COP26. Reino Unido promete 290 milhões de libras para ajudar países menos desenvolvidos a enfrentar as alterações climáticas

por Inês Moreira Santos - RTP
Andy Rain - EPA

A primeira semana da cimeira do clima, que decorre em Glasgow, ficou marcada pelas promessas de milhões para combater a desflorestação e apoiar os países mais pobres. No arranque desta segunda semana da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP26, o Reino Unido prometeu doar 290 milhões de libras para ajudar as nações menos desenvolvidas a enfrentar os impactos das alterações climáticas.

Os países mais pobres, responsáveis por apenas uma pequena porção dos gases de efeitos de estufa, pediram 100 mil milhões de dólares (86 milhões de euros) em ajuda financeira, argumentando que já estão a sofrer com os impactos do aquecimento global e que serão os mais afetados pelas alterações climáticas.

Os países mais desenvolvidos, e que mais contribuem para a emissão de gases poluentes e para o aquecimento global, já tinham prometido doar esse valor a partir de 2020, mas a promessa nunca foi cumprida. Agora, na cimeira de Glasgow, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu mais 4,3 mil milhões de euros de financiamento a países vulneráveis, para ajudar na adaptação às alterações climáticas.

O Reino Unido, por sua vez, prometeu ajudar com 290 milhões de libras, estando destinada a maior parte do dinheiro aos países da Ásia e do Pacífico que planeiam investir em ações climáticas, na conservação da natureza e na promoção e desenvolvimento de baixo carbono, avança a BBC. Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Commonwealth e do Desenvolvimento, estes 290 milhões são como um "novo financiamento" do orçamento de ajuda externa.

O Governo britânico pretende, assim, contribuir com 274 milhões para ajudar as nações da Ásia e do Pacífico a planear e a investir em ações climáticas, a melhorar a conservação e a garantir o desenvolvimento de baixo carbono.

Cerca de 15 milhões serão doados a um fundo projetado para ajudar os países em desenvolvimento a concentrar as suas ações nas maiores necessidades e um milhão é destinado a uma ação global "mais rápida e eficaz", incluindo para ajudar em caso de catástrofes naturais provocadas pelo aquecimento global.
O mundo "deve agir agora"
Os países em desenvolvimento são responsáveis por uma proporção muito pequena das emissões prejudiciais que estão a provocar as alterações climáticas, sendo que só um por cento dos mais ricos da população global é responsável por mais do que o dobro das emissões poluentes. E, também por isso, a ajuda aos países pobres e mais afetados pelo aquecimento global tem sido um tema constante entre os líderes mundiais na COP26, que debatem sobre como ajudar estas nações e se devem apoiar já as reparações dos danos causados por catástrofes naturais.

A ministra britânica do Comércio Internacional, Anne-Marie Trevelyan, afirmou esta segunda-feira que o mundo "deve agir agora" para evitar que mais pessoas sejam empurradas para a pobreza em consequência das alterações climáticas. Mas, por outro lado, há quem questione se são as nações ricas que devem pagar as ajudas em reconstruções e reparações pelos danos já causados pelo aquecimento global.

De facto, a maioria dos países ricos continua sem reconhecer a responsabilidade legal pelo impacto das suas emissões poluentes, considerando que isso pode envolver muitos milhares de milhões. Até agora, a Escócia foi o único país que prometeu doar para um fundo de compensação para países cujas economias foram afetadas pelas alterações climáticas, com uma promessa de um milhão de libras.

Como Saleemul Huq, diretor do Centro Internacional para as Alterações Climáticas e Desenvolvimento em Bangladesh, disse à BBC, com esta promessa a Escócia é a primeira nação desenvolvida a admitir tacitamente a responsabilidade na contribuição para o aquecimento global.

De acordo com a Charity Christian Aid, alguns dos países mais pobres do mundo podem vir a sofrer, em média, 64 por cento dos impactos na sua economia até o final deste século, sob as atuais políticas climáticas.

Mohamed Adow, diretor do grupo de reflexão sobre clima e energia do Quênia, Power Shift Africa, considera que a "escala do desastre económico" é "profundamente injusta".

"O facto de os países ricos terem bloqueado sistematicamente os esforços para criar um fundo de perdas e danos para lidar com essa injustiça é vergonhoso", disse ainda.

Numa semana marcada pela presença em Glasgow dos líderes mundiais e pelas queixas das organizações não-governamentais de falta de acesso à cimeira, manifestantes exigiram o fim dos combustíveis fósseis, para diminuir as emissões de gases com efeito de estufa, mas de concreto para já ficam, especialmente, as promessas de redução nas emissões de metano e menos investimento no carvão.

Mas o presidente da COP26, Alok Sharma, alertou que as promessas feitas "devem ser cumpridas e assumidas" por todas as nações.

Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.

A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.

Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
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