Cosmonautas russos em maioria na Estação Espacial Internacional

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Roscosmos Press Service - EPA

Chegou na passada sexta-feira à Estação Espacial Internacional a mais recente tripulação russa, composta por três cosmonautas. Com esta nova entrada, os russos são agora a maior presença efetiva naquela estrutura em órbita terrestre.

A guerra na Ucrânia gerou um conjunto de cortes na cooperação entre a Rússia e outros países a nível mundial. Cortes diplomáticos, financeiros e comerciais, sendo que a área da cooperação aeroespacial também foi afetada.

Em causa ficaram compromissos de fornecimento e equipamento que serviam componentes aos lançadores, mas também o fornecimento de serviços que visavam a colocação de carga e satélites em órbita.

Uma das questões que foi levantada prendia-se com o futuro da parceria internacional a bordo da estação. Uma dúvida que foi momentaneamente esclarecida, na sexta-feira, foi enviada para a EEI uma nova tripulação russa, substituindo três outros cosmonautas que têm o dia 30 de março como data prevista para o retorno à Terra.


Com esta nova tripulação, a Estação espacial internacional têm a bordo cinco cosmonautas russos
, Anton Shkaplerov, Pyotr Dubrov, Sergey Korsakov, Oleg Artemyev, Denis Matveev, quatro norte-americanos, Mark Vande Hei, Raja Chari, Thomas Marshburn e Kayla Barron e o alemão Matthias Maurer.

Os novos cosmonautas fazem parte da corporação espacial russa Roscosmos, tendo descolado da instalação de lançamento de Baikonur, alugada pela Rússia, no Cazaquistão, no lançador Soyuz MS-21. Acoplaram à EEI pouco mais de três horas depois.
Russos envergavam fatos amarelos
São escassas as informações sobre se a tensão que se vive atualmente na Terra é repercutida na Estação Espacial, entre os diversos parceiros. Certo é que, de acordo com as agências espaciais, lá em cima tudo continua a decorrer com naturalidade.

Contudo, à chegada dos mais recentes tripulantes russos, a vestimenta amarela e nada habitual dos cosmonautas suscitou a curiosidade dos presentes e também dos jornalistas que seguem as “aventuras” no espaço.

A cor é diferente do habitual azul ou branco. Por esta altura, o amarelo é associado à causa ucraniana, em conflito direto com a Rússia.


Num vídeo apresentado pela CBS News pode ver-se os três cosmonautas a entrarem na estação vestidos de amarelo

“Chegou a nossa vez de escolher uma cor. Mas, na verdade, acumulamos muito material amarelo e precisávamos de o usar. Por isso tivemos de usar amarelo”, explicou o comandante da tripulação russa, Oleg Artemyev.

Trajes que não usavam antes da acoplagem. Num vídeo prévio feito pelo comandante russo, os cosmonautas mostravam-se vestidos de azul.

Com maior ou menor surpresa, os novos cosmonautas foram recebidos calorosamente com abraços e apertos de mão por todos os sete ocupantes da estação espacial, que os aguardavam do outro lado do corredor curto.

A nova equipa russa vai agora iniciar uma missão científica com duração prevista de de seis meses e meio.

Não ficou clara a mensagem - a existir. Certo é que os cosmonautas trocaram de farda antes de entrarem na Estação Espacial Internacional.
Biografias dos cosmonautas russos bloqueadas
A crise diplomática entre as autoridades russas e norte-americanas, potenciada pela invasão da UcrÂnia, reflete-se, no domínio da exploração espacial, em pequenas ações que, aos poucos, vão sendo descobertas. Uma destas referências é o corte na informação biográfica dos astronautas russos que estão a bordo da EEI.

Ao tentarmos aceder aos nomes dos cosmonautas russos, na página da tripulação da EEI fornecida pela NASA, somos direcionados para uma página indicado erro no carregamento. Algo que não acontece com a restante tripulação.

Detalhes que vão acentuando o cenário de uma nova “guerra fria” entre Rússia e Estados Unidos. Prova disso mesmo são os cancelamentos de voos e contratos quebrados entre as diversas partes das agências espaciais com os russos.

Dmitry Rogozin, chefe da agência espacial russa, Roscosmos, afirmou mesmo que os Estados Unidos teriam de usar “vassouras” para voar para o espaço, depois de a Rússia ter informado que deixaria de fornecer motores para os foguetes pertencentes a empresas norte-americanas.

Afirmações já desvalorizadas pelo administrador da NASA, Bill Nelson, que minimizou os comentários de Rogozin: "É apenas Dmitry Rogozin. Ele solta-se de vez em quando. Mas no final do dia ele trabalhou connosco".

“As outras pessoas que trabalham no programa espacial civil russo são profissionais. Eles não perdem uma oportunidade conosco, astronautas americanos e controlo de missão americano. Apesar de tudo isso, no espaço, podemos ter uma cooperação com nossos amigos russos, os nossos colegas”.

Apesar dos “paninhos quentes” entre partes, muitos temem já que, com esta tomada de posição por parte dos russos, se esteja a colocar em risco décadas de parceria pacífica fora do planeta, principalmente na estação espacial.
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