Costa vincula a paz à "vitória da Ucrânia" sobre a Rússia

por RTP
António Costa e o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, na Cimeira da União Africana, que decorreu este fim de semana em Adis Abeba, na Etiópia José Sena Goulão - Lusa

O primeiro-ministro considera que “a paz só é possível com a vitória da Ucrânia e a derrota da Rússia”. Em entrevista ao jornal Público, quando se aproxima a data que marca um ano de guerra, António Costa sustenta que “ninguém tem legitimidade para impor aos ucranianos o momento em que têm de aceitar sentar-se à mesa” de eventuais negociações para um cessar-fogo.

“Só o agredido e só quem demonstrou uma extraordinária capacidade para travar esta guerra tem legitimidade para definir qual é o momento e quais são os termos e as condições para negociar a paz”, afirma António Costa na entrevista publicada esta segunda-feira pelo diário.

“A paz é uma vontade universal, mas todos temos consciência de que essa paz só é possível com a vitória da Ucrânia e a derrota da Rússia”, defende o chefe do Executivo, que chama a atenção para o facto de o país invadido a 24 de fevereiro de 2022 pelas forças russas ter demonstrado “unidade nacional”.

“A Ucrânia não capitulou em duas semanas; pelo contrário, conseguiu mobilizar o seu povo e uma grande frente internacional contra a Rússia. Mesmo que haja maior ou menor convicção dos que olham para esta guerra fora da Europa, a verdade é que, de cada vez que há uma votação na Assembleia Geral das Nações Unidas, o isolamento da Rússia é claríssimo”, aponta o primeiro-ministro.

“O mais surpreendido de todos será certamente o senhor Putin, que se deve interrogar sobre se foram os seus serviços de informações que não funcionaram, se foram os seus generais que não revelaram competência ou se é ele mesmo que é inepto para liderar esta guerra”, completa.António Costa manifesta, nas páginas do Público, a disponibilidade de Portugal para trabalhar em alguns dos pontos estabelecidos pela Ucrânia como condições para a paz.

Costa recorda que “Kiev apresentou um plano em dez pontos, com as condições para a paz, à comunidade internacional, que convidou a associar-se”.

Portugal já manifestou a sua disponibilidade para trabalhar em três áreas concretas – segurança alimentar, segurança energética e ecocídio. Esta guerra tem de ser um caminho para a paz e não uma via eterna para um conflito permanente”, acrescenta.

O governante elogia o trabalho que tem sido feito por parte dos países da União Europeia para superar os efeitos da guerra na economia. Mas reconhece o desgaste, que, no entanto, considera “natural”.

“Creio que as opiniões públicas, como é natural – e nem vale a pena os governos terem ilusões -, conforme a guerra vai durando e as situações económicas internas se tornem mais difíceis, vão diluindo a relação causal entre a guerra e a realidade que vivem e, de cada vez que chegam à caixa do supermercado, pensam que a culpa não é de Putin, mas de António Costa”, admite.
"Economia de guerra"

Costa propugna ainda que, “do ponto de vista de uma economia de guerra, o que a Europa fez já é extraordinário”.

“Estamos a falar de uma dependência de cerca de dois terços do gás natural importado da Rússia e, em menos de um ano, conseguiu libertar-se dessa dependência. Um país como a Alemanha, ao qual tantas vezes é apontado o dedo, teve a coragem de tomar uma decisão que eu gostava de saber quantos países teriam a coragem de tomar: depois de ter investido milhares de milhões de euros na construção do Nord Stream 2, quando já estava em fase de testes, ter decidido que não entrava em funcionamento, nem agora nem nunca”, faz notar.

O primeiro-ministro considera necessária uma reforma profunda para o alargamento da União Europeia, lembrando que há países dos Balcãs à espera de aderirem ao bloco há mais tempo do que a Ucrânia. Pelo que o debate sobre essas novas adesões tem que ser sério, para não frustrar, insiste António Costa, as expectativas dos candidatos.
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