Covid persistente. OMS já tem designação oficial para sequelas

por Andreia Martins - RTP
Penny Parkin, uma doente de 69 anos na Pensilvânia, Estados Unidos, teve Covid-19 em março de 2020. Um ano depois, em março de 2021, continuava a ser acompanhada devido aos efeitos da "Covid persistente". Hannah Beier - Reuters

Desde o início da pandemia, muitos são os doentes que reportam sintomas meses após a cura. A definição oficial para os casos de "Covid persistente" não inclui uma lista concreta de sintomas, mas este passo será essencial para a concessão de baixas médicas, destacam os investigadores.

De acordo com o jornal El País, o consenso para descrever a “Covid persistente” foi alcançado por um grupo de investigadores espanhóis, com a participação de doentes, médicos, investigadores de outros países, bem como um painel da Organização Mundial da Saúde.

Para os peritos, não se trata apenas de um nome. Por um lado, os doentes afetados têm um nome específico para a sua condição e podem pedir baixas médicas. Por outro, os médicos e cientistas poderão acelerar diagnósticos e aprofundar de forma mais organizada os estudos sobre estes casos.

Alguns dos sintomas mais comumente relatados de “Covid persistente” são a anosmia (perda permanente do olfato), dores musculares, fadiga e problemas cognitivos. Até aqui, esta condição tinha recebido várias designações, desde “Covid de longa duração”, “Covid longa” ou “PACS”, acrónimo de Síndrome Pós-Covid, em inglês. Em Espanha, a designação “Covid persistente” acabou por se impor, mas faltava uma definição para esta nova condição clínica.

A partir de agora, a descrição oficial estabelece que a “Covid persistente” é a condição clínica de indivíduos com histórico de infeção por SARS-CoV-2, provável ou confirmada, geralmente três meses após o início da mesma, com sintomas que duram pelo menos por dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo.

O grupo de investigadores que chegou à primeira definição médica de “Covid persistente” foi liderado por Joan Soriano, médico epidemiologista do Serviço de Pneumologia do Hospital Universitário de la Princesa de Madrid. Este painel foi apoiado pela Organização Mundial de Saúde e os resultados do trabalho desenvolvido foram publicados na revista científica The Lancet Infectious Diseases.

“A definição não inclui uma lista de sequelas porque já registámos mais de 200 sintomas diferentes”, explica Joan Soriano ao diário espanhol El País, que explica que não teria sido fácil decidir quais incluir e quais deixar de fora. Por outro lado, também não se pode excluir a possibilidade de surgirem novos sintomas.

Na definição, menciona-se no entanto que os sintomas mais comuns incluem fadiga, falta de ar e disfunção cognitiva. A designação prevê ainda que estes sintomas possam persistir deste a doença inicial ou mesmo surgir posteriormente, após uma recuperação inicial de um episódio grave de Covid.

Joan Soriano destaca também que a questão de uma definição e designação oficial não é trivial. “É importante para a cobertura de seguros ou licenças médicas”, afirma ao El País. De igual forma, será também importante para promover a análise estatística da mesma e perceber com maior precisão qual a percentagem de doentes com histórico de infeção ainda apresentam sequelas.
Dificuldades de definição e diagnóstico
Com efeito, apesar da definição, muito fica por resolver e esclarecer até porque na maioria destes casos não existe qualquer rasto reconhecido da doença inicial ou método de diagnóstico.

“Até ao dia de hoje, não sabemos a causa [da Covid persistente] nem existe um teste diagnóstico que identifique quem tem Covid persistente e quem não tem”, reconhece Pilar Rodríguez-Ledo, vice-presidente e responsável pela investigação na Sociedade Espanhola de Médicos Gerais e de Família.

Este aspeto particular tem dificultado a definição da condição e o próprio diagnóstico por parte dos médicos. Para colmatar estas dificuldades na definição da doença, a Organização Mundial de Saúde recorreu ao método Delphi, ou seja, a procura de uma definição de consenso ao longo de uma série de rondas até se chegar a uma descrição médica que agradasse a todos.

Neste processo de definição da “Covid persistente” - que não inclui casos de Covid persistente em crianças, existentes mas muito mais raros - participaram 265 pessoas, entre pacientes, médicos, investigadores e uma equipa técnica da OMS.

Por ser uma condição ainda desconhecida e pouco aprofundada, os doentes com "Covid persistente" enfrentam dificuldades no reconhecimento e compreensão do seu novo normal, nomeadamente ao nível da duração da mesma. Muitos pacientes têm relatado a permanência constante das sequelas desde o período de infeção, tornando esta condição numa espécie de doença crónica.

Penny Parkin, uma doente de 69 anos na Pensilvânia, Estados Unidos, teve Covid-19 em março de 2020. Um ano depois, em março de 2021, continuava a ser acompanhada devido aos efeitos da "Covid persistente", nomeadamente fadiga extrema. "É como ser atingida por um camião", relatava na altura à agência Reuters.
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