Lisboa, 18 fev (Lusa) -- O Hospital são-tomense Ayres de Menezes vai ter mais duas salas de cirurgia, reabilitadas pela cooperação portuguesa e que serão inauguradas esta semana, disse à Lusa o responsável de projetos do Instituto Marquês de Valle Flôr.
Segundo Ahmed Zaky, a inauguração destas salas, que deverá ocorrer durante a visita do Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, a São Tomé e Príncipe, entre 20 e 22 de fevereiro, "vai permitir duplicar ou triplicar" as missões médicas que o instituto realiza ao país em várias especialidades.
O responsável explicou que estas salas foram inicialmente pagas pela cooperação taiwanesa, foram inauguradas em 2012 e custaram cerca de 3,5 milhões de dólares (2,8 milhões de euros), mas nunca chegaram a funcionar devido a deficiências de equipamento.
Agora, a cooperação portuguesa, através do programa Saúde para Todos e "de um esforço adicional" do Instituto Marquês de Valle Flôr (IMVF) recuperou todos os equipamentos por cerca de 150.000 euros, mas porque recorreu a empresas de responsabilidade social, o que reduziu substancialmente o custo, que a preço de mercado rondaria 1,5 milhões de euros, disse.
De acordo com Ahmed Zaky, só existiam duas salas de cirurgia no único hospital são-tomense, e "as missões médicas portuguesas só podiam usar uma porque a outra tinha de ficar reservada para urgências".
O responsável disse ter ainda a expetativa de ser o próprio Presidente a inaugurar estas salas, mas esse ponto não está previsto na agenda do chefe de Estado já divulgada pela Presidência da República.
O IMVF está presente em São Tomé e Príncipe há cerca de 30 anos com o programa Saúde para Todos, que foi renovado em maio do ano passado por quatro anos, com uma verba de 3,88 milhões de euros, financiada na quase totalidade pelo Camões -- Instituto da Cooperação e da Língua e pela Direção Geral de Saúde, que assegura o cofinanciamento de missões médicas de especialidade e do reforço da telemedicina.
Segundo Ahmed Zaky, este programa de cooperação permitiu melhorar os cuidados de saúde no país e fez com que São Tomé tenha hoje "dos melhores indicadores de toda a África".
A esperança de vida no país subiu uma média de 12 anos, sendo de 68 anos para os homens e de 70 para as mulheres.
O programa de cuidados de saúde de proximidade foi considerado em 2007 pela revista Lancet como um fator que aumenta a eficácia em 30 vezes, disse o responsável, destacando que se evoluiu depois, em 2009, para os cuidados de especialidades, abarcando hoje 23 das 32 especialidades médicas.
"Uma missão de oftalmologia por exemplo faz 100 intervenções cirúrgicas e 600 consultas em 15 dias", exemplificou Ahmed Zaky, acrescentando que, por ano, "são feitas cerca de 900 cirurgias, 5.000 consultas de especialidades, além das ações formativas", com a participação de cerca de 100 médicos de praticamente todos os hospitais portugueses, incluindo privados.
Em 2011, foi criado o programa de telemedicina, que, além de consultas, assegura já cirurgias, que são realizadas por um médico local, mas acompanhadas à distância por um médico em Portugal ou em qualquer outro país.
De acordo com o responsável, este programa permite ainda o desenvolvimento de teses de doutoramento e deu o exemplo de uma em relação à surdez, realizada pela equipa do médico João Paço, do Hospital CUF Infante Santo, que permitiu concluir que cerca de 3% da população são-tomense é surda, tendo depois a sua assistente Cristina Caroça descoberto que a causa é a falta de vacinação contra a rubéola.
Entretanto, a Organização Mundial de Saúde já iniciou um programa de vacinação no país e estão a ser realizadas ações para o ensino especial, formação profissional e integração social dos surdos, o que inclui um dicionário em linguagem gestual são-tomense, desenvolvido por Ana Mineiro, da Universidade Católica.
Ahmed Zaky, que acompanha a visita de Marcelo Rebelo de Sousa a São Tomé e Príncipe juntamente com o presidente do IMVF, Paulo Telles de Freitas, espera que esta seja uma oportunidade para canalizar apoios para estas ações, que são secundárias em relação ao projeto de saúde, mas têm um "grande impacto social".
Outra componente é a compra de medicamentos. Os antirretrovirais, por exemplo, que custam em Portugal 1.000 euros por doente por mês, são comprados pelo instituto a 10 euros porque no caso de São Tomé e Príncipe pode-se usar a declaração de catástrofe, o que quebra as patentes dos laboratórios e permite comprar os genéricos "a baixíssimo custo".
Além da área da saúde, o IMVF desenvolve em São Tomé e Príncipe o projeto Escola +, iniciado em 2009, de apoio a ensino secundário, na área curricular, formação de professores, apoio à administração escolar, reabilitação de infraestruturas, envio de professores para ensino e formação de colegas, que custa cerca de 400 mil euros por ano e que vai agora ser alargado ao Príncipe.