Os maiores emissores do planeta de gases com efeito de estufa, China e Estados Unidos, anunciaram nas últimas horas, durante os trabalhos da COP26, em Glasgow, na Escócia, um acordo bilateral que veio reavivar alguma esperança a dois dias do fim da cimeira. Trata-se de uma declaração conjunta sobre o reforço da ação climática.
“Podemos comprometer-nos todos com a via de um desenvolvimento verde, com baixas emissões de carbono, e duradouro”, disse, por sua vez, o Presidente da China, que falou em videoconferência, à margem da cimeira do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (Apec). Xi Jinping não fez, todavia, qualquer referência direta ao entendimento com os Estados Unidos firmado em Glasgow.
Segundo o enviado chinês à COP26, este compromisso resultou de quase três dezenas de reuniões ao longo dos últimos dez meses.
Segundo a ONU, o mundo prossegue uma trajetória “catastrófica” rumo a um aquecimento de 2,7 graus Celsius até ao fim do século, que acarretará um conjunto de fenómenos climáticos progressivamente devastadores.Na prática, na declaração conjunta, chineses e norte-americanos comprometem-se a fazer mais para travar o aquecimento global. Mas sem detalhes de contornos precisos: prometem, por exemplo, “tomar medidas reforçadas para erguer as ambições durante os anos de 2020” e renovar o compromisso com as metas do Acordo de Paris para uma subida da temperatura planetária “bem aquém” de dois grais Celsius face à época pré-industrial e, "se for possível", atingir e solidificar a fasquia de 1,5 graus Celsius.
Xi Jinping e o Presidente norte-americano, Joe Biden, planeiam manter conversações, via videoconferência, na próxima semana.
“Um passo importante”
Foi “um passo importante na direção certa”. Assim reagiu o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, no momento do anúncio do entendimento sino-americano.
“Para lá da COP, é importante para o mundo”, reagiu por sua vez Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, em declarações à agência France Presse.
As reações ao compromisso entre norte-americanos e chineses são, em suma, cautelosas. Se ONU e UE acenam com o que consideram ser um entendimento encorajador, organizações não-governamentais consideram-no escasso. A Greenpeace diz mesmo ser necessário que as duas maiores potências internacionais demonstrem maior empenho.
Citada pela BBC, a diretora da organização norte-americana WWF, sustentou que o anúncio do entendimento a dois veio trazer uma “nova esperança” quanto à fasquia de um aquecimento limitado a 1,5 graus Celsius. Todavia, vincou que é necessária clareza “sobre o que ainda é exigido a ambos os países no que toca às reduções de emissões nos próximos nove anos”.
Por sua vez, o antigo primeiro-ministro australiano Kenin Rudd, à cabeça da Sociedade Asiática dedicada às alterações climáticas, quis deixar claro que, no seu entender, o acordo entre chineses e norte-americanos não é uma inversão completa de marcha, mas um passo largo em diante: “O atual estado da geopolítica entre China e Estados Unidos é terrível, por isso o facto de se poder extrair este acordo entre Wahington e Pequim é [significativo ]”.
Em síntese, o principal negociador chinês, Xie Zhenhua, frisou haver, nesta altura, “mais acordo do que divergências” entre as duas potências.
De recordar que a China se recusou a assinar um acordo, no início desta semana, para limitar o metano, optando por prometer um vago “plano nacional” para agir sobre esta questão.
Novo esboço em discussão
Entretanto, está já a circular um novo esboço da declaração final da COP26 – ainda em negociações.
Ao cabo de dez dias de conversações, as delegações enviadas à Escócia chegaram a um projeto de conclusões “praticamente final”, de acordo com o presidente da cimeira que se pronunciou num dia de trabalhos igualmente devotado às cidades e regiões. Alok Charma apelou à “abertura e flexibilidade” por parte dos negociadores, embora tenha reconhecido que subsiste “uma montanha para escalar”.
No projeto de conclusões, os países são instados a robustecer os cortes no carbon até ao final de 2022. O documento reitera o compromisso para com as nações mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global.
O cair do pano sobre a cimeira de Glasgow está previsto para sexta-feira, embora as negociações possam ainda perdurar.
A agenda do penúltimo dia
Com o calendário oficial dos trabalhos e esgotar-se, são esta quinta-feira abordados os temas não só da crise climática, mas também relativos aos direitos das crianças, num debate promovido pela UNICEF. Sobre a mesa permanecem, claro, a utilização de combustíveis fósseis e a ação sobre a a Amazónia.
São mais de 120 os líderes políticos e milhares os especialistas, ativistas e decisores públicos chamados à Escócia para a COP26.
Há seis anos, o Acordo de Paris fixou como meta de limite do aumento da temperatura média da Terra entre 1,5 e dois graus Celsius acima dos valores da época pré-industrial. Em 2020, ano da eclosão da pandemia, as emissões de gases com efeito de estufa estabeleceram novos máximos históricos.
c/ agências
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