Coreia pediu dinheiro a Israel para não vender mísseis ao Irão

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Thae Jong Ho foi um dos elementos com ranking mais elevado no regime norte-coreano a desertar do país nos últimos anos. Kim Hong-Ji, Reuters

Pyongyang terá abordado Israel com um pedido de mil milhões de dólares para interromper a venda de mísseis ao Irão. A história tem 20 anos e foi agora revelada pelo intérprete norte-coreano que acompanhou a conversa entre o embaixador da Coreia do Norte e o enviado israelita num café de Estocolmo, na Suécia.

De acordo com o relato no Wall Street Journal, o embaixador norte-coreano na Suécia terá feito a oferta ao representante israelita num dia de inverno de 1999, tendo a resposta sido negativa. Telavive terá contraproposto com a entrega de ajuda alimentar, mas nada de dinheiro, pelo que o negócio ficou sem efeito e não houve qualquer acordo em volta do arsenal de Pyongyang.

A conversa foi revelada pelo tradutor usado por Pyongyang no encontro: Thae Yong Ho. Trata-se de um dos mais famosos desertores do regime norte-coreano. Thae Yong Ho era vice-embaixador no Reino Unido até ter fugido com a família para a Coreia do Sul em 2016.

Há duas décadas intermediou essa conversa num café da capital sueca, em que o embaixador coreano Son Mu Sin levou ao enviado israelita, Gideon Ben Ami, a exigência de mil milhões de dólares para que o regime coreano deixasse de comercializar o seu programa de mísseis com o Irão e outros inimigos do Estado hebraico na região.

Nenhum dos lados confirma as informações agora avançadas por Thae Yong Ho, mas Gideon Ben Ami deixou no ar um rasto de probabilidade ao admitir durante uma entrevista, na semana passada, que manteve três encontros com altos responsáveis do regime de Pyongyang em 1999. Mas não se alargou em pormenores nem referiu qualquer proposta de contrapartida financeira.

Já do embaixador norte-coreano, sabe-se que actualmente é funcionário na sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Pyongyang.

Oficialmente, tanto Israel como o Irão negam qualquer tipo de conversas ou contactos mantidos com os norte-coreanos relativamente a tecnologia nuclear ou ao seu programa de mísseis.

Há no entanto um elemento que se encaixa na narrativa do bilião de dólares e que é referido pelo Wall Street Journal. Tem a ver com documentos de há duas décadas do Departamento do Estado dos EUA, e agora desclassificados, que atestam a existência de conversações entre norte-americanos e norte-coreanos relativamente a exportações de mísseis produzidos pela República da Coreia.
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