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Covid-19. Espanha é o país europeu com mais mortes em lares de idosos

por RTP
Lucas Jackson - Reuters

Cerca de 72 por cento das mortes por Covid-19 em Espanha foram registadas em casas de repouso e lares de idosos. A escassez de profissionais de saúde e a dificuldade em transferir estes doentes para os hospitais foram os principais problemas do país durante a pandemia.

Espanha é um dos países, tanto na Europa como no mundo, mais afetados pela pandemia da Covid-19, contabilizando já mais de 246 mil infetados e mais de 28 mil mortos. A maioria das vítimas mortais eram pessoas acima dos 65 anos e estavam aos cuidados de residências de terceira idade.

Quase 19.500 pessoas que viviam em lares de idosos em Espanha morreram, desde março, devido à infeção pelo novo coronavírus. Isto é, cerca de 72 por cento do número total de mortes no país ocorreu nestes estabelecimentos de saúde, avança o jornal espanhol La Vanguardia.

Só na região de Madrid, a capital espanhola, 18 por cento dos óbitos registados eram idosos institucionalizados. A segunda região mais afetada, a Catalunha, registou oito por cento, segundo o Ministério dos Assuntos Sociais.

De facto, a nível europeu, não há nenhum país com uma taxa de letalidade tão elevada nestas instituições como Espanha. Mesmo no Reino Unido, país mais afetado da Europa, só 16 por cento das mortes registadas ocorreram em estabelecimentos semelhantes.

Um relatório do Instituto Superior de Saúde da Itália compara os resultados nos dois países e destaca os principais problemas de ambos, no combate à pandemia: a falta de profissionais de saúde, falta de material de proteção individual, falta de infraestruturas e dificuldades na transferência de pacientes das residências para os hospitais.

A verdade é que no final do mês de maio, um relatório da Rede Nacional de Vigilância Epidemiológica indicava que apenas 44 por cento (menos de metade) dos infetados pelo Sars-Cov-2, com mais de 80 anos, deu entrada nos hospitais, em Espanha. Segundo o mesmo documento, a faixa etária com mais mortes registadas era exatamente a das pessoas com mais de 80 anos, representando 21 por cento dos óbitos totais por Covid-19.
Plano da região de Madrid falhou no cuidado aos idosos
O Ministério Público está, atualmente, a investigar quatro centros hospitalares na comunidade de Madrid, para esclarecer que critérios foram usados para decidir quem era internado e nas unidades de cuidados intensivos.

Até aos primeiros dias de junho, foram contalibizadas cerca de seis mil mortes nas 700 instituições para idosos na região de Madrid. Mas desde o início do surto em Espanha houve diversas denúncias relativas ao tratamento das pessoas institucionalizadas nestes estabelecimentos, principalmente após os militares terem encontrado várias pessoas mortas em lares e com os restantes utentes junto dos cadáveres.

A 26 de março, Isabel Díaz Ayuso, a presidente da comunidade de Madrid, lançou um plano de emergência para salvaguardar os residentes dos lares de idosos. No entanto, esta foi a região que mais casos de infeção e óbitos registou em estabelecimentos de saúde para a terceira idade.

Encarnación Burgueño foi escolhida por Ayuso para ficar na vanguarda da resposta do Ministério da Saúde, o que consistia na assistência médica dentro das próprias instituições, em vez de transferir as pessoas para os hospitais.

Mas, de acordo com o El País, a empresa Burgueño, a Cardio Líder, não tinha médicos, ambulâncias ou alguém com conhecimentos de gestão em saúde. Encarnación Burgueño é filha do ex-diretor geral de hospitais comunitários, Antonio Burgueño, a quem Díaz Ayuso encarregou de coordenar o setor da saúde durante a pandemia.

O plano da assistência médica nos lares de idosos durou apenas 12 dias, tendo fracassado - nesse período registaram-se cerca de três mil mortes em instituições de terceira idade na capital espanhola.

Encarnación Burgueño dirigiu todo o plano desde casa, sem nunca ter visitado alguma desta instituições, denuncia o jornal. Através de contactos eletrónicos, contratou uma empresa privada de ambulâncias, com a aprovação do Ministério da Saúde, e apenas quatro veículos médicos desta empresa visitaram quase 200 das 475 residências em Madrid durante duas semanas. Estas quatro ambulâncias foram a única assistência médica que todos os idosos institucionalizados em Madrid tiveram durante 12 dias.

Segundo o mesmo jornal, no final de março os cuidados intensivos dos hospitais da região estavam a entrar em colapso e não conseguiam dar resposta. Por isso, e de acordo com um chefe de uma dessa unidades hospitalares, os médicos foram obrigados a rejeitar pessoas mais velhas que estivessem infetadas, dando prioridade aos mais novos no tratamento.

Embora o hospital de Madrid negue ter rejeitado qualquer doente infetado pela idade avançada, mais de 400 famílias juntaram-se e denunciaram o caso, alegando que os seus familiares morreram nos lares e nunca foram levados para um hospital.

A presidente da comunidade de Madrid enfrenta, agora, uma acusação no Supremo Tribunal Federal por negar o direito a assistência médica aos idosos.
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