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Covid-19. Sistema de saúde do Japão à beira do colapso à medida que casos aumentam

por RTP
Os profissionais de saúde no Japão queixam-se da falta de capacidade para atender todos os pacientes e da ausência de equipamentos de proteção. Foto: Kim Kyung Hoon - Reuters

No Japão, onde inicialmente a pandemia de Covid-19 parecia estar controlada, os casos de infeção continuam agora a aumentar, superando os dez mil. São mais de duas centenas as vítimas mortais nesse país e os profissionais de saúde alertam para o eventual colapso do sistema de saúde.

Duas associações médicas japonesas avançaram, de acordo com a BBC, que o surto do novo coronavírus tem levado a uma redução da capacidade dos hospitais de todo o país. “Já conseguimos sentir o colapso do sistema de emergência médica”, alertaram.

Alguns médicos de hospitais privados em Tóquio, a cidade mais afetada, estão a ajudar a testar casos suspeitos de Covid-19 de modo a aliviar a pressão sentida pelo sistema de saúde. “Fazemo-lo para impedir a quebra do sistema”, disse à agência Reuters um dos profissionais. “Sem ajuda, os hospitais podem colapsar”.

Em alguns casos, os doentes estão a ser recusados pelas unidades hospitalares. A BBC refere uma situação em que um paciente com sintomas de Covid-19 foi recusado por 80 hospitais antes de ser finalmente observado. O Japão foi o segundo país do mundo a registar casos de Covid-19, em janeiro deste ano, e o risco de colapso do sistema de saúde surge numa altura em que o número de infetados está relativamente baixo em comparação com outros países.

Os profissionais de saúde queixam-se ainda de falta de equipamento de proteção. Na cidade japonesa de Osaka, o presidente da Câmara pediu aos habitantes que doassem capas para a chuva a estes profissionais, para que possam servir de equipamento de proteção numa altura em que os mesmos estão a ser forçados a transformar sacos do lixo em batas protetoras.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, tem sido criticado por não introduzir mais cedo restrições para lidar com a pandemia, receando que tal pudesse prejudicar a economia. Apenas na última quinta-feira o líder decidiu alargar a todo o país o estado de emergência que tinha sido imposto a 8 de abril.

Este alargamento permite que os governos regionais possam ordenar o confinamento domiciliário, ainda que sem medidas punitivas ou uso de força legal em caso de desrespeito das ordens. O estado de emergência vai prolongar-se até 6 de maio.
Testes começam a aumentar após críticas
Os especialistas criticam ainda o facto de, nas últimas semanas, o Japão ter realizado poucos testes de despiste à Covid-19, o que poderá estar relacionado com a dificuldade em avaliar a velocidade de crescimento da doença no país.

Segundo dados da Universidade de Oxford, no mês passado o Japão realizou apenas 16 por cento do número de testes levados a cabo na Coreia do Sul, onde os números de infetados e de mortes são muito semelhantes aos japoneses. A única diferença entre os números dos dois países está nos recuperados: cerca de 1.600 no Japão, em contraste com quase oito mil na Coreia do Sul.

Inicialmente, o Governo japonês disse mesmo ser um “desperdício de recursos” a realização de testes em larga escala. Agora, o executivo está a tentar aumentar o número de testes efetuados, tendo o primeiro-ministro anunciado na sexta-feira uma mudança na estratégia a nível nacional.

“Com a ajuda de associações médicas regionais, vamos criar novos centros de testagem”, anunciou sexta-feira Shinzo Abe, numa altura em que foram também já criados locais de testagem em modo drive-through em várias regiões japonesas.

“Se os médicos que realizarem consultas ao domicílio decidirem que é necessário testar esses pacientes, as amostras biológicas serão transportadas até aos centros de testagem e enviadas a empresas privadas de inspeção”, explicou. “Assim, será aliviado o fardo dos centros de saúde pública”.

O Japão já registou 10.561 casos de infeção, dos quais 1.657 são recuperados. O país possui agora 220 vítimas mortais.
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