Covid-19. Brasil zona emergente de fome extrema

por Mário Aleixo - RTP
António Lacerda - EPA

A organização não-governamental Oxfam sinalizou o Brasil como "zona emergente" de fome extrema, adiantando que a pandemia de Covid-19 veio acelerar o crescimento da pobreza e da fome em todo o país.

O Brasil surge com esta classificação, juntamente com a Índia e a África do Sul, no relatório O vírus da fome: como a Covid-19 está a aumentar a fome num mundo faminto, da organização não-governamental Oxfam, que analisa os impactos da doença em países onde a situação alimentar e nutricional das populações era já extrema antes da pandemia.

De acordo com a ONG, a situação da pobreza e fome no Brasil começou a deteriorar-se em 2015 devido "à crise económica e a quatro anos de austeridade".

"Até 2018, o número de pessoas que sofriam de fome no Brasil tinha aumentado em 100 mil para 5,2 milhões graças a um forte aumento da pobreza e do desemprego, e a cortes radicais nos orçamentos para a agricultura e a proteção social", refere-se no documento, que aponta os cortes no programa Bolsa-Família e, desde 2019, "um desmantelamento gradual" das políticas e instituições destinadas a combater a pobreza.

"A pandemia Covid-19 foi agora acrescentada a esta mistura já tóxica, causando um rápido aumento da pobreza e da fome em todo o país. As medidas de distanciamento social introduzidas para conter a propagação do coronavírus e evitar o colapso do sistema de saúde pública agravaram a crise económica", acrescenta-se no estudo.

A ONG recorda que milhões dos trabalhadores mais pobres, que têm poucas economias ou benefícios, perderam empregos ou rendimentos, sem que tenham sido beneficiados por apoios governamentais.
Números da crise crescente
"Até final de junho, o Governo federal distribuiu apenas dez por cento da ajuda financeira prometida aos trabalhadores e empresas, através do Programa de Apoio Emergencial ao Emprego (PESE), com as grandes empresas a obterem mais benefícios do Governo do que os trabalhadores ou micro e pequenas empresas", aponta a Oxfam.

Da mesma forma, apenas 47,9 por cento dos fundos destinados à ajuda de emergência a pessoas vulneráveis tinham sido distribuídos até ao início de julho.

Por isso, a ONG entende que "o Governo federal está a falhar no apoio às pessoas mais vulneráveis do Brasil".

De acordo com a Oxfam, a implementação do programa de Renda Básica de Emergência regista longos atrasos na resposta aos pedidos de ajuda, recusas injustificadas de ajuda, falta de telemóveis, ligações à internet e endereço de e-mail para se qualificar para a assistência.

Por outro lado, adianta a organização, "apenas três meses após o início do surto do coronavírus do país, e numa altura em que ainda está largamente fora de controlo, o Governo ameaça reduzir o pagamento dos benefícios".

A Oxfam Brasil lançou uma campanha para apoiar 1.000 famílias vulneráveis em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife através de transferências monetárias de 60 dólares (53 euros) por mês durante quatro meses, considerado o suficiente para garantir que as famílias possam comprar alimentos e outros bens essenciais.

A meta de arrecadação de fundos para este programa é de 240 mil dólares (211,8 mil euros).

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de infetados e de mortos (quase 1,71 milhões de casos e 67.964 óbitos), depois dos Estados Unidos.
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