Putin está na Coreia do Norte esta terça e quarta-feira.

por RTP
Presidente da Rússia, Vladimir Putin e líder norte-coreano, Kim Jong-un Vladimir Smirnov - AFP

A especulação sobre a visita do presidente russo à Coreia do Norte dissipa-se. Os dois países já confirmaram. Vladimir Putin visitará a Coreia do Norte já esta terça-feira, o que acontece pela primeira vez em 24 anos. A viagem sublinha a crescente parceria entre Moscovo e Pyongyang, com armamento na agenda. Putin seguirá ainda para o Vietname, dias 19 e 20.

O líder norte-coreano, Kim Jong-un, fez o convite a Putin durante uma visita ao Extremo Oriente da Rússia em setembro passado. Desde julho de 2000 que Putin não visitava Pyongyang.

“A convite do Presidente dos Assuntos de Estado da RPDC, Kim Jong-un, Vladimir Putin fará uma visita de Estado amigável à República Popular Democrática da Coreia nos dias 18 e 19 de junho”, fez saber o Kremlin.

A agência de notícias estatal da Coreia do Norte KCNA também anunciou a visita, mas não ofereceu mais detalhes. Putin visitará o Vietname de 19 a 20 de junho, detalhou Moscovo.

Ambas as visitas - à Coreia e ao Vietname - eram esperadas, embora as datas não tivessem sido anunciadas antecipadamente.

A Rússia e a Coreia do Norte podem assinar um acordo de parceria durante a visita que incluirá questões de segurança, avançou o conselheiro de política externa de Putin, Yuri Ushakov. Acrescenta que o acordo não é dirigido contra nenhum outro país.

Qualquer pacto "delineará perspetivas para uma maior cooperação, e será assinado tendo em conta o que aconteceu entre os nossos países nos últimos anos - no campo da política internacional, no campo da economia, incluindo, claro, problemas de segurança", deixou claro Ushakov.

O ministro da Defesa russo, Andrei Belousov, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e o representante de Putin para energia, o vice-primeiro-ministro Alexander Novak, estão na comitiva de Estado.
Romance de Putin e Kim
O relacionamento entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin e o líder norte-coreano Kim Jong-un cimentou-se graças a mudanças geopolíticas, nomeadamente, após a invasão russa da Ucrânia.

Alegadamente, Putin busca parceria no setor de armamento para alimentar a guerra em solo ucraniano. Por sua vez, o universo das armas é algo que também faz parte das predileções de Kim.

O entendimento terá tido tamanho sucesso que o líder norte-coreano, numa mensagem recente dirigida ao seu homólogo russo, afirmou que os dois têm uma “relação inquebrável de camaradas de armas”.

Kim fez duas viagens ao Extremo Oriente da Rússia para se encontrar com Putin desde 2019. Entretanto, as especulações crescem perante a primeira visita a Pyongyang de Putin, a acontecer muito em breve. O presidente russo não vai à Coreia do Norte desde, 2000, ano em que ganhou as eleições.

A rede de espiões sul-coreanos sugerem que poderá ocorrer já na terça-feira a visita de Putin à Coreia do Norte. As imagens de satélite também corroboram este indício por terem detetado aparentes preparativos em curso na Coreia do Norte.

Por sua vez, o Kremlin insiste que esses detalhes serão divulgados em momento oportuno.
Mudanças geopolíticas
Kim afastou-se das conversações com os Estados Unidos após a cimeira falhada em Hanói e começou a criar novas abordagens dirigidas à Rússia. A resposta foi morna – até que a invasão em grande escala da Ucrânia por Putin fracassou e a Rússia começou a precisar de munições, uma das poucas coisas que o regime de Kim tem em abundância.

Porém, as implicações do realinhamento vão além do comércio de armas. “É um erro pensar nisso simplesmente como um negócio de armas”, argumenta Jenny Town, do Stimson Centre, um grupo de reflexão norte-americano.

Até porque, a Rússia e a Coreia do Norte são os dois países mais sancionados no mundo. Pyongyang, pelo desenvolvimento de armas nucleares e pelo lançamento de uma série de testes de mísseis balísticos, e Moscovo, pela invasão à Ucrânia.

Neste momento, a Coreia do Norte tem mais valor para uma Rússia isolada - e a Coreia do Norte apercebeu-se que Moscovo precisa de amigos.

Num relatório recente da Bloomberg, onde cita o Ministério da Defesa da Coreia do Sul, deixa transparecer que a Coreia do Norte terá enviado quase cinco milhões de munições de artilharia para a Rússia.
Putin provoca o Ocidente
Ao visitar a Coreia do Norte, Putin pode simplesmente demonstrar aos seus detratores que pode - e irá - fazer o que quiser.

A Rússia tem se esforçado para mostrar que tem muitos amigos ao redor do mundo que partilham da mesma opinião - o domínio do Ocidente está em vias de desaparecer. “Da Ásia, América Latina, África – qualquer pessoa desencantada com os costumes de um mundo liderado pelos EUA é bem-vinda”, argumenta Ben Tavener da BBC.

Uma outra viagem marcada de simbolismo sobre a mudança declarada da Rússia para o leste, aconteceu quando Putin visitou a China. Porém, o presidente chinês, Xi Jinping, terá reservas quanto à reaproximação da Rússia com a Coreia do Norte, até porque deve querer jogar com os interesses comerciais que tem no ocidente.

De qualquer forma, quando ocorrer a visita ao território norte-coreano, a mensagem que Putin quer passar, apresenta uma nuance de desafio dirigida ao ocidente ao afirmar que “sim, posso, observem-me”.

c/ agências
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