Coreia do Sul ordena evacuação após troca de tiros com o Norte

por Ana Sofia Rodrigues - RTP
Marines da Coreia do Sul em exercício no mês de junho Kim Hong-Ji - Reuters

Várias localidades na fronteira que separa a Península Coreana tiveram ordem de evacuação para abrigos, de acordo com a agência Yonhap. Uma indicação de Seul depois de a Coreia do Sul ter efetuado disparos de artilharia contra a Coreia do Norte, na sequência de um alegado ataque com um rocket. Pyongyang terá vindo entretanto afirmar, por carta, que estava disposta a pôr termo ao conflito devido à transmissão de propaganda.

O ataque da Coreia do Sul foi confirmado em comunicado pelo ministro da Defesa. Dezenas de obuses foram disparados esta quinta-feira na zona ocidental da fronteira que separa a Península Coreana.

Os sul-coreanos detetaram a trajetória de um rocket disparado a partir de território norte-coreano e, em represália, responderam. Julga-se que o projétil norte-coreano terá sido dirigido a um altifalante numa unidade militar da Coreia do Sul, que emitia propaganda contra o regime de Pyongyang. Terá caído a cerca de 60 quilómetros a norte de Seul, por volta das 16h00 locais, início da manhã em Lisboa.A Coreia do Sul está no nível máximo de alerta e haverá uma reunião de emergência do Conselho Nacional de Segurança.

“Em resposta, o nosso exército lançou dezenas de obuses de 155 mm em direção do local de onde as forças norte-coreanas tinham lançado o rocket”, refere o ministro da Defesa.

“Reforçámos o nível de alerta para o máximo e monitorizamos com atenção todos os movimentos do exército da Coreia do Norte”, pode ler-se no comunicado citado pela Reuters.

Um responsável local disse à AFP que cerca de 80 civis em Yeoncheon tinham sido já retirados da zona.
Um residente de Paju, perto da Zona Desmilitarizada na Coreia do Sul fala ao canal de notícias do país YTN.

De acordo com a Reuters, os ataques não terão provocado danos ou vítimas. Não há registo, para já, de qualquer nova resposta dos norte-coreanos.
Tensão crescente
Desde o início do mês que as relações entre os dois países têm vindo a deteriorar-se. A Coreia do Sul acusou a Coreia do Norte da instalação de uma mina terrestre na Zona Desmilitarizada (DMZ), que feriu dois soldados numa missão de patrulha.

"As nossas Forças Armadas vão fazer a Coreia do Norte pagar um preço elevado, proporcional à sua provocação", disseram então em comunicado os chefes militares da Coreia do Sul.

Após uma investigação, Seul concluiu que as minas foram colocadas por militares norte-coreanos infiltrados em território sul-coreano, mas Pyongyang negou qualquer implicação no caso. O jornal Korea Herald avança na edição desta quinta-feira que a Coreia do Sul enviou uma carta às Nações Unidas com detalhes sobre a explosão da mina, citando o ministro dos Negócios Estrangeiros.

Seul começou entretanto a difundir, através de altifalantes, mensagens de defesa da democracia e de denúncia das violações dos Direitos Humanos na Coreia do Norte, prática que tinha sido abandonada há 11 anos.
O regime de Kim Jung-un respondeu e no dia 17 de agosto começou também a emitir mensagens de propaganda na área oriental da DMZ. No sábado o regime norte-coreano tinha exigido que o Sul pusesse termo às transmissões, ameaçando que, se não o fizesse, enfrentaria uma ação militar.

Esta quinta-feira, depois da troca de tiros, a Coreia do Norte veio exigir, de novo, que o Sul terminasse as transmissões de propaganda. Deu um prazo: 48 horas.

Numa carta que terá sido enviada ao Executivo da Coreia do Sul pelo norte-coreano Kim Yang Gon, secretário do Comité Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia, lê-se que as transmissões dos sul-coreanos são uma declaração de guerra, mas que a Coreia do Norte estava “disposta a oferecer uma saída para pôr fim à situação atual e melhorar as relações” entre os dois países, relata o ministro sul coreano da Unificação, que deu a conhecer o conteúdo da carta.
“Declaração de guerra”
A troca de tiros desta quinta-feira acontece no momento em que decorre um exercício militar que junta os exércitos sul-coreano e dos Estados Unidos. As manobras anuais Ulchi Freedom começaram na segunda-feira e vão durar até 28 de agosto.

O exercício é maioritariamente simulado em computador. Ainda assim, envolve 50 mil soldados sul-coreanos e outros três mil norte-americanos, simulando um cenário de invasão em grande escala por parte da Coreia do Norte. "Tais exercícios militares conjuntos de grande escala (...) são praticamente uma declaração de guerra", disse na semana passada o Comité de Pyongyang para a Reunificação Pacífica da Coreia.

Tanto Seul como Washington salientam que tem uma natureza puramente defensiva, enquanto os norte-coreanos o classificam como uma preparação para a guerra.

Pyongyang encara o Ulchi Freedom, bem como outros exercícios militares envolvendo a Coreia do Sul e os Estados Unidos, como provocações e já tinha ameaçado com "a maior resposta militar" caso o exercício deste ano avançasse.

As duas Coreias permanecem em estado de conflito, desde que a guerra de 1950-53 terminou com tréguas e não com um tratado de paz. Os dois países têm registado várias trocas de tiros ao longo dos últimos anos. A mais recente tinha ocorrido em outubro.

c/ agências
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