COP26. Acordo entre China e Estados Unidos reacende expectativas

por Carlos Santos Neves - RTP Notícias
O acordo-surpresa foi anunciado na quarta-feira durante os trabalhos da cimeira do clima, em Glasgow Robert Perry - EPA

Os maiores emissores do planeta de gases com efeito de estufa, China e Estados Unidos, anunciaram nas últimas horas, durante os trabalhos da COP26, em Glasgow, na Escócia, um acordo bilateral que veio reavivar alguma esperança a dois dias do fim da cimeira. Trata-se de uma declaração conjunta sobre o reforço da ação climática.

“Este documento contém declarações fortes sobre estudos alarmantes de cientistas, a redução das emissões de carbono, e a necessidade urgente de acelerar ações para lá chegar”, afirmou aos jornalistas o enviado especial dos Estados Unidos, o antigo candidato presidencial John Kerry, para acrescentar que ambas as potências se “comprometem com uma série de ações importantes para esta década, no momento em que elas são necessárias”.

“Podemos comprometer-nos todos com a via de um desenvolvimento verde, com baixas emissões de carbono, e duradouro”, disse, por sua vez, o Presidente da China, que falou em videoconferência, à margem da cimeira do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (Apec). Xi Jinping não fez, todavia, qualquer referência direta ao entendimento com os Estados Unidos firmado em Glasgow.

Segundo o enviado chinês à COP26, este compromisso resultou de quase três dezenas de reuniões ao longo dos últimos dez meses.

Segundo a ONU, o mundo prossegue uma trajetória “catastrófica” rumo a um aquecimento de 2,7 graus Celsius até ao fim do século, que acarretará um conjunto de fenómenos climáticos progressivamente devastadores.Na prática, na declaração conjunta, chineses e norte-americanos comprometem-se a fazer mais para travar o aquecimento global. Mas sem detalhes de contornos precisos: prometem, por exemplo, “tomar medidas reforçadas para erguer as ambições durante os anos de 2020” e renovar o compromisso com as metas do Acordo de Paris para uma subida da temperatura planetária “bem aquém” de dois grais Celsius face à época pré-industrial e, "se for possível", atingir e solidificar a fasquia de 1,5 graus Celsius.

As delegações de Pequim e Washington comprometeram-se também a trabalhar, ainda em Glasgow, num resultado “ambicioso, equilibrado e inclusivo sobre o atenuar [das emissões poluentes], a adaptação e o apoio” aos países menos desenvolvidos.

Xi Jinping e o Presidente norte-americano, Joe Biden, planeiam manter conversações, via videoconferência, na próxima semana.
“Um passo importante”
Foi “um passo importante na direção certa”. Assim reagiu o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, no momento do anúncio do entendimento sino-americano.

“Para lá da COP, é importante para o mundo”, reagiu por sua vez Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, em declarações à agência France Presse.

As reações ao compromisso entre norte-americanos e chineses são, em suma, cautelosas. Se ONU e UE acenam com o que consideram ser um entendimento encorajador, organizações não-governamentais consideram-no escasso. A Greenpeace diz mesmo ser necessário que as duas maiores potências internacionais demonstrem maior empenho.

Citada pela BBC, a diretora da organização norte-americana WWF, sustentou que o anúncio do entendimento a dois veio trazer uma “nova esperança” quanto à fasquia de um aquecimento limitado a 1,5 graus Celsius. Todavia, vincou que é necessária clareza “sobre o que ainda é exigido a ambos os países no que toca às reduções de emissões nos próximos nove anos”.

Por sua vez, o antigo primeiro-ministro australiano Kenin Rudd, à cabeça da Sociedade Asiática dedicada às alterações climáticas, quis deixar claro que, no seu entender, o acordo entre chineses e norte-americanos não é uma inversão completa de marcha, mas um passo largo em diante: “O atual estado da geopolítica entre China e Estados Unidos é terrível, por isso o facto de se poder extrair este acordo entre Wahington e Pequim é [significativo ]”.

Em síntese, o principal negociador chinês, Xie Zhenhua, frisou haver, nesta altura, “mais acordo do que divergências” entre as duas potências.

De recordar que a China se recusou a assinar um acordo, no início desta semana, para limitar o metano, optando por prometer um vago “plano nacional” para agir sobre esta questão.
Novo esboço em discussão
Entretanto, está já a circular um novo esboço da declaração final da COP26 – ainda em negociações.

Ao cabo de dez dias de conversações, as delegações enviadas à Escócia chegaram a um projeto de conclusões “praticamente final”, de acordo com o presidente da cimeira que se pronunciou num dia de trabalhos igualmente devotado às cidades e regiões. Alok Charma apelou à “abertura e flexibilidade” por parte dos negociadores, embora tenha reconhecido que subsiste “uma montanha para escalar”.

No projeto de conclusões, os países são instados a robustecer os cortes no carbon até ao final de 2022. O documento reitera o compromisso para com as nações mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global.

O cair do pano sobre a cimeira de Glasgow está previsto para sexta-feira, embora as negociações possam ainda perdurar.
A agenda do penúltimo dia
Com o calendário oficial dos trabalhos e esgotar-se, são esta quinta-feira abordados os temas não só da crise climática, mas também relativos aos direitos das crianças, num debate promovido pela UNICEF. Sobre a mesa permanecem, claro, a utilização de combustíveis fósseis e a ação sobre a a Amazónia.

São mais de 120 os líderes políticos e milhares os especialistas, ativistas e decisores públicos chamados à Escócia para a COP26.

Há seis anos, o Acordo de Paris fixou como meta de limite do aumento da temperatura média da Terra entre 1,5 e dois graus Celsius acima dos valores da época pré-industrial. Em 2020, ano da eclosão da pandemia, as emissões de gases com efeito de estufa estabeleceram novos máximos históricos.

c/ agências
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