Covid-19. Colaboração de Portugal com Brasil demonstra "grande solidariedade" entre os dois países, diz ministro

por Lusa

O ministro da Saúde do Brasil disse hoje que a colaboração de Portugal atualmente e durante a fase mais crítica da pandemia naquele país demonstra "a grande solidariedade" entre os dois países, que pretendem cooperar também na área de transplantes.

Marcelo Queiroga, que participou hoje numa conferência na capital portuguesa, a convite do presidente da Faculdade de Medicina de Lisboa, destacou, numa entrevista à Lusa, que o papel da cooperação portuguesa com o Brasil quer na fase mais crítica da pandemia naquele país quer agora e considerou que esta "demonstra a grande solidariedade que une" os dois países.

O responsável do Governo brasileiro explicou que a sua visita a Lisboa teve vários objetivos, entre os quais discutir possibilidades de cooperação futuras entre os dois países, sendo uma delas a do transplante de órgãos.

Para já, leva a garantia de que o Governo português vai doar ao Brasil as prometidas 400.000 unidades da vacina Astra Zeneca.

"A minha vinda aqui, à universidade de Lisboa, é para discutir os aspetos da pandemia com a comunidade académica da universidade de Lisboa, que tem uma parceria muito forte com o Brasil", referiu o ministro.

Porém, lembrou que existem hoje "parcerias com a universidade federal do Rio de Janeiro e com a universidade de São Paulo para titulação de médicos, formados no Brasil", que são muito importantes para estes profissionais de saúde.

Para o ministro e médico brasileiro, a "dupla titulação é uma grande oportunidade para os médicos brasileiros, de terem um diploma aqui em Portugal e também o acesso à Comunidade Europeia".

Além disso, salientou, "há uma colaboração científica muito forte" entre os dois países, "que é perene, não só no tempo da pandemia".

"Há grandes semelhanças entre o sistema de saúde português e o sistema de saúde brasileiro, os sistemas de saúde de acesso universal", adiantou.

Segundo o ministro, durante a pandemia, houve entre os sistemas de saúde dos dois países colaborações na área científica, e também parcerias com o Governo português, que doou kits de intubação e medicamentos.

O ministro adiantou que hoje ainda teve uma reunião com "pesquisadores e com o grupo técnico da área de transplante" e que os dois países vão colaborar neste domínio.

"Portugal tem um sistema nacional de transplante muito bem estruturado e o Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo", realçou.

Além disso, "naturalmente que o Brasil é um país com um sistema de saúde muito abrangente e muito heterogéneo e, aqui, em Portugal aproveita-se órgãos com grande eficiência", sublinhou.

Por isso, os dois países vão "colaborar para que os pontos positivos de cada sistema possam ser maximizados trazendo benefícios para os cidadãos portugueses e brasileiros", concluiu.

A participação de Marcelo Queiroga numa conferência, a convite do presidente da Faculdade de Medicina de Lisboa, tem sido muito criticada por alguns brasileiros residentes em Portugal, que consideram a presença do governante uma afronta às vítimas mortais da covid-19.

Dezenas de brasileiros juntaram-se hoje em frente ao hospital de Santa Maria, em Lisboa, para protestar contra a presença do ministro da Saúde do Brasil naquela conferência sobre a resposta do país à pandemia de covid-19.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à gestão da covid-19, a decorrer no Senado brasileiro, vota esta tarde o relatório final que pede o indiciamento do Presidente, Jair Bolsonaro, por nove crimes e o aprofundamento das investigações contra outros suspeitos.

Com 1.180 páginas, o documento apresentado na semana passada pelo senador Renan Calheiros recomenda o indiciamento de outras 65 pessoas e de duas empresas suspeitas de cometerem crimes durante a pandemia de covid-19, que já causou mais de 605 mil mortos e 21,7 milhões de infetados no Brasil.

Os pedidos de indiciamento serão encaminhados para o Ministério Público Federal, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Supremo Tribunal Federal (STF), caso o relatório seja aprovado pela maioria dos membros da CPI.

O relatório da CPI também poderá ser enviado a entidades multilaterais, como o Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia.

A maioria das acusações estão relacionadas com ações negacionistas, suspeitas de corrupção e de omissão em relação ao novo coronavírus e às vacinas, que teria aumentado o número de mortos no Brasil.

Marcelo Queiroga é um dos visados pela investigação da comissão parlamentar de inquérito que ao longo dos últimos meses avaliou falhas e omissões na ação do Governo brasileiro na gestão da pandemia de covid-19.

A visita do ministro brasileiro a Portugal - mas também ao Reino Unido, onde se desloca para visitas às universidades de Cambridge e Oxford e outras instituições, prevendo-se também a assinatura de protocolos -- foi notícia na imprensa brasileira, com o jornal O Globo a questionar a Universidade de Lisboa sobre a manutenção do convite depois de terem sido conhecidas as conclusões da investigação da comissão parlamentar de inquérito (CPI).

O Brasil tem mais de 600 mil mortes associadas à covid-19 e teve cerca de 22 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus desde o início da pandemia.

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