Covid-19. OMS põe em dúvida números das autoridades chinesas

por Carla Quirino - RTP
"Na China, o que foi relatado é um número relativamente baixo de casos em UCI, mas curiosamente as UCI estão lotadas", afirmou Mike Ryan, diretor de emergências da OMS Wu Hao - Reuters

A Organização Mundial da Saúde afirma que as unidades de cuidados intensivos da China parecem estar lotadas com novos casos de covid-19, ao passo que as autoridades chinesas falam em números "relativamente baixos". Desconhece-se um registo oficial de mortes. Contudo, há relatos de dezenas de carros funerários num crematório em Pequim.

Os números oficiais da China referentes ao novo surto de covid-19 que alastra no país deixaram de ser confiáveis, considera a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar de as infeções terem aparentemente disparado, os números oficiais mostram que apenas cinco pessoas morreram da doença causada pelo SARS-CoV-2 na terça-feira; outras duas terão morrido no início da semana.

"Na China, o que foi relatado é um número relativamente baixo de casos em UCI, mas curiosamente as UCI estão lotadas", afirmou Mike Ryan, diretor de emergências da OMS. "Eu não gostaria de dizer que a China não está a contar-nos o que está a acontecer. Acho que eles estão atrasados nos registos".

Perante este desfasamento, a OMS acrescenta que está disponível para trabalhar com a China para melhorar a recolha de dados sobre os internamentos e mortes até porque há evidências reais de um aumento de mortes.

De acordo com testemunhos citados pela Reuters, pelo menos quatro dezenas de carros funerários foram vistos junto a um crematório no distrito de Tongzhou, em Pequim, nas últimas 24 horas. Os relatos falam em 20 urnas, cinco fornalhas acesas, famílias e funcionários do crematório vestindo as roupas de proteção para proceder ao ritual.

O número crescente de mortes é também atestado por funcionários de diferentes funerárias. Ouvidos pela agência, indicaram “que houve um aumento de residentes que procuraram cremar familiares falecidos no fim de semana, provocando atrasos”.


Segundo o jornal britânico The Guardian, não foi possível ainda confirmar se as mortes estariam associadas à covid-19.

O Shanghai Deji Hospital estimou que metade dos 25 milhões de habitantes da cidade seriam infetados até o final do ano.

“Nesta trágica batalha, toda a grande Xangai cairá e infetaremos todos os funcionários do hospital”, apontou uma atualização da conta oficial da unidade de saúde no WeChat, na noite de quarta-feira. “Vamos contagiar toda a família. Os nossos pacientes serão todos infetados. Não temos escolha e não podemos escapar”, acrescentou.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, mostrou-se preocupado “com a evolução da situação na China, com os relatos crescentes de doenças graves”, mas diz precisar de informações mais detalhadas sobre a gravidade da doença, internamentos hospitalares e requisitos para unidades de terapia intensiva para fazer “uma avaliação abrangente”.
Falha do processo de vacinação
Mike Ryan acredita que o aumento de casos na China não se deve exclusivamente ao desmantelamento de políticas restritivas. Relembra que o atraso no processo de vacinação e a falta de eficácia das vacinas fabricadas na China tem impacto no crescimento de infeções.

Ryan observou que, nas últimas semanas, houve um aumento nas taxas de vacinação na China, mas “isso não é a proteção adequada numa população tão grande quanto a China, com tantas pessoas vulneráveis”.

Embora o país tenha nove vacinas nacionais aprovadas, as respetivas composições não foram atualizadas para proteger a população da variante Ómicron, altamente infeciosa.

"Temos dito há semanas que esse vírus é altamente infecioso e será muito difícil pará-lo completamente, apenas com saúde pública e medidas sociais", advertiu Ryan. "A vacinação é a estratégia de saída da Ómicron",  mas as vacinas usadas na China ainda não se baseiam na tecnologia de mRNA.

Enquanto o surto avança por entre uma população de 1,4 mil milhões de pessoas, o Governo alemão anunciou na quarta-feira que tinha enviado o primeiro lote de vacinas BioNTech covid-19 para a China, abrindo o precedente para medicamentos estrangeiros.

Esta primeira entrega de 20 mil doses decorre da visita a Pequim do chanceler Olaf Scholz, que pressionou a disponibilização gratuita aos cidadãos chineses.
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