Coronavírus. "Grave escassez" de material médico no epicentro Hubei

por Carlos Santos Neves - RTP
Operárias de uma fábrica em Chaohu, na província chinesa de Anhui, produzem fatos de proteção destinados aos profissionais de saúde que estão na linha da frente do combate ao coronavírus China Daily - Reuters

Enquanto as chancelarias internacionais preparam pontes aéreas para a retirada de cidadãos de Wuhan, epicentro do novo coronavírus, as autoridades da Hubei, a província a que pertence aquela cidade de 11 milhões de habitantes, apontam a “grave escassez” de material médico com que se debatem. De Pequim, emanou nas últimas horas um aviso do Presidente Xi Jinping: será punido quem não cumprir as instruções centrais para o combate à pneumonia viral.

Em declarações citadas pela televisão estatal chinesa CCTV, o governador da província de Hubei, Wang Xiaodong, deu conta de dificuldades sentidas pelo pessoal médico perante a rápida progressão do coronavírus. O responsável chamou também a atenção para a severidade do vírus na segunda cidade da província a ficar debaixo de quarentena depois de Wuhan: Huanggang.Os últimos números das autoridades chineses referem que cerca de 60 por cento dos mais de 770 casos de infeção até agora confirmados tiveram lugar na província de Hubei, onde ocorreram 162 das 170 mortes.


A 76 quilómetros de Wuhan, Huanggang tem 7,5 milhões de habitantes. Ali foram já confirmados 496 casos de infeção pelo coronavírus, dos quais 12 mortais.

Igualmente citado pela CCTV, um profissional de saúde de Huanggang deixou um alerta: o material médico do principal hospital da cidade será suficiente para apenas uma jornada de trabalho.

“Não podemos receber doentes sem máscaras e fatos de proteção. Estão quase esgotados e não temos como os comprar. Alguns dos nossos médicos estão a usar capas de chuva e sacos de lixo descartáveis para se protegerem”, fez notar.

Pequim, concretamente o Ministério da Indústria e Tecnologia de Informação, explica a escassez de máscaras com o esperado aumento da procura, sendo que o colosso asiático está produzir diariamente oito milhões de unidades – e é responsável pela produção de aproximadamente metade das máscaras comercializadas à escala mundial.
Um aviso de Xi Jinping

Para esta quinta-feira está prevista nova reunião do Comité de Emergência da Organização Mundial da Saúde, tendo em vista decidir se a epidemia chinesa deve ser declarada emergência de saúde pública internacional. Há exatamente uma semana, a OMS considerou prematura tal declaração.
Luís Baila - RTP

“O mundo inteiro deve estar em alerta. O mundo inteiro deve agir”, reiterava na quarta-feira o diretor dos programas de emergência da OMS, Michael Ryan.

A convocação foi revelada no Twitter pelo diretor-geral da Organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus.


Para além da China continental, foram já confirmados casos de infeção pelo novo coronavírus em Macau, Hong Kong, Taiwan, Tailândia, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Vietname, Nepal, Malásia, Índia, Filipinas, Austrália, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, França – o primeiro país europeu a registar a doença e que já esta semana confirmou um quinto caso -, Finlândia e Emirados Árabes Unidos.

Entretanto, enquanto o pessoal médico de Hubei reporta dificuldades no acesso a material, o Governo central faz sair um severo aviso, através da Comissão Central para a Inspeção da Disciplina: serão punidos todos aqueles que não cumprirem as instruções assinadas pelo Presidente Xi Jinping.

Em concreto, Pequim faz saber que haverá consequências para situações de negligência ou de apropriação indevida de verbas ou material médico.

Só nas últimas 24 horas, de acordo com o Governo chinês, o coronavírus causou 38 mortes, no que constitui a mais rápida progressão desde o início da epidemia, em dezembro. O número de pessoas infetadas aproxima-se das 7700 na China continental, número que supera já largamente as 5327 atingidas, em 2002 e 2003, pela epidemia de SARS – Síndrome Respiratória Aguda Severa.

Wuhan, a metrópole do centro do país onde emergiu o coronavírus, está parcialmente isolada do mundo há mais de uma semana, sem viaturas não essenciais a circular ou pessoas nas ruas, como uma cidade-fantasma, assim como quase toda a província de Hubei.

Além da anulação de diferentes provas desportivas internacionais, entre as quais a Taça do Mundo de esqui alpino, as autoridades da China decidiram adiar a época de futebol deste ano.

c/ agências
PUB