FOTO: Filip Singer - EPA
A informação foi confirmada pela porta-voz do dissidente russo. No comunicado acrescenta que ainda não se sabe se haverá cerimónias fúnebres e se as autoridades russas vão interferir. Navalny morreu a 16 de fevereiro na prisão russa onde cumpria uma pena a rondar as duas décadas.
A porta-voz acrescentou não saber se "as autoridades impedirão que [o funeral] se realize como a família deseja e como Alexei merece".
Há mais de uma semana, a mãe de Navalny acusou as autoridades de a estarem a chantagear, com a ameaça de deixar o corpo decompor-se caso ela não concordasse com um funeral secreto ou enterrá-lo no território da zona prisional, onde cumpria uma pena de 19 anos por "extremismo".
Se o funeral for público, a Presidência russa (Kremlin) pode enfrentar manifestações com numerosos apoiantes, numa altura em que o chefe de Estado, Vladimir Putin, se prepara para nova vitória nas eleições presidenciais marcadas para 15 a 17 de março.
Segundo a porta-voz, a mãe do opositor russo, Lyudmila Navalnaïa, já está em Salekhard, na região do Ártico onde o seu filho morreu, aos 47 anos, numa das prisões mais duras da Rússia.
Na década de 2010, antes de a máquina repressiva cair completamente sobre ele, Navalny conseguiu mobilizar multidões, particularmente em Moscovo, ganhando assim o estatuto de adversário número um de Vladimir Putin.
Desde então, e sobretudo desde o início da guerra na Ucrânia - há dois anos - a repressão aumentou significativamente.
As circunstâncias da morte de Alexei Navalny, que comoveu pessoas de todo o mundo, permanecem obscuras.
De acordo com o serviço prisional russo, Navalny morreu na sequência de uma indisposição sentida "depois de uma caminhada".
A equipa de apoio ao opositor afirma que a certidão de óbito menciona "causas naturais", versão que rejeita, apelando à polícia, aos militares ou aos membros dos serviços de segurança para comunicarem qualquer informação sobre o "assassinato" de Navalny.
Em troca, prometem "uma recompensa de 20 mil euros e a organização da saída do país, se for essa a vontade" do informador.
Os apoiantes do opositor e muitos líderes ocidentais acusaram o Presidente russo da sua morte, alguns indicando homicídio.
"Putin afirma ser poderoso, mas os líderes verdadeiramente poderosos não assassinam os seus opositores", afirmou hoje o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, em Kiev, durante uma conferência de imprensa conjunta com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a propósito do segundo aniversário da invasão russa.
O Presidente russo não reagiu à morte do seu principal opositor, que sobreviveu a um envenenamento em 2020, pelo qual acusou Putin, apesar dos seus desmentidos.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou as alegações, classificando-as como "absolutamente infundadas e insolentes".
A devolução do corpo do líder da oposição, nove dias depois da anunciada morte, coincide com o dia em que os cristãos ortodoxos decidiram realizar um serviço memorial.
Pessoas de toda a Rússia compareceram para honrar a memória de Navalny, reunindo-se em igrejas ortodoxas, deixando flores em monumentos públicos ou realizando protestos individuais.
Os moscovitas fizeram fila em frente da Catedral de Cristo Salvador para prestar homenagens, de acordo com fotos e vídeos publicados pelo meio de comunicação independente russo SOTAvision.
Um vídeo mostra a polícia russa estacionada nas proximidades e polícias a parar várias pessoas para verificação de identidade.
No início da tarde, pelo menos 27 pessoas foram detidas em nove cidades russas por demonstrarem apoio a Navalny, de acordo com o grupo de direitos humanos OVD-Info, que monitoriza detenções políticas.
c/ Lusa