Nos últimos dias Portugal tem sido devastado pelos incêndios, principalmente na zona norte e centro do país. Já na Europa Central vários países têm sido atingidos pelas inundações na sequência da tempestade Boris. António Guterres afirmou não ter dúvidas de que os incêndios estão diretamente relacionados com o agravamento da crise climática. Também o comissário de gestão de crises da União Europeia considerou que os fenómenos que assolam o continente são prova do aceleramento das alterações climáticas.
Com este cenário e sem tréguas por parte das chamas, o Governo português declarou estado de calamidade em todos os municípios afetados e alargou até quinta-feira a situação de alerta, considerando as previsões meteorológicas.
Ao mesmo tempo, no outro lado da Europa, a tempestade Boris trouxe ventos violentos e chuvas excecionalmente fortes, desde a semana passada, a grande parte da Áustria, República Checa, Hungria, Polónia, Roménia e Eslováquia, provocando pelo menos 22 mortos. Nesse sentido, a presidente da Comissão Europeia desloca-se quinta-feira a Wroclaw, no oeste da Polónia, para se encontrar com dirigentes dos países atingidos pelas inundações.
O governo polaco informou estar prevista uma reunião para Worclaw, cidade ameaçada pelas inundações, tendo uma porta-voz de Bruxelas acrescentado que a “convite do primeiro-ministro Tusk, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, visitará a zona de risco de Wroclaw”. Donald Tusk confirmou a necessidade de redobrar esforços para evitar o pior na cidade, uma vez que o rio Order ainda não atingiu o pico de capacidade.
Em Estrasburgo, o comissário de gestão de crises da UE disse que as inundações na Europa Central, juntamente com os incêndios florestais mortais desta semana em Portugal, eram uma prova conjunta da crise climática.
“Não se enganem. Esta tragédia não é uma anomalia. Isto está rapidamente a tornar-se a norma para o nosso futuro conjunto”, disse Janez Lenarčič aos eurodeputados, esta quarta-feira. “A Europa é o continente que aquece mais rapidamente a nível global e é particularmente vulnerável a eventos climáticos extremos.”
Crise climática no quotidiano europeu
Além do custo humano, os Estados-membros também têm tentado enfrentar os aumentos de gastos na recuperação de desastres.
“O custo médio de desastres na década de 1980 foi de 8 mil milhões de euros. Mais recentemente, em 2021 e em 2022, os danos ultrapassaram os 50 mil milhões por ano, por isso o custo da inação é muito maior do que o custo da ação”, disse ainda o comissário.
A questão da crise climática é, contudo, controversa entre Estados-membros, em que muitos se opõem à aplicação de medidas dispendiosas. Mas, diz Lenarčič, as pessoas só precisam de acompanhar as notícias para entender a urgência da questão.
“Enfrentamos uma Europa que está simultaneamente inundada e queimada”, lamentou. “Estes eventos climáticos extremos agora são quase anuais”.
The reality of climate breakdown has moved into our everyday lives.
— Janez Lenarčič (@JanezLenarcic) September 18, 2024
We are facing Europe simultaneously flooding and burning.
This is fast becoming the norm for our shared future.
Together we must step up our preparedness❗️
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António Guterres - que tem na questão ambiental uma das prioridades do seu mandato - frisou que a "crise climática é um fator multiplicador de todas as tragédias que assistimos".
"Tenho estado a acompanhar a situação dos fogos em Portugal com muito atenção", disse o secretário-geral das Nações Unidas numa conferência de imprensa.
"É absolutamente evidente que o agravamento dos incêndios em Portugal, o agravamento das cheias na Europa central e oriental, o agravamento das cheias na Nigéria e um conjunto de outros desastres que vemos multiplicar por toda a parte no mundo tem uma relação direta com o agravamento da crise climática. Hoje ninguém tem dúvidas a esse respeito", advogou.