Covid-19. Confinamento desencadeia ou agrava violência doméstica

por RTP
Reuters

Com a imposição de quarentena obrigatória, há um aumento do risco de casos de violência doméstica. A pensar neste problema, as farmácias em França transformaram-se num meio de ajuda à denúncia. As vítimas apenas precisam de usar a expressão "máscara 19" para alertar o farmacêutico.

À medida que a pandemia de Covid-19 avança, multiplicam-se os países que impõem medidas restritivas que incluem o isolamento domiciliário obrigatório. Esta parece ser a melhor forma de combater a propagação do vírus, mas é também o maior pesadelo para quem é vítima de violência doméstica.

Tendo em conta este problema, estão a ser implementadas várias medidas para ajudar as vítimas de violência doméstica a denunciar os agressores durante este período de quarentena.

Em França, as vítimas estão a ser aconselhadas a dirigirem-se às farmácias – um dos estabelecimentos que permanecem abertos durante este período – e a pedirem ajuda. Basta utilizarem a simples expressão “máscara 19” para alertarem o farmacêutico.

De acordo com a CNN, a primeira vítima a pedir ajuda desde que o governo francês adorou esta iniciativa foi uma mulher na cidade Nancy. A mulher dirigiu-se a uma farmácia para e utilizou o código “máscara 19”. Segundo o canal de notícias norte-americano, o marido foi detido pela polícia por violência doméstica pouco tempo depois.

Desde o início da pandemia, cada vez são mais os países que têm alertado para um aumento das queixas por violência doméstica. A situação de confinamento obrigatório não só agrava os casos de violência já existentes, como também conduz ao desencadeamento de comportamentos agressivos em algumas famílias relacionados com situações de stress e de ansiedade, segundo demonstram vários estudos.

Na província chinesa de Hubei, por exemplo, onde o surto do novo coronavírus teve início, as queixas mais do que triplicaram em fevereiro, altura em que já vigorava a quarentena obrigatória. No Brasil, especialistas apontam para um aumento de pedidos de ajuda de 40 a 50 por cento e na Austrália também foi registada uma subida de 75 por cento das procuras no Google relacionadas com violência doméstica.

Em França, o ministro da Administração Interna, Christhophe Castaner, afirma que foi registado um aumento de 36 por cento da intervenção da polícia em casos de violência doméstica em Paris após o decreto de quarentena.

“Sempre houve violência de género, mas esta crise agrava tudo”, disse à CNN Simona Ammerata, funcionária de um centro de acolhimento para mulheres em Paris.

A secretária de Estado francesa para a Igualdade, Marlène Schiappa, anunciou um conjunto de medidas a serem implementadas para apoiar as vítimas de violência doméstica, entre as quais centros de aconselhamento em hipermercados e o pagamento de 200 mil estadias durante a noite em hotéis.
E em Portugal?
Em Portugal, para além do e-mail de emergência (violencia.covid@cig.gov.pt), o Governo criou um serviço de mensagens gratuitas para o número 3060 para a receção de denúncias durante a epidemia. O número está disponível durante os sete dias da semana, 24 horas por dia e o registo deste contacto é confidencial, ou seja, não fica registado nas faturas telefónicas.


“Reforçamos a mensagem de que, nesta época de isolamento social, as vítimas de violência doméstica não estão sozinhas”, escreveu na rede social Instagram a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro.

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) também alertou para a possibilidade de se assistir a um aumento da violência doméstica durante o período de quarentena. Por essa razão, a associação lançou uma nova campanha.



“Em tempos em que a contenção e isolamento sociais são imperativos, a APAV alerta para o possível aumento da violência doméstica, do cibercrime e de crimes contra o património”, avisou, pedindo às vítimas que prestem atenção aos sinais e que não fiquem em silêncio.

Os dados recentemente divulgados pelo gabinete da ministra de Estado e da Presidência revelam que as forças policiais receberam um total de 45.752 participações de crimes de violência doméstica em 2019. No último trimestre do ano o aumento foi de 11,5 por cento face ao período homólogo de 2018.
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