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Covid-19: Quantos dias de isolamento são suficientes em caso de infeção?

por Inês Moreira Santos - RTP
Dylan Martinez - Reuters

Desde o início do surto do novo coronavírus que surgem dúvidas quanto ao tempo necessário de isolamento das pessoas infetadas ou com suspeita de infeção. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um período de 14 dias, mas países como o Reino Unido, por exemplo, consideram suficiente apenas sete dias.

Ainda antes de serem confirmados os primeiros casos de Covid-19 em Portugal, a Direção-Geral de Saúde já tinha definido planos estratégicos de Saúde Pública, com vista a evitar a propagação deste novo vírus no país. Seguindo as orientações da OMS, as autoridades de saúde portuguesas recomendam que as pessoas infetadas, com suspeita de infeção ou que tenham estado em contacto com doentes de Covid-19 fiquem em isolamento profilático durante 14 dias.

No entanto, embora as orientações da OMS sejam claras, nem todos os países se regem por estas. No Reino Unido, tanto pessoas infetadas como com suspeita de infeção pelo novo coronavírus, são recomendadas a ficar em isolamento apenas sete dias.

Segundo as recomendações do governo britânico, se uma pessoa apresentar sintomas - por mais leves que sejam - e viver sozinha, as autoridades de saúde aconselham que "fique em casa por sete dias a partir do início dos sintomas".

Depois desses primeiros sete dias, se já não tiver febre "não precisa de continuar em auto-isolamento". Caso ainda tenha, as recomendações são para ficar "em casa até que a temperatura normalize".

"Não é necessário estar em isolamento se tiver apenas tosse após sete dias, uma vez que a tosse pode durar várias semanas após a infeção ter desaparecido", lê-se nas orientações do governo britânico.
Ao fim de sete dias não há risco de contágio?
Embora as autoridades de saúde do Reino Unido esclareçam que o período de incubação do vírus, e o risco de contágio, é de 14 dias, não seguem as orientações da OMS no que respeita ao período necessário de isolamento social.

Charlotte Houldcroft, virologista na Universidade de Cambridge, esclareceu ao Guardian que, segundo alguns estudos recentes, "depois de sete dias as pessoas não são mais infecciosas para as outras à sua volta", mesmo que ainda testem positivo à Covid-19.

Há já evidências que provam que uma pessoa que tenha sido infetada "continua a ter uma pequena quantidade do material genético do vírus presente no nariz e na garganta, mas já não é infecciosa". Isto é, segundo a investigadora, no rescaldo da doença ainda é detetado no organismo material genético do novo coronavírus, mas a pessoa já não é uma fonte de contágio.

Na realidade, "encontrar o material genético do vírus no nariz ou na garganta de uma pessoa não quer dizer que seja infeccioso", acrescentou.

Um estudo alemão sugere que "após sete dias do início dos sintomas, ainda é possível encontrar fragmentos do vírus no nariz e na garganta das pessoas, mas já não é possível cultivar o vírus a partir dessas amostras".

Ou seja, de acordo com estes dados, ao fim dos primeiros sete dias as pessoas infetadas já não são infecciosas nem representam um risco para as outras, mesmo que os testes à Covid-19 ainda dêem positivo.

"Com o passar do tempo, aquilo a que chamamos de carga viral ou a quantidade de vírus no nariz e na garganta vai diminuindo", o que revela que, no rescaldo da doença, "grande parte do vírus que está ainda a ser reproduzido já não é capaz de infetar um novo hospedeiro".

Embora as recomendações sejam de evitar o contacto com outras pessoas caso apresente sintomas como tosse ou espirros, a investigadora relativiza frisando que, "no período pré-sintomático de até 48 horas antes de uma pessoa começar sentir-se doente, é quando a carga viral é bastante alta". É ainda antes de apresentar sintomas que, segundo a virologista britânica, a pessoa "expele mais vírus do nariz e da garganta" sendo mais provável "que seja capaz de infetar outras pessoas".

Quanto à questão das diferentes orientações relativamente aos dias de isolamento, Houldcroft lembra que existem variações nas orientações das autoridades de saúde em muitos países, e não apenas no Reino Unido.

Uns dizem "dizem 14 dias, outros apenas dois dias depois de deixar de ter sintomas".

Mas "podemos errar por precaução", argumenta, acrescentando que se for por preocupação com o risco de transmissão às pessoas mais próximas, pode-se prolongar o isolamento até que a pessoa deixe de se "sentir mal para voltar a ter contacto" com os outros.

Para Charlotte Houldcroft, as recomendações de isolamento por um período de sete dias, por parte do Governo do Reino Unido, "parecem lógicas e coincidem com alguns dados epidemiológicos", conhecidos até ao momento, que sugerem que há maior probabilidade de transmissão do novo coronavírus "no início da doença e imediatamente antes de apresentar sintomas".

"Mas, obviamente, acho que, se houvesse novos dados a provarem que as pessoas eram infecciosas por um período mais longo, então acredito que as orientações do Reino Unido mudariam".
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