Em Espanha, a chamada nova normalidade está a ser marcada pelo uso de máscaras e por cuidados acrescidos, mas também pelo aparecimento de novos focos de infeção. Apesar de estarem todos sob controlo pelas autoridades de saúde, os mais de 50 surtos localizados continuam a preocupar o país, que se encontra na última fase de desconfinamento.
Este aumento aconteceu a partir de 20 de junho, o último dia antes de todo o país entrar na última fase de desconfinamento, que voltou a permitir todas as viagens, apesar de se manterem restrições a nível da ocupação de espaços fechados, como lojas e restaurantes, e abertos, como praias.
Os últimos focos de infeção detetados pelas autoridades de saúde espanholas localizam-se nos municípios de Tarazona de la Mancha, onde quatro pessoas da mesma família foram isoladas, e no município de Castellón de la Plana, onde 16 membros de uma família se reuniram para celebrar o São João, encontrando-se agora em quarentena.
Existem surtos em praticamente todas as comunidades espanholas, segundo o El Pais. Apenas as Astúrias, que se declararam a primeira comunidade livre do novo coronavírus, não registam qualquer caso há 15 dias.
“Números não são preocupantes em valores absolutos”
Oficialmente, um surto localizado acontece quando se registam três casos relacionados em qualquer lugar, ou apenas um caso num lar de idosos. No entanto, a palavra é utilizada com cautela por algumas comunidades. Cantábria, por exemplo, recusa-se a classificar de surto o aparecimento do novo coronavírus num edifício da cidade de Santander que obrigou ao isolamento de 13 pessoas.
Também a própria capital Madrid não tem dado conta de surtos localizados, apesar de ser a comunidade que mais casos registou durante a pandemia (quase 72 mil, um terço do total) e a segunda que mais infeções detetou na última semana (165).
“Efetivamente, este aumento de casos deve-se aos surtos”, declarou uma porta-voz do Ministério espanhol da Saúde, citada pelo El Pais. “Em valores absolutos, os números não são preocupantes, mas digamos que temos de estar cientes destas situações. É necessário estudar esta tendência”.
A responsável acrescentou que “está a ser realizada muita triagem entre utentes de lares de idosos, profissionais de saúde e contactos de casos diagnosticados, mesmo em pessoas sem sintomas”.
Entre 19 e 25 de julho, Espanha realizou 179 mil testes á Covid-19, o que significa 94 testes por cada caso de infeção registado. Nos sete dias anteriores, tinham sido testadas 84 pessoas por cada paciente infetado.
Apelo à “atitude preventiva”
Apesar de fotografias de praias cheias e de festas em espaços fechados estarem a ser associadas ao aparecimento de novos focos, a maioria deles está na verdade relacionado com reuniões familiares ou com condições de trabalho. Um dos focos mais graves, com mais 100 pessoas infetadas, teve origem num centro de acolhimento da Cruz Vermelha, à semelhança de outros surtos em hospitais.
Apesar de serem razão de alerta, os 1978 novos casos da última semana representam apenas uma quinta parte dos que se chegaram a diagnosticar num único dia no início de maio em Espanha. Por esse motivo, os especialistas dão-lhes uma importância relativa.
“Isto não tem necessariamente de significar um problema. Este aumento de casos permite constatar que a epidemia persiste, mas também que a Saúde Pública os deteta. Continuamos numa pandemia que em nenhum momento desapareceu, e é muito provável que vejamos casos agrupados”, considerou o epidemiologista Federico Arribas ao El Pais.
Outros especialistas argumentam que o aparecimento destes surtos deve originar uma reflexão sobre os hábitos individuais que a população está a seguir no desconfinamento. “É necessário que as autoridades de saúde reforcem as indicações a todos os atores: governos locais, empresas e população em geral, para que mantenham uma atitude preventiva”, defendeu Ildefonso Hernández, da Sociedade Espanhola de Saúde Pública e Administração Sanitária.
Desde que surgiu pela primeira vez em Espanha, o novo coronavírus já infetou mais de 267 mil pessoas, das quais 150 mil recuperaram da doença. Há, até ao momento, um total de 28355 vítimas mortais nesse país.