Costa do Marfim espera legislativas pacíficas para esquecer violência das presidenciais

por Lusa

A Costa do Marfim realiza, no sábado, eleições legislativas, no final de uma semana de campanha sem incidentes e com a participação da oposição, em contraste com as presidenciais de outubro, que ficaram marcadas pela violência.

Pela primeira vez numa década, quase todos os partidos da oposição participam na votação, em particular a Frente Popular da Costa do Marfim (FPI, na sigla em francês) do antigo presidente Laurent Gbagbo, principal partido da coligação "Juntos pela Democracia e Soberania" (EDS), liderado pelo médico Georges Armand Ouegnin.

A FPI boicotou todas eleições desde a detenção de Gbagbo, em abril de 2011 em Abidjan, e a sua transferência para o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, após conflitos pós-eleitorais, que causaram mais de 3.000 mortos e foram desencadeados pela recusa do então Chefe de Estado em admitir a derrota nas eleições presidenciais.

Desde o arranque a 26 de fevereiro, a campanha para as legislativas, que termina hoje à noite, decorreu sem quaisquer incidentes de violência e com apelos de todos os partidos para um escrutínio pacífico.

Graças à participação da oposição, estas eleições legislativas estão a ser apresentadas como livres e representativas de um regresso à estabilidade política, após a violência ligada às eleições presidenciais de 31 de outubro, que deixaram 87 mortos e cerca de 500 feridos.

Mais de 1.500 candidatos disputam o voto de cerca de sete milhões de eleitores em 205 círculos eleitorais, que elegerão 255 deputados.

Nas últimas eleições legislativas de dezembro de 2016, o partido do Presidente, Alassane Ouattara, União dos Houphouëtistas para a Paz e a Democracia (RHDP, na sigla em francês), então aliado ao Partido Democrático da Costa do Marfim (PDCI), do antigo presidente Henri Konan Bédié, obteve uma maioria absoluta com 167 lugares.

A coligação desfez-se em 2018 e Bédié juntou-se nestas eleições a Gbagbo.

Os dois ex-presidentes, que tinham apelado à "desobediência civil" e boicotado as últimas eleições presidenciais, ainda não reconhecem a reeleição de Ouattara para um terceiro mandato, mas agora querem contrabalançar o seu poder na Assembleia Nacional.

Para o conseguir, o liberal PDCI de Bédié forjou uma aliança sem precedentes com os socialistas pró-Gbagbo para impedir a "consolidação do poder absoluto" de Ouattara e do seu partido.

Por outro lado, o RHDP apresenta-se como o "único" a poder apresentar candidatos em todos os círculos eleitorais, prometendo "uma onda laranja", a cor do partido.

"Estas eleições legislativas são uma oportunidade para mostrar que o RHDP é o maior partido" na Costa do Marfim e "proporcionam uma base constitucional ampla e confortável para a realização de reformas", defende Adama Bictogo, diretor-executivo do RHDP.

Por seu lado, o filho mais velho de Laurent Gbagbo, Michel Gbagbo, académico e candidato na comuna de Yopougon, em Abidjan, fala de um "novo desafio" que "marca também o regresso de Laurent Gbagbo e do seu partido ao jogo político institucional".

Laurent Gbagbo vive exilado em Bruxelas desde a sua absolvição em primeira instância pelo TPI de crimes contra a humanidade, mas o Presidente Ouattara declarou-se a favor do seu regresso, em nome da "reconciliação nacional".

O regresso foi anunciado para "meados de março" pelos seus apoiantes.

A eleição conta ainda com vários candidatos independentes que poderão desempenhar um papel importante na Assembleia Nacional no caso de um resultado próximo entre o partido no poder e a oposição.

Numa tentativa de pôr fim à violência eleitoral que marcou a história recente da Costa do Marfim, todos os participantes nas eleições legislativas votaram a favor de uma eleição pacífica e assinaram um código de boa conduta.

Tópicos
pub