Cravinho reitera disponibilidade de Portugal para formação de caças F-16 às forças ucranianas
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, reiterou hoje em Kiev a disponibilidade de Portugal para fornecer formação em caças F-16 às forças ucranianas, esperando que estes aparelhos estejam disponíveis no seu máximo potencial ao longo de 2024.
Em conferência de imprensa após uma reunião com o seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, o chefe da diplomacia portuguesa reafirmou que Portugal "está disponível e está a dar o seu contributo para a formação em F-16", observando que não se trata de "mais um pedaço de equipamento" militar, mas de "um sistema de armas complexo que envolve várias modalidades".
Segundo Gomes Cravinho, Portugal mantém a sua disponibilidade "para formar pilotos e técnicos de manutenção, apoio de retaguarda em termos de manutenção, aconselhamento técnico em matéria de manutenção dos aeródromos" e em todos os elementos em que Portugal tem experiência como utilizador dos aviões de caça norte-americanos.
"Espero que sejam disponibilizados [os caças F-16] rapidamente e utilizados no máximo do seu potencial ao longo de 2024", afirmou o governante português.
Vários países aliados, incluindo Países Baixos, Dinamarca, Noruega, Bélgica e Estados Unidos, prometeram algumas dezenas de F-16 à Ucrânia no âmbito de uma coligação internacional integrada também por Portugal.
A formação de pilotos e pessoal ucraniano neste avião de combate tem decorrido nos últimos meses mas as primeiras entregas dos aparelhos não estão ainda agendadas, havendo apenas a indicação de que acontecerão durante o primeiro semestre deste ano.
Kiev tem pedido insistentemente o fornecimento de aviões de combate como forma de contrariar a superioridade aérea das forças russas desde a invasão da Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022.
Na conferência de imprensa de hoje em Kiev, João Gomes Cravinho foi também instado a comentar o possível impacto das recém-noticiadas divergências internas no executivo ucraniano nos parceiros da Ucrânia.
Em resposta, o governante português considerou-as normais em democracia, referindo ainda que não atingem o objetivo essencial de apoiar a Ucrânia face à invasão russa.
"Nós estamos muito habituados a trabalhar com países democráticos. Quando se trata de uma autocracia ou de uma ditadura, só há uma voz que conta, a voz do dono, e isso acontece por exemplo na Rússia, que terá eleições artificiais em breve", observou.
No caso da Ucrânia, o ministro português mostrou a sua convicção de que "a coragem e determinação demonstradas ao longo de dois anos continuarão", acrescentando que recebe essa "mensagem constante" dos seus interlocutores ucranianos.
"As questões dos arranjos domésticos, quem assume determinadas posições em determinado momento são questões normais em cada democracia. O fundamental é a determinação em relação aos objetivos estratégicos e sobre isso não vejo mudança nenhuma", declarou João Gomes Cravinho ao lado do seu colega ucraniano.
O governante português comentava notícias que dão conta da possível demissão do comandante das Forças Armadas, Valerii Zaluzhnyi, devido a divergências com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que admitiu na segunda-feira uma remodelação no Governo.
Zelensky reconheceu, em entrevista à estação italiana RAI, que está a refletir sobre a mudança de "uma série de líderes de Estado", após ser questionado sobre uma possível saída de Zaluzhnyi.
"Esta é uma questão relacionada com as pessoas que têm de dirigir a Ucrânia. Certamente é necessário um recomeço, um novo começo e, quando falamos sobre isso, eu quero dizer que se trata de uma substituição de uma série de dirigentes do Estado, não apenas de um setor como os militares", afirmou.
Em declarações hoje aos jornalistas após a reunião com Gomes Cravinho, Dmytro Kuleba também rejeitou que as divergências dentro do executivo ucraniano possam influenciar os aliados internacionais.
"Não creio que quaisquer mudanças no Governo possam influenciar as nossas relações com os nossos parceiros, porque os nossos parceiros respeitam a autoridade do Presidente", disse o chefe da diplomacia ucraniana, destacando que se trata de "um direito soberano, constitucionalmente garantido" de Volodymyr Zelensky.
Ao fim de quase dois anos desde o início da invasão russa, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano manifestou hoje igualmente a sua intenção de permanecer no cargo.
Os chefes da diplomacia de Kiev e de Lisboa encontraram-se hoje de manhã na capital ucraniana, no segundo e último dia da visita à Ucrânia de João Gomes Cravinho e do ministro da Educação, João Costa.