Coronavírus reacende animosidades entre Hong Kong e China

por RTP
Tyrone Siu - Reuters

Desde que surgiu o primeiro caso do novo coronavírus em Hong Kong, os desentendimentos entre o território autónomo e a China aumentaram. Alegando a proteção da população de Hong Kong contra a transmissão do vírus, os residentes têm ostracizado os chineses no território.

O coronavírus está a assustar Hong Kong e a reacender animosidades antigas. A ativista Minnie Li, ligada ao movimento de protestos de Hong Kong nos últimos meses, é nativa de Xangai e foi recentemente recebida no território por residentes com panfletos onde se lia que chineses vindos do continente, como ela, não são bem-vindos.

"Não me sinto magoada", afirmou Minnie Li a Al Jazeera. Na verdade, "eu vejo isto como a 'infeção cruzada' da política nesta epidemia".

O surto de coronavírus surge após sete meses de protestos contra o governo e a interferência chinesa em Hong Kong.

À medida que surgem novos casos, tem aumentado a indignação da população. Acusando as autoridades de não terem capacidade de dar resposta nem estarem preparadas para a propagação da epidemia, vários profissionais de saúde entraram em greve e exigiram que se fechassem todas fronteiras com o continente.
Fechar fronteiras e isolar os chineses
Para alguns investigadores esta epidemia veio dar força à indignação da população contra a suposta interferência da China nos assuntos internos de Hong Kong.

O investigador da City University, Edmund Cheng, explicou que o coronavírus surgiu "exatamente quando os manifestantes estavam a deixar a mobilização em massa pela resistência quotidiana" e, por isso, agora os manifestantes de Hong Kong "condenam o governo por falhar em proteger o bem-estar" da população.

Mas, apesar da indignação da população do território autónomo, há duas passagens nas fronteiras que permanecem abertas. Neste momento, todos os visitantes oriundos da China continental precisam de ficar em quarentena 14 dias.

O primeiro caso de infeção por coronavírus em Hong Kong foi confirmado a 22 de janeiro. Desde essa altura, o número de infetados subiu para 49 e já se registou uma morte no território.

Segundo os investigadores, esta pressão da população para fechar as fronteiras com a China continental reflete não só o medo da nova pneumonia e as desconhecidas formas de transmissão, mas também as tensões já antigas entre a população indignada de Hong Kong e a China.

O facto é que cerca de 1 a 1,5 milhões de residentes de Hong Kong são migrantes recentes da China continental. No total, cerca de 40 por cento da população do território nasceu fora de Hong Kong, principalmente na China continental.

Com os números da epidemia a aumentar todos os dias, a tensão em Hong Kong tem-se tornado mais evidente e muitos acusam a China continental de ser a "fonte dos problemas" do território autónomo e todos os chineses de serem oposição aos manifestantes de Hong Kong.

A verdade é que até nas redes sociais há cada vez mais partilhas e comentários de ódio aos chineses. Minnie Li lamenta que os manifestantes de Hong Kong tentem "manter a dinâmica do movimento" com "ódio e xenofobia".

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