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Crise migratória na Polónia e Bielorrússia. Merkel pede intervenção de Putin

por Andreia Martins - RTP
Reuters

A chanceler alemã pediu ao Presidente russo para agir contra a "instrumentalização" dos migrantes pela Bielorrússia. O porta-voz de Angela Merkel confirmou esta quarta-feira que os dois líderes falaram ao telefone sobre a situação de tensão crescente na fronteira polaca.

Nesta conversa telefónica, Merkel disse a Putin que “a instrumentalização de migrantes por parte do regime da Bielorrússia é desumana e inaceitável”.

“Pediu a Putin para que que o influencie [ao regime em Minsk]”, revelou esta quarta-feira o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert, através do Twitter.


A conversa telefónica desta quarta-feira aconteceu poucas horas depois de o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, ter acusado Moscovo e, em particular, o Presidente Putin de ser o verdadeiro responsável pela nova vaga de migrantes que chega à Europa através da Bielorrússia.

"Este ataque que Lukashenko está a levar a cabo tem Moscovo como mentor, o Presidente Putin como mentor", acusou o governante num discurso perante o Parlamento.

Morawiecki referiu sem rodeios que o Presidente russo "está determinado em reconstruir o Império Russo" e que a crise na fronteira com a Bielorrússia é "um novo tipo de guerra, em que as pessoas são usadas como escudos vivos".
Fátima Marques Faria - RTP

Em resposta, o Kremlin considerou “inaceitável” ser responsabilizado pela situação e culpou a Europa.

Sobre o telefonema, as autoridades russas confirmam que Vladimir Putin propôs a Angela Merkel uma discussão sobre a situação atual “em contactos diretos entre representantes dos Estados-membros da União Europeia e Minsk”.

Esta quarta-feira, o ministro bielorrusso dos Negócios Estrangeiros, Vladimir Makei, foi recebido em Moscovo pelo homólogo russo, Sergey Lavrov.

Na terça-feira, Lavrov acusava os países da UE e NATO de estarem na "raiz" desta crise. "Queriam uma vida melhor ao estilo ocidental, segundo a interpretação no Ocidente", afirmou, referindo-se às tentativas de mudança de regime no Médio Oriente durante a Primavera Árabe.

"É evidente que a catástrofe humanitária está a crescer perante um contexto de relutância dos europeus em demonstrarem um compromisso para com os seus próprios valores", acrescentou o chefe da diplomacia russa, em referência às políticas migratórias da União Europeia.

Grande parte dos migrantes junto à fronteira polaca com a Bielorrússia tem origem curda, mais concretamente do Iraque. Durante a madrugada de quarta-feira, mais de 50 pessoas foram detidas após terem tentado entrar na Polónia.

Entre três a quatro mil migrantes permanecem acampados na região, encurralados pelo regime de Lukashenko, mas impedidos de atravessar a fronteira polaca, entretanto encerrada, e onde a presença militar foi reforçada após a declaração do estado de emergência.

Nos últimos meses, com a crescente repressão da oposição bielorrussa, o apoio de Moscovo a Alexander Lukashenko tem sido cada vez mais fulcral para Minsk. O país tem sido exposto a um crescente isolacionismo desde o reforço das sanções europeias, em junho último, após o desvio de um voo da Ryanair.

De acordo com a agência Reuters, a Rússia enviou dois bombardeiros estratégicos (Tupolev Tu-22M) para ajudar a patrulhar o espaço aéreo bielorrusso.
"Situação intolerável", diz a ONU
Com a nova crise às portas da Europa, Bruxelas ameaça com uma nova ronda de sanções. "Enfrentamos um ataque híbrido brutal contra as nossas fronteiras da União Europeia. A Bielorrússia está a usar migrantes desesperados como armas, de uma forma cínica e chocante", afirmou Charles Michel, presidente do Conselho Europeu.

Lukashenko não nega as acusações, mas aponta culpas à Europa: "Quiseram impor sanções contra mim e contra os bielorrussos. Avançaram para uma guerra híbrida contra a Bielorrússia. (...) Vocês, sacanas, loucos, querem agora que vos proteja dos migrantes, entre outras coisas".

Enquanto a troca de acusações entre Varsóvia, Minsk, Bruxelas e Moscovo sobe de tom, milhares de migrantes continuam concentrados na região fronteiriça à espera de um desbloquear da situação.

Devido ao frio que se faz sentir naquela região da Europa por esta altura do ano, vários migrantes acampados em zonas florestais morreram com as baixas temperaturas. Outros ficaram feridos na tentativa de passar a fronteira ou em confronto com guardas fronteiriços. Na noite de terça-feira, foram bloqueadas pelo menos 2.000 pessoas que tentavam ultrapassar a fronteira.

Na reação aos últimos desenvolvimentos, a alta-comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu uma resolução urgente para a situação.
Alexandra Sofia Costa - Antena 1

"Exorto todos os Estados envolvidos a tomarem medidas imediatas para desescalar e resolver esta situação intolerável, de acordo com as suas obrigações, com o Direito Internacional, Direitos Humanos e direitos dos refugiados", afirmou Bachelet.

As ações de ambos os lados "incluindo o aumento de tropas e a retórica inflamatória que o acompanha" exacerbam a vulnerabilidade e os riscos que os migrantes e refugiados enfrentam, acrescentou.

"Estas centenas de homens, mulheres e crianças não devem ser obrigados a passar mais uma noite num ambiente gelado, sem abrigo, alimento, água e cuidados médicos adequados", apontou ainda a responsável.
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