Desde o início do surto, com epicentro na província de Hubei, já morreram mais de mil pessoas e há pelo menos 42 mil casos confirmados só na China. Só nas últimas 24 horas, foram registadas 108 mortes e mais de mil novos casos de coronavírus. Enquanto a epidemia alcança uma dimensão de novas proporções e números, a Organização Mundial de Saúde inicia esta terça-feira um fórum de dois dias para debater as melhores formas de combate ao problema.
O surto do novo coronavírus detetado em finais de dezembro de 2019 já infetou mais de 42 mil pessoas e provocou mais de mil mortos, de acordo com os dados reunidos pelas autoridades de saúde da China.
Na terça-feira morreram 108 pessoas, quase todas, excetuando cinco, foram registadas na província de Hubei, onde o vírus foi identificado. Esta é a mais grave crise pública de saúde desde o Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), entre 2002 e 2003.
Até ao momento, quase todas as mortes ocorreram na China territorial (1.016). As outras duas vítimas mortais foram registadas em Hong Kong e nas Filipinas.
Depois da China, é o Japão que apresenta maior número de casos confirmados de coronavírus. Grande parte dos casos (135) está no Diamond Princess, o navio em quarentena que continua atracado no porto de Yokohama.
Dos 3.700 passageiros, oito portugueses estão a bordo. De acordo com a Direção-Geral da Saúde, não apresentam sintomas até ao momento.
Mais de 25 países em todo o mundo têm casos confirmados de coronavírus. Os seis casos suspeitos em Portugal tiveram resultados negativos.
Responsáveis chineses afastados
Na sequência da epidemia do novo coronavírus, a China está a afastar vários responsáveis, incluindo o diretor da Comissão de Saúde de Hubei, Liu Yingzi, e o secretário do Partido Comunista na mesma comissão, Zhang Jin.
Liu e Zhang são, até à data, os funcionários de mais alto escalão a serem afastados na sequência da crise de saúde pública.
De acordo com a BBC, o responsável local da Cruz Vermelha também foi despedido. Por enquanto, não existe qualquer indicação de que qualquer membro do Governo central possa ser afastado.
A imprensa, controlada por Pequim, tem apontado culpas às autoridades de Hubei, sobretudo para a capital daquela província chinesa, Wuhan.
Na altura da Sars, entre 2002 e 2013, foram afastadas altas figuras do partido, incluindo o presidente da Câmara de Pequim, Meng Xuenong, e do ministro da Saúde, Zhang Wenkang.
24 dias de período de incubação?
De acordo com um novo estudo com base na análise de mais de 1.000 pacientes de coronavírus na China, o período de incubação poderá ter até 24 dias, mais do que os 14 dias que se pensava inicialmente.
Segundo o mesmo estudo citado pelo jornal chinês Caixin, grande parte dos pacientes só tinha sintomas após vários dias. Apenas 43,8% dos pacientes tinha febre na sua primeira visita ao médico.
"A ausência de febre é mais frequente do que na Síndrome Respiratória Aguda e Grave e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio, portanto a deteção dos casos não pode focar-se na medição da temperatura", referem os especialistas.
A tomografia computadorizada, que também é usada no diagnóstico, deteta apenas sintomas de possível infeção em metade dos casos analisados.
Coronavírus é "uma ameaça muito séria"
Inicia-se hoje em Genebra, na Suíça, um encontro de dois dias com 400 cientistas, investigadores e peritos de saúde pública para discutir o combate ao novo coronavírus, detetado na China.
A reunião foi convocada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), sediada naquela mesma cidade, decorre até quarta-feira. Os participantes vão discutir vários temas, desde a identificação da fonte do vírus ou a partilha de amostras biológicas e sequências genéticas.
O encontro serve também para identificar lacunas e prioridades na investigação, tendo por base os conhecimentos reunidos sobre a síndrome respiratória aguda (SARS) e o coronavírus do Médio Oriente.
Em última análise, os especialistas têm como principal objetivo acelerar o desenvolvimento de uma vacina e de medicamentos específicos.
Na abertura da conferência, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, admitiu que o novo coronavírus constitui uma grave ameaça para o mundo.
"Com 99 por cento dos casos detetados na China, esta é uma grande emergência para o país, mas também representa uma ameaça muito séria para o resto do mundo", declarou.
A caminho deste encontro, o epidemiologista Gabriel Leung deu uma entrevista ao jornal The Guardian, onde alerta que, se o vírus não for controlado, poderá infetar até 60 por cento da população mundial.
Entretanto, na segunda-feira, chegou à China uma equipa de peritos da OMS para ajudar na resolução da crise.
A equipa é liderada por Bruce Aylward, um dos proncipais responsáveis da organização, que se destacou no combate ao Ébola, tendo conduzido iniciativas de imunização, controlo de doenças transmissíveis e erradicação da poliomielite.