Covid-19. Quarentena provoca redução drástica da poluição na Índia

por Andreia Martins - RTP
Rupak De Chowdhuri - Reuters

O Governo indiano impôs na semana passada três semanas de confinamento obrigatório num país com mais de 1,3 mil milhões de habitantes. No entanto, uma semana depois, os efeitos sentem-se noutro campo de grande relevância para a saúde e bem-estar da população daquele subcontinente indiano: os níveis de poluição caíram drasticamente.

A Índia é um dos países do mundo onde mais se sentem os efeitos nefastos da poluição atmosférica. Em 2019, 21 das 30 cidades mais poluídas do mundo eram indianas e em novembro último foi declarada emergência de saúde pública devido aos perigosos níveis de poluição em Nova Deli.

Agora, as medidas impostas no país para fazer face ao novo coronavírus parecem ter resultado na resolução, ainda que temporária, de um problema premente da poluição na Índia. Na semana passada, perante a ameaça da Covid-19, o Governo indiano decretou quarentena de três semanas em todo o país para travar a propagação do vírus.

Dias depois, o primeiro-ministro pediu desculpa aos indianos por uma medida “muito dura, mas necessária”, que está afetar sobretudo os mais pobres. As ruas encheram-se de pessoas, migrantes que nos últimos dias que procuram regressar às aldeias para garantir alimentação durante os dias de quarentena.

As dificuldades do confinamento obrigatório são mais que percetíveis num dos países mais populosos do mundo. As autoridades estão a usar paus e bastões para impedir a circulação de pessoas e os relatos contam que, mesmo a população que tenta sair à rua para comprar alimentos, é agredida pela polícia. Nesta altura, a Índia regista um total de 1.397 casos do novo coronavírus e 35 vítimas mortais.

No entanto, perante todas as dificuldades e problemas de manter em casa um país de 1,3 mil milhões de habitantes, a resposta ao Covid-19 parece estar a ter efeitos colaterais nos níveis de poluição no país, tal como aconteceu na China e na Europa.

Com todas as fábricas, lojas e locais de culto encerrados, e ainda com a suspensão dos transportes públicos e dos trabalhos de construção, as principais cidades indianas registaram quedas acentuadas e sem precedentes na poluição em menos de uma semana.

Destaque para a queda abrupta nos níveis de partículas PM2.5: entre 20 e 27 de março, houve uma diminuição de 71 por cento nestas partículas altamente prejudiciais à saúde humana em Nova Deli, de 91 microgramas de partículas por metro cúbico para apenas 26 microgramas. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o máximo considerado saudável deve ser de 25 microgramas.

Também o dióxido de azoto caiu 71 por cento na capital indiana, de 52 por metro cúbico para 15 partículas durante o mesmo período. Níveis semelhantes de diminuição da poluição foram registados noutras cidades como Mumbai, Chennai, Calcutá e Bangalore.

“Não vejo um céu tão azul em Deli há dez anos”, disse Jyoti Pande Lavakare, responsável de uma organização ambientalista indiana, a Care for Aid, em declarações à CNN.
Problemas respiratórios são fator de risco

Mesmo antes de se ter iniciado o período de confinamento obrigatório na Índia, os níveis de poluição já estavam em queda desde o início de março. Nas cidades de Mumbai, Pune e Ahmedabad, os níveis médios de dióxido de azoto caíram entre 40 a 50 por cento por comparação aos anos de 2018 e 2019.

“A redução nas emissões de combustíveis fósseis deve-se ao setor dos transportes e à desaceleração noutras atividades”, explicou Gufran Beig, cientista do System of Air Quality and Weather Forecasting and Research (SAFAR).

“Obviamente que esta não é a maneira ideal de reduzir a poluição do ar, mas isto só prova que esta poluição é causada pelo homem”, disse Jyoti Pande Lavakare, da organização Care for Aid.

No entanto, apesar da diminuição abrupta destes poluentes, o mal pode já estar feito. Isto porque a Índia poderá ter uma população potencialmente mais vulnerável à pandemia do novo coronavírus devido aos problemas respiratórios que são provocados precisamente pela poluição.

O país tem uma das maiores taxas mundiais de doenças respiratórias no mundo, antecedentes que podem potenciar mais complicações em caso de infeção por coronavírus.

“Existem muitos casos de doenças respiratórias, mesmo em crianças pequenas”, explica Kavakare à CNN.

A nível global, a poluição é responsável pela morte de sete milhões de pessoas por ano, de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde.
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