Depois do último naufrágio no Canal da Mancha, que ceifou as vidas de dezenas de migrantes, o primeiro-ministro britânico e o presidente francês conversaram, na última noite, ao telefone. Boris Johnson e Emmanuel Macron consideraram, em uníssono, urgente intensificar os esforços conjuntos para pôr cobro às travessias mortíferas. Mas trocaram também acusações: o primeiro instou o segundo a aceitar o patrulhamento costeiro conjunto; o segundo exortou o interlocutor a abster-se de politizar a tragédia.
A partir de Paris, porém, o Eliseu, citado pela edição online do jornal britânico The Guardian, deixou claro que o presidente francês coloca a ênfase na “partilha de responsabilidade” entre os dois países, exortando o primeiro-ministro britânico a dar mostras de uma completa cooperação e a abster-se de usar tragédias como a de quarta-feira com “intuito político”.
Por sua vez, Boris Johnson renovou o apelo à França para que concorde em proceder a patrulhas costeiras conjuntas - algo que Paris rejeitou no passado recente, argumentando com questões de soberania. Afirmou mesmo que os esforços de Paris no domínio do controlo costeiro “têm sido insuficientes”.
Morreram pelo menos 27 pessoas no naufrágio de uma embarcação com migrantes ocorrido na quarta-feira. Foram resgatadas com vida duas pessoas. Este é já considerado o pior naufrágio na Mancha desde 2014, ano em que a Organização Internacional para as Migrações começou a recolher dados.
“Temos tido dificuldades em persuadir alguns dos nossos parceiros, em particular os franceses, a fazerem as coisas de uma forma que, pensamos, a situação merece. Eu compreendo as dificuldades que todos os países enfrentam, mas o que queremos agora é fazer mais em conjunto e é essa a oferta que estamos a colocar”, vincou o chefe do Executivo britânico, citado pelo Guardian.
“A França não deixará que o Canal [da Mancha] se transforme num cemitério”, enfatizou por sua vez o presidente francês, que solicitou uma reunião ministerial da União sobre a crise migratória e um reforço do financiamento da agência europeia Frontex.
Governo francês reúne-se de emergência
O Executivo francês reúne-se nas próximas horas para discutir a resposta à crise migratória.
Por sua vez, o ministro francês do Interior, Gérald Darmanin, frisou que “a resposta tem de vir também da Grã-Bretanha”.O ministro francês do Interior adiantou na última
noite que a embarcação naufragada era “muito frágil”, comparando-a a
“uma piscina que se enche num jardim”. Gérald Darmanin disse ainda que o
barco transportaria um total de 34 pessoas – de nacionalidades incertas
- quando se afundou. O alarme foi acionado por um pesqueiro, ao início
da tarde de quarta-feira.
Do flanco britânico, o ministro com a pasta da imigração, Tom Pursglove, insistiu na ideia de patrulhas partilhadas entre a Força de Fronteira e a polícia do Reino Unido e as estruturas homólogas francesas. Para defender que este último naufrágio deixou patente a necessidade de aprofundar a cooperação bilateral.
Natacha Bouchat, presidente da câmara de Calais, foi mais longe na troca de acusações, assacando responsabilidades ao Governo de Boris Johnson. “O Governo britânico é culpado. Acredito que Boris Johnson, no passado ano e eio, escolheu cinicamente culpar a França”, acusou Bouchat, em declarações divulgadas pela imprensa francesa.
Detenções
Foram entretanto detidos cinco presumíveis traficantes, dos quais dois foram já presentes a tribunal, segundo o Governo francês.
Reino Unido e França debatem-se atualmente com uma vaga sem precedentes de tentativas clandestinas de travessia do Canal da Mancha: só a a 11 de novembro, chegaram a Inglaterra 1185 migrantes.
Este ano foram mais de 25.700 as pessoas que tentaram cruzar a Mancha em pequenas embarcações, o que corresponde ao triplo das travessias encetadas em 2020.
c/ agências
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