Crise agrícola. Protestos em vários países da Europa

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Clemens Bilan - EPA

Um pouco por toda a Europa assiste-se a ações de protesto em grande escala contra os cortes nacionais e as políticas agrícolas europeias. Os agricultores europeus estão descontentes e revoltados e reivindicam dos Governos de vários países da União Europeia mais apoios e menos restrições.

De França à Roménia, passando por Itália, Alemanha e Grécia, mas também pela Polónia ou pela Bélgica, milhares de agricultores invadiram as ruas com tratores no último ano para protestar contra a queda de rendimentos, a burocracia administrativa, a imposição de restrições medio-ambientais e a concorrência estrangeira.

Nos últimos meses, o setor agrícola europeu tem estado a braços com um contexto particularmente difícil marcado pelo impacto das condições climáticas extremas, o impacto da inflação, o aumento do custo dos combustíveis, a gripe das aves ou ainda um afluxo de produtos ucranianos isentos de direitos aduaneiros.

Um pouco por toda a Europa a agitação do setor agrícola tem levado à mobilização das forças de segurança para acalmar os ânimos e diminuir o impacto dos protestos. Em França, perante a ameaça de uma “semana cheia de perigos” e um “cerco” por “tempo indeterminado” à cidade de Paris, anunciado pelos sindicatos agrícolas, as autoridades francesas mobilizaram 15 mil polícias para impedirem a entrada “em Paris e nas grandes cidades francesas”.
Em Itália sentem-se “traídos pela Europa”
Foto: Michele Maraviglia - EPA


Apesar de não atingir o nível dos protestos em França, na Alemanha ou na Bélgica, nas últimas semanas dezenas de agricultores italianos têm participado em manifestações improvisadas em todo o país, onde são regularmente registados comboios de tratores a bloquear estradas. Exigem ser ouvidos pelo Governo da primeira-ministra italiana Giorgia Meloni. "Estamos prontos para bloquear tudo, traídos pela Europa", lia-se num cartaz de uma manifestação perto de Melegnano, nos arredores de Milão, conta a AFP.

"A Europa está a impor-nos regras que não fazem sentido. Já não conseguimos fazer face às despesas, queremos melhorar os nossos rendimentos e que os nossos produtos sejam valorizados pelo que são", contou à agência France Presse (AFP), Luisito Naldi, um dos organizadores das manifestações no norte de Itália.

Segundo Luisito Naldi, os agricultores italianos “estão cansados” da situação difícil que atravessa o setor e vão continuar a manifestar-se “até que eles (o Governo) nos convidem para Roma”. "Estamos a protestar pelas mesmas razões que em França, na Alemanha, na Polónia e na Roménia", acrescentou.

Na Alemanha protestam "contra a loucura fiscal e burocrática"
Foto: Fabian Bimmer - Reuters

Centenas de agricultores alemães protestam há várias semanas por todo o país perante o aumento dos impostos e o corte dos subsídios agrícolas, nomeadamente a supressão de alguns privilégios fiscais importantes, incluindo o do gasóleo agrícola. Também o início do processo de adesão à União Europeia pela Ucrânia, considerada uma potência agrícola mundial, que poderá afetar a distribuição dos subsídios provenientes de Bruxelas está no centro das preocupações.

Na segunda-feira, os agricultores levaram a cabo uma marcha com centenas de tratores em Hamburgo, no norte do país, causando constrangimentos no trânsito e perturbações nos portos marítimos da região.“Contra a loucura fiscal e burocrática"os agricultores agricultores alemães invadiram cinco rotas principais em direção ao centro da cidade portuária, reividicando “uma mudança de política”.

Também esta terça-feira os agricultores espanhóis anunciaram a sua adesão ao movimento de protesto dos agricultores europeus, com uma série de “mobilizações” em todo o país prevista para as “próximas semanas”.

"O sector agrícola na Europa e em Espanha enfrenta uma frustração e um mal-estar crescentes devido às condições difíceis e à burocracia sufocante gerada pelos regulamentos europeus", explicaram Asaja, UPA e Coag, os três principais sindicatos agrícolas espanhóis, num comunicado de imprensa, sem divulgar datas para as ações de protesto.

c/ agências
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