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Crianças recrutadas. UE intensifica luta contra tráfico de droga e crime organizado

por Carla Quirino - RTP
Produção de cocaína apreendida. A droga estaria prestes a entrar nas redes de distribuição para a Europa e EUA Polícia Nacional do Perú via Reuters

A Comissão Europeia anunciou esta semana um plano para impulsionar a luta contra o tráfico de droga e o crime organizado. Os estupefacientes estão identificados, na União, como uma das principais ameaças à segurança, com as redes de traficantes a recrutarem crianças para as malhas do crime.

O conjunto de estratégias anunciadas pelo diretório europeu surge num momento em que os números mostram que 50 por cento de todos os homicídios na UE estão relacionados com drogas.Em causa está o crescente recurso às substâncias sintéticas produzidas em laboratórios, como o fentanil, bem como o consumo de cocaína.

Durante o ano de 2021, a UE apreendeu um número recorde de 303 toneladas de cocaína, cinco vezes mais do que há uma década. Três quartos de todas as apreensões ocorreram em três países: Países Baixos, Bélgica e Espanha.

Já em agosto de 2023 e apenas em duas semanas, registaram-se números históricos com a apreensão de oito toneladas de cocaína em Roterdão e 9,5 toneladas no porto de Algeciras, em Espanha.

“Precisamos de uma rede para combater outra rede”
As cadeias de abastecimento do tráfico de droga “levaram a uma onda de violência nas ruas de toda a Europa”, afirma Ylva Johansson, comissária europeia dos Assuntos Internos.

“A ameaça do crime organizado e do tráfico de drogas está a piorar. Não está a afetar apenas membros de gangues rivais, mas também pessoas inocentes, incluindo crianças, que se encontram no fogo cruzado. Eu disse que precisamos de uma rede para combater outra rede. Este novo plano, que irá ampliar a nossa resposta, é um passo significativo na construção dessa rede”.

Johansson também alegou que as camadas jovens estão a ser apanhadas no mercado das drogas, que se está a tornar “cada vez mais crescente e brutal”.

Sendo uma das maiores ameaças à segurança da Europa, Johansson alerta: “Os jovens estão a ser radicalizados e preparados para se tornarem assassinos. Estas redes são o equivalente aos gangues de traficantes que transformam as crianças-soldados”.

E acrescentou que “o comércio de droga orquestrado pelo crime organizado é uma das mais graves ameaças à segurança que a Europa enfrenta hoje e a situação está a agravar-se”.

A comissária reportou vários crimes associados ao tráfico, perto de Estocolmo, que envolveram um jovem de 16 anos, a morte de duas mulheres, uma na casa dos 20 e outra na casa dos 60, ao mesmo tempo que havia crianças em casa. O menor foi preso em posse de uma arma automática que já estava ligada a outro homicídio.

“Este é apenas o mais recente de uma série de assassinatos cometidos por crianças”, disse.

A criminalidade violenta e o consumo de cocaína não é o único problema, ainda segundo Johansson.

A UE afirma estar empenhada em mostrar que aprendeu “as lições da crise do fentanil nos EUA, que se pensa ter causado 100 mil mortes”. Na Letónia já foram apreendidos cinco quilos deste analgésico, que é 50 vezes mais forte do que a heroína nas ruas.

Johansson avança que o novo plano da UE estabelece 17 ações prioritárias em quatro áreas principais.

  • Criar uma nova “Aliança Europeia dos Portos para aumentar a resiliência dos portos contra a infiltração criminosa” através de digitalização e equipamentos de última geração;

  • “Desmantelar redes criminosas de alto risco” através da agilização de investigações financeiras e digitais, do mapeamento das maiores redes criminosas, do reforço da cooperação entre procuradores e juízes especializados;

  • Implementar “medidas para prevenir a criminalidade organizada”, para nomeadamente “impedir que grupos criminosos recrutem jovens e melhorar a segurança e a saúde públicas, e para limitar de forma mais eficaz o acesso aos precursores de drogas”;

  • Incentivar o trabalho com “parceiros internacionais para enfrentar a ameaça global, nomeadamente através do reforço do intercâmbio de informações, de operações conjuntas nas principais rotas do tráfico de droga”.

Desta forma, a UE tem planos para trabalhar com os países da América Latina e Central na partilha de informações e estratégias para combater as redes criminosas. A Comissão Europeia já confirmou estar a negociar acordos internacionais com Equador, Brasil, Bolívia, Peru e México para troca de dados pessoais com a Europol.
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