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Crise diplomática adensa-se. Madrid convoca embaixador argentino em Espanha

por Cristina Sambado - RTP
Rodrigo Jimenez - EPA

O ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros anunciou esta segunda-feira que convocou o embaixador argentino em Espanha, depois de o presidente argentino, Javier Milei, ter feito comentários controversos sobre a mulher do primeiro-ministro Pedro Sánchez, que provocaram uma crise diplomática entre os dois países.

Esta manhã, o embaixador argentino foi convocado. Vou informá-lo da gravidade da situação e voltarei a exigir um pedido público de desculpas a Javier Milei", declarou José Manuel Albares à rádio Cadena Ser, no dia seguinte aos ataques do Presidente argentino, que acusou a mulher de Sánchez de ser ‘corrupta’.
No domingo, José Manuel Albares denunciou “palavras extremamente graves” e um ataque “sem precedentes na história das relações” entre Espanha e Argentina.
É inaceitável que um presidente em exercício de visita a Espanha insulte a nossa democracia” e “o nosso povo”, acrescentou, referindo-se a uma violação dos “costumes diplomáticos” e das “regras mais elementares de convivência entre países”.

Albares exigiu um “pedido de desculpas público de Milei”. “Se este pedido de desculpas não for apresentado, tomaremos todas as medidas que considerarmos adequadas”, advertiu.
O chefe da diplomacia espanhola sublinhou ainda que Javier Milei foi “acolhido de boa-fé” em Madrid e “tratado com o respeito que lhe é devido”.
No domingo, o Governo espanhol anunciou a retirada da sua embaixadora em Buenos Aires até nova ordem, acusando Javier Milei de “insultar a Espanha” e o seu primeiro-ministro socialista, durante uma visita oficial a Madrid.


"O senhor Milei, com o seu comportamento, levou as relações entre Espanha e Argentina ao momento mais grave na nossa história recente", afirmou o ministro espanhol dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, numa declaração em que anunciou que chamou a Madrid a embaixadora María Jesús Alonso, "para consultas", por um período sine die.

Para o governante espanhol, as palavras de Milei "ultrapassam qualquer tipo de diferença política e ideológica" e "não têm precedentes na história das relações internacionais e ainda menos na história das relações entre dois países e dois povos unidos por fortes laços".
"Rompe com todos os usos diplomáticos e com as mais elementares regras da convivência entre países", acrescentou Albares, que revelou ter contactado os líderes parlamentares dos partidos representados no parlamento espanhol e o alto representante da União Europeia para as Relações Externas, Josep Borrell, antes de anunciar a decisão de retirar a embaixadora de Buenos Aires.

Borrell condenou já "os ataques" de Milei, numa publicação na rede social X.
"Os ataques contra familiares dos líderes políticos não têm espaço na nossa cultura: condenamo-los e rejeitamo-los, especialmente quando vêm de parceiros", escreveu Borrell.

O chefe da diplomacia europeia defendeu que "o respeito no debate público" é um dos pilares da União Europeia, a par da "liberdade política, da prosperidade e da coesão social baseada na redistribuição fiscal".
Argentina exige a Espanha pedido de desculpas
Já o porta-voz da presidência da Argentina, Manuel Adorni, exigiu que o Governo de Espanha peça "sinceras desculpas" ao presidente argentino Javier Milei, para pôr fim a um conflito diplomático.

Trataram-no como um vilão, um negacionista, um ‘consumidor de substâncias’, um autoritário, um antidemocrático e uma pessoa ‘muito má’. Espero que em algum momento reflitam e peçam desculpas sinceramente", disse Adorni na rede social X .


Buenos Aires considera que cabe a Pedro Sánchez pedir desculpa pelo que o Governo espanhol tinha dito sobre Javier Milei.


“Não há desculpas. Não há desculpas. Pelo contrário, penso que o governo espanhol deve pedir desculpa pelo que disse sobre Milei", afirmou o ministro argentino do Interior, Guillermo Francos, ao canal de televisão TN.
O que disse Milei?
O presidente argentino foi um dos convidados do congresso Europa Viva 24, organizado pelo partido de extrema-direita espanhol Vox. Habituado a usar frases de choque, Milei atacou o “socialismo” e os partidos de esquerda, como é habitual neste discurso, mas também atacou a mulher do primeiro-ministro, Begoña Sánchez, acusando-a - sem a nomear - de ser “corrupta”.

“As elites do mundo não se apercebem de quão destrutiva pode ser a aplicação das ideias socialistas. Não sabem o tipo de sociedade e de país que pode produzir, o tipo de pessoas que se agarram ao poder e o nível de abuso que pode gerar", afirmou.

“Quando se tem uma mulher corrupta, sujamo-nos e levamos cinco dias a pensar nisso", acrescentou.

Os comentários foram vistos como uma clara referência à recente decisão de Sánchez de suspender todas as suas atividades e retirar-se durante cinco dias para pensar em demitir-se, na sequência da abertura pela justiça espanhola de uma investigação preliminar sobre “tráfico de influências” e “corrupção”.

Milei persistiu, publicando o vídeo do seu discurso nas redes sociais, acompanhado de uma curta mensagem: “enquanto alguns querem tapar o sol com as mãos (...) aqui estão as minhas palavras que tanto incomodam”
A polémica surgiu no terceiro e último dia de uma visita a Espanha de Javier Milei, que não se encontrou nem com o rei Felipe VI nem com Pedro Sánchez, que apoiou o seu rival Sergio Massa nas eleições presidenciais argentinas.
O acontecimento surge apenas duas semanas depois de uma primeira polémica diplomática, desta vez provocada pelo ministro espanhol dos Transportes, que sugeriu - depois de ter visto Javier Milei na televisão - que o presidente argentino estava a tomar drogas.

A Presidência argentina reagiu acusando Pedro Sánchez de “pôr em perigo a classe média com as suas políticas socialistas que só trazem pobreza e morte”. Madrid, por sua vez, considerou esta crítica “infundada”.

No final, o diferendo foi considerado “encerrado” pela Presidência argentina e pelo próprio Óscar Puente, que admitiu ter cometido um “erro” e não ter tido consciência das repercussões das suas declarações.

c/ agências
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