Crimeia recusa entrada a ministros ucranianos após tomar base de Sebastopol

por Graça Andrade Ramos, RTP
A bandeira russa substituiu esta manhã a ucraniana na base de Sebastopol, na Crimeia Reuters


Horas depois de uma milícia pró-russa ter assumido o controlo da base naval de Sebastopol, afastando os guardas ucranianos, o primeiro-ministro auto-proclamado da República separatista da Crimeia garantiu que qualquer membro do governo ucraniano que pretenda entrar na península será impedido e obrigado a dar meia-volta. Kiev tinha anunciado que um vice-primeiro-ministro e o ministro interino da Defesa iam deslocar-se à Crimeia para "resolver a situação".

Um alto responsável ministerial ucraniano afirmou a meio da manhã que Vitaly Yarema e Ihor Tenyukh tinham abandonado uma reunião do gabinete em Kiev com a missão "garantir que o conflito não assuma uma natureza militar".

Terça-feira registaram-se confrontos entre forças armadas ucranianas e russas na Crimeia, com um saldo de dois mortos e vários feridos. Esta manhã, a base naval de Sebastopol foi tomada por cerca de 200 milicianos, sem disparar um único tiro.
Sebastopol em mãos russas
A força invasora retirou de Sebastopol a bandeira da Ucrânia e hasteou as bandeiras da Rússia e de Santo André, patrono das forças armadas russas. Pouco depois, uma dúzia de soldados ucranianos, desarmados e alguns à civil, abandonaram a base, onde estaciona a maior parte da Armada russa e que é garantia do domínio de Moscovo sobre a região do Mar Negro.

Os militantes pró-russos anunciaram depois ter dominado o comandante da Marinha ucraniana, Sergueiï Gaïdouk, após ter tomado o edifício do comando. "Ficou bloqueado sem poder ir para lado nenhum. Foi forçado a abandonar o local e assumimos o controlo", anunciou à imprensa Igor Eskine, representante das forças de assalto russas.

O primeiro-ministro da Crimeia, Sergueï Axionov, reagiu de imediato à notícia do envio dos altos responsáveis ucranianos à região, afirmando que seriam impedidos de entrar no território. "Eles não são bem-vindos na Crimeia. Ninguém os deixará entrar e iremos reenvia-los para donde vieram", afirmou à agência russa de notícias Interfax.
Tribunal Constitucional ratifica anexação
Axionov está em Moscovo, onde assistiu à ratificação do pedido de adesão da Crimeia à Federação Russa por parte do Governo de Vladimir Putin. O Presidente russo reconheceu segunda-feira a independência da Crimeia e terça-feira assinou o decreto de anexação.

O documento foi esta manhã ratificado pelo Tribunal Constitucional da Rússia, por unanimidade, conforme anunciou Valeri Zorkine, presidente do Tribunal.

O pedido de anexação da Crimeia à Rússia foi formalizado segunda-feira pelas autoridades em exercício da península autónoma, após um referendo domingo e o seu processo de aceitação e reconhecimento tem sido célere.Segunda-feira o Presidente da Rússia Vladimir Putin reconheceu a independência da Crimeia, terça-feira assinou a legislação de aceitação e à tarde, após um discurso violento contra as forças ocidentais perante a Assembleia Federal russa, assinou o decreto de anexação, ao lado do primeiro-ministro Axionov.

"A Crimeia será sempre parte inseparável da Rússia", disse Putin perante os principais responsáveis da Rússia. "Nos nossos corações, sempre soubemos que a Crimeia é uma parte inalienável da Rússia".

Putin recordou a importância da península, "um território estratégico que deve estar sob uma soberania estável e forte" e prometeu respeitar os direitos das populações russas, ucranianas e tártaras da Crimeia.

O Presidente russo Vladimir Putin, o primeiro-ministro da Crimeia Sergei Axionov, o Presidente do Parlamento Vladimir Konstatinov e o Presidente da Câmara de Sebastopol, unem em mãos após a assinatura em Moscovo da anexação da Crimeia à Federação Russa
Foto: Reuters
Putin ameaça Ocidente

Denunciando por um lado a natureza extremista e totalitária das novas autoridades de Kiev, o Presidente russo garantiu, por outro, que não está interessado numa Ucrânia desagregada, parecendo recusar apoio a quaisquer tentativas separatistas de outras regiões dominadas por populações pró-russas.

"Nós não queremos causar-vos dano, ofender os vossos sentimentos nacionais. Nós não queremos a divisão da Ucrânia, não precisamos disso".

Putin, contudo, não deixou de prometer amparo a essas zonas. "Milhões de russos e russófonos vivem e viverão na Ucrânia, e a Rússia irá sempre defender seus interesses pelos meios políticos, diplomáticos e legais", garantiu.

Vladimir Putin prometeu no mesmo discurso responder firmemente às sanções ocidentais decretadas pela União Europeia e pelos estados Unidos numa tentativa de fazer Moscovo recuar e que têm sido desvalorizadas e ridicularizadas na Rússia.

O Presidente russo acusa ainda os poderes ocidentais de intervirem na Ucrânia em violação do acordo de 1994, após o colapso soviético, ao "permitirem o golpe de Estado" que derrubou o Presidente eleito pró-russo Viktor Ianukovich, forçando-o a fugir.
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