COP26. Trinta países e seis grandes fabricantes comprometem-se a acabar com carros a combustão até 2035

por RTP
Adnan Abidi - Reuters

Acabar com a produção e comercialização de veículos a combustão a partir de 2035 é a meta definida por uma aliança de 30 países, seis fabricantes de automóveis e outras organizações. A medida será apresentada esta quarta-feira na cimeira climática, em Glasgow, e visa impactar nos principais mercados mundiais na próxima década.

"Como representantes de governos, empresas e outras organizações com influência sobre o futuro da indústria automóvel e do transporte rodoviário, comprometemos-nos a acelerar rapidamente a transição para veículos com emissão zero para atingir os objetivos do Acordo de Paris", lê-se na declaração, divulgada na terça-feira.

Esta aliança com cem signatários vai ser apresentada oficialmente, esta quarta-feira, na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP26) e tem como objetivo que "todas as vendas de camiões e carros novos tenham emissões zero em todo o mundo até 2040, e o mais tardar em 2035 nos principais mercados", avança o El País.

"Como governos, trabalharemos para que todas as vendas de carros e camiões novos tenham emissão zero até 2040 ou antes, ou até 2035 nos principais mercados".

O setor dos transportes, recorde-se, é responsável por cerca de 20 por cento das emissões globais de gases de efeito de estufa, e quase 90 por cento deve-se só ao tráfego rodoviário.

A iniciativa tem sido coordenada pelo Reino Unido e foi subscrita por trinta países na terça-feira à noite, como o Canadá, a Índia, a Holanda, a Áustria, a Noruega, o Chile e a Dinamarca. No entanto, países importantes da indústria automóvel como os Estados Unidos, a China, a Alemanha, a França e Espanha, ficam para já de fora deste acordo.

Quanto aos fabricantes de automóveis, são signatárias seis grandes empresas globais: a Ford, a General Motors, a Volvo, a Mercedes-Benz, a Jaguar Land Rover e a BYD da China.
ONU e UE propõem fim de veículos poluentes a partir de 2035
Esta aliança vai ser apresentada na COP26 e vai ao encontro dos apelos que António Guterres, Secretário-Geral da ONU, fez no mês passado antes da cimeira, exortando os países mais desenvolvidos a acabarem com a produção de veículos a combustão a partir de 2035.

Recentemente, a Comissão Europeia também propôs o fim desse tipo de automóveis, a partir de 2035, mas a proposta europeia ainda não está finalizada nas instituições comunitárias e nos 27 Estados-membros. Por isso é que, para já, Espanha, França e Alemanha não subscreveram este acordo.

A Espanha, por exemplo, estabeleceu na sua recente Legislação para as Alterações Climáticas 2040 como a meta para pôr fim à vendas de carros com emissões poluentes. E, segundo a delegação espanhola presente na COP26, a norma prevê que essa data seja automaticamente modificada e 2035 seja fixada se for o que todas as instituições europeias acordarem.

Os governos regionais e até cidades, que se comprometam a trabalhar para que as "frotas de carros e camiões próprios ou alugados sejam veículos com emissão zero até 2035", podem também aderir a esta aliança.

"Apelamos a todos os países desenvolvidos para fortalecer a colaboração e oferta de apoio internacional para facilitar uma transição global, equitativa e justa", escreveram os signatários.

Já os fabricantes signatários comprometeram-se a tornar todas as vendas em veículos de emissão zero nos "principais mercados" até 2035 ou antes, "apoiados por uma estratégia de negócios alinhada com a realização dessa ambição".
Governos devem assumir compromissos
Embora os signatários se comprometam a acabar com os veículos a combustão, esta aliança não é vinculativa, visto que não está integrada nas negociações oficiais da ONU. Como o especialista em clima e políticas renováveis ​​Niklas Hohne friosu na terça-feira durante a sua intervenção na COP26, os compromissos sobre o "fim do carvão ou dos combustíveis fósseis" devem refletir-se nas políticas nacionais e em muitos casos isso não está a acontecer.

No entanto, apesar de não ter um vínculo direto com os signatários, estes compromissos e alianças também tem efeito para os investidores, que têm de perceber quais as tecnologias que podem trazer mais complicações na transição para uma economia livre de emissões de gases de efeito de estufa, além de reforçar a ideia de que a mobilidade elétrica é o futuro.

Os trabalhos na cimeira climática ao longo desta quarta-feira serão dedicados aos transportes e mobilidade, prevendo-se que se alcancem também alguns progressos relativamente ao tráfego marítimo e terrestre, que em muitos casos não são abrangidos pelos planos nacionais de redução das emissões de gases com efeito de estufa.

Além disso, espera-se também uma iniciativa para vetar o desenvolvimento de novos veículos a petróleo e a gás natural.
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