Um estudo a mais de 2100 mulheres grávidas, internadas entre março e outubro de 2020 em 43 centros médicos de 18 países, da Rússia ao Brasil e à Índia, comprovou em larga escala o impacto negativo da Covid-19 na gravidez.
Mulheres grávidas infetadas com o SARS-CoV-2 correm efetivamente maiores riscos de doenças graves, de mortalidade e de parto prematuro, do que as que não contraíram a Covid-19 concluiu a investigação conduzida por Aris Papageorghiou, especialista em medicina fetal na Universidade de Oxford.
Para o investigador é vital que as grávidas sejam incluídas nos grupos prioritários de vacinação de forma a evitar os casos graves. “Pensamos que a gravidez por si só coloca as mulheres num grupo de risco suficientemente elevado”, referiu.As conclusões deste novo estudo confirmam conclusões genéricas anteriores, incluindo o estudo dos registos médicos de mais de 400 mil grávidas nos Estados Unidos, 6.400 das quais com Covid-19, apontou o orientador.
Até agora, os estudos da relação entre a Covid-19 e as complicações durante a gestação podiam ser contestados, por se basearem em números insuficientes de casos ou em relatórios médicos que as mulheres concordaram em partilhar após os factos e que muitas vezes eram omissos em detalhes importantes, como o mês de gestação na altura do contágio.
Riscos comprovados
Para esta investigação foram inscritas grávidas num rácio de duas gestantes sem infeção por cada uma infetada com o SARS-CoV-2, internadas no mesmo hospital e com tempos de gravidez equivalentes. Ambos os grupos – 706 grávidas com infeção Covid-19 confirmada e 1424 sem infeção – foram seguidos até ao parto e depois da alta hospitalar.
Foram observadas diferenças claras, revelou a equipa de Papageorghiou ao publicar os resultados na revista JAMA Pediatrics.
As grávidas com Covid-19 tinham uma probabilidade 76 por cento mais elevada de pré-eclâmpsia ou de eclâmpsia, a possibilidade de desenvolver uma infeção grave era três vezes maior entre elas e corriam cinco vezes mais risco de serem internadas em cuidados intensivos.
Onze gestantes com Covid-19 morreram comparativamente a apenas uma no grupo de controlo.
O estudo também ligou a Covid-19 ao aumento entre 60 e 97 por cento de parto prematuro, sobretudo em países com sistemas de saúde mais rudimentares e, em mulheres febris ou dificuldades respiratórias, apontou um risco cinco vezes acrescido de complicações neonatais, incluindo pulmões imaturos, lesões cerebrais e problemas oculares.
Cerca de 13 por cento dos bebés testaram positivo ao SARS-CoV-2, com o parto por cesariana a aumentar os riscos de transmissão do vírus. Este não foi passado pelo leite materno.
Vacinação prioritária
Para Papageorghiou, o novo estudo confirma argumentos a favor da inclusão das grávidas nos grupos prioritários de vacinação contra a Covid-19. Em março de 2021, ficou comprovado que as vacinas da Pfizer e da Moderna fazem aumentar de forma segura o número de anticorpos à Covid-19 em gestantes e que a imunização é transmitida via placenta e leite materno.
Nos Estados Unidos, o Centro de Prevenção e Controlo de Doenças, CDC, incluiu a gravidez nas condições médicas de risco elevado com prioridade para a vacinação, mas nem todos os Estados seguem a indicação.
O Reino Unido, o Chile e o Brasil incluíram em abril as grávidas nos grupos prioritários de vacinação. As autoridades brasileiras e britânicas recomendam ainda o adiamento da gravidez, devido à agressividade do vírus em gestantes.
Portugal decretou em outubro de 2020 as disposições específicas para o acompanhamento de grávidas durante a pandemia, indicações atualizadas no final de abril para admitir a presença de acompanhantes durante o parto sob determinadas condições.
Em dezembro de 2020, a ministra da Saúde, Marta Temido, invocava a escassez de vacinas a par da incerteza dos estudos científicos, para justificar a não inclusão de gestantes entre os grupos de risco prioritários na vacinação.
O Serviço Nacional de Saúde refere que “a administração da vacina em mulheres grávidas deve ser avaliada pelo médico assistente, de acordo com a relação benefício-risco.” A DGS admite por exemplo a vacinação com a vacina da AstraZeneca, proibida esta terça-feira a grávidas no Brasil.