O Reino Unido poderá registar 200 mortes por dia em novembro se a pandemia de covid-19 continuar a avançar ao ritmo atual, avisou esta segunda-feira o principal assessor científico do Governo britânico, Patrick Vallance.
Numa declaração pública transmitida na televisão, Vallance disse que o número de infeções está a duplicar a cada sete dias e que, se este ritmo continuar, em meados de outubro o Reino Unido poderá ter 50 mil casos por dia.
Segundo o assessor científico britânico, se os casos chegarem perto dos 50 mil em outubro, isso pode levar a cerca de 200 mortes por dia em novembro, se a taxa atual de infeção não for interrompida.
No domingo, o Reino Unido anunciou ter registado mais 3.899 novas infeções e 18 mortes de covid-19 nas 24 horas anteriores, isto depois do sábado ter contabilizado 4.422 novos casos, o número mais alto desde maio.
"Cinquenta mil casos por dia levariam, um mês mais tarde, em novembro, a cerca de 200 mortes por dia", avisou Vallance, alertando que esta não é uma previsão de como a situação vai evoluir, mas "pretende mostrar a rapidez com que pode evoluir se a duplicação continuar"
"Já existem medidas em vigor que devem desacelerar e garantir que não entremos nesse crescimento exponencial e acabemos com os problemas que se podem prever como consequência. Mas requer rapidez, requer ação e requer [medidas] suficientes para ser capaz de reduzir [os números]", vincou.
O diretor geral de Saúde, Chris Whitty, que também interveio na declaração feita para a televisão, disse que o Governo está a tentar avaliar a melhor maneira de "controlar a propagação do vírus antes de um período de inverno muito difícil".
Whitty disse que os próximos seis meses vão ser complicados e que a mortalidade pode aumentar, não só devido a mortes diretas, mas também devido à potencial sobrecarga dos serviços de saúde públicos, que poderão resultar em mortes indiretas devido à redução de tratamentos ou diagnósticos a outros tipos de doença.
"Isto não é um problema das outras pessoas. Isto é um problema nosso", disse, acrescentando que é necessário "mudar de rumo" ou enfrentar uma situação dificil como país.
"Portanto, devemos ver isto como um problema de seis meses com o qual temos que lidar coletivamente, não é indefinido", continuou. "Se fizermos muito pouco, o vírus ficará fora de controlo".
"Numa epidemia, não podemos apenas assumir no nosso próprio risco. Infelizmente, temos de assumir o risco em nome de todos os outros, é importante vermos isso como algo que fazemos coletivamente".
Novas medidas?Esta foi a primeira declaração pública de Vallance e Whitty para a televisão sem a presença de um membro do Governo.
A imprensa britânica tem especulado sobre um potencial anúncio de novas medidas nos próximos dias pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
Além de ter proibido ajuntamentos de mais de seis pessoas e imposto restrições adicionais em regiões do norte e centro de Inglaterra devido a surtos localizados, no domingo o governo britânico anunciou novas sanções para quem não respeitar as regras.
As pessoas que testem positivo ou apresentem sintomas de coronavírus devem auto-isolar-se durante 14 dias, senão podem ser penalizadas com multas de mil libras (1.090 euros) até dez mil libras (11 mil euros), no caso de reincidência.
Para encorajar o cumprimento das regras, as pessoas com rendimentos baixos poderão receber uma ajuda de 500 libras (545 euros), caso não tenham a possibilidade de recorrerem ao teletrabalho no período de quarentena.
O Reino Unido é o país com o maior número de mortos na Europa e o quinto a nível mundial, atrás dos EUA, Brasil, Índia e México.
Desde o início da pandemia de covid-19, o Reino Unido contabilizou 41.777 óbitos e 394.257 de casos de contágio confirmados.
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 957.948 mortos e mais de 30,8 milhões de casos de infeção em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.912 pessoas dos 68.577 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.