiro dia da aplicação da medida, o Peru registou uma queda no número de entradas, no total de 1.630. No entanto, centenas de venezuelanos entraram sem passaporte através do pedido de asilo.

Lima também reduziu o prazo para os migrantes venezuelanos pedirem o visto de residência temporário, que lhes permite procurar emprego no Peru.

Esta semana, as Nações Unidas admitiram que a fuga em massa de venezuelanos para os países vizinhos está a criar um “momento de crise” comparável ao que se vive no Mediterrâneo.
Emergência médica no Peru
A crise venezuelana pode agudizar ainda mais o fluxo migratório nas próximas semanas.

O Peru declarou 60 dias de emergência médica nas duas províncias junto à fronteira Norte, uma vez que a escalada do número de venezuelanos cria “perigo eminente” para a saúde e condições sanitárias.

As autoridades de saúde já tinham revelado preocupação com a possibilidade de propagação de doenças como o sarampo e a malária entre os migrantes.
Maduro convida ao regresso
"Eu digo aos venezuelanos (...) que desejam escapar da escravidão económica: parem de lavar latrinas no estrangeiro e voltem a morar na sua pátria!", declarou o presidente da Venezuela na noite de terça-feira em direto na rádio e televisão.

O apelo de Nicolás Maduro visa conter a fuga em massa de venezuelanos, que considera resultar de "uma campanha da direita” e dirige-se em particular aos que escolheram o Peru para residir. Caracas anunciou que 89 cidadãos regressaram do Peru depois de terem sofrido um “tratamento cruel”. “Tudo o que encontraram em Lima foi racismo, desdém e perseguição”, apontou Maduro.

Esta declaração é vista por ativistas venezuelanos, migrantes no Peru, como um golpe de publicidade. O Ministério peruano dos Negócios Estrangeiros recusou comentar as declarações de Nicolás Maduro.

O presidente da Venezuela espera que mais migrantes regressem, na sequência de um plano de medidas económicas, que entrou em vigor na semana passada.
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