Convocada para sábado manifestação pelos trabalhadores na Guiné-Bissau

por Lusa

A Frente Popular, que tem organizado protestos contra o regime na Guiné-Bissau, anunciou hoje uma nova manifestação para sábado, dia em que passam 65 anos do massacre no porto de Pindjiguiti, em que morreram 50 pessoas.

A data já tinha sido anunciada a 27 de julho, quando a Frente Popular cancelou uma outra manifestação, indicando ter chegado a acordo com o Governo para a realização da iniciativa a 03 de agosto, feriado nacional em homenagem aos mártires da repressão colonial, em 1959.

A Frente Popular sairá à rua no sábado com as organizações sindicais UNTG e UPRG Cassacá 64, numa manifestação pelas liberdades e garantias dos trabalhadores na Guiné-Bissau anunciada hoje, em conferência de imprensa.

A concentração está marcada para as 07:00 (mais uma hora em Lisboa) junto à Assembleia Nacional Popular e seguirá até à "Mão de Timba", um monumento em homenagem aos que morreram a 03 de agosto de 1959, no porto de Bissau.

O ativista Armando Lona explicou hoje que as representantes dos trabalhadores juntaram-se à Frente Popular por partilharem "um ideal, a causa dos trabalhadores, a causa dos guineense que ao longo de anos buscam um caminho para poder afirmar-se".

O ativista considerou que "o mesmo motivo que levou as pessoas, em 1959, a indignarem-se para dizer basta ao sistema" colonial da época é o mesmo que os guineenses têm hoje para dizer à República da Guiné-Bissau que estão indignados.

"Estamos a viver uma situação de penúria total que vem de há décadas, institucionalizamos a pobreza na Guiné e socializamos o sofrimento, ensinaram os guineenses que devem sofrer. Nós dizemos basta, o guineense tem que libertar-se desse sofrimento", declarou.

Os promotores da manifestação prometem homenagear "de forma pacífica" aqueles que "se levantaram em 1959 e que morreram no anonimato por causa da repressão colonial".

"Será um momento de muita reflexão sobre porque é que 50 ou 60 anos depois da sua morte continuamos a falhar sem ter sucesso, porque é que a Guiné-Bissau, um país que devia ser modelo, está na cauda, é o país mais empobrecido do planeta, não é porque é pobre, é altamente rico, mas empobrecido", enfatizou.

Armando Lona afirmou que a Guiné-Bissau "é um país onde as pessoas continuam a viver de migalhas", onde "um professor, depois de anos de formação, pede esmola para poder sobreviver, onde o agricultor vive na pobreza e chegam ao porto de Bissau barcos carregados de arroz", a base alimentar da população.

"A Guiné-Bissau devia exportar arroz, devido às suas condições naturais de produzir muito, mas tornaram-no num país empobrecido, amarrado por um sistema que não quer que o país evolua", acrescentou.

O ativista salientou que o propósito desta manifestação é "fazer perceber "aos que fazem parte do sistema que o caminho está errado, que não é possível 80 e tal por cento dos guineenses viverem na miséria e um grupinho de pessoas" gasta "milhares de euros" para ir ao médico no estrangeiro, "quando podiam criar condições internas para ter hospital em cada setor, em cada tabanca".

Armando Lona dirigiu-se, também, às forças de segurança que têm impedido ou dispersado tentativas de manifestações, para afirmar que "devem dar exemplo de como lidar com os seus irmãos".

"Temos que mostrar aqui que protegemos os guineenses, devemos mostrar a solidariedade do guineense aqui", vincou, referindo uma alegada violência policial contra jornalistas, durante uma manifestação de professores, na quarta-feira, em Bissau.

"Antes de serem jornalistas são guineenses, não são marginais. Aquela pessoa [polícia] que estava a conduzir a viatura para atropelá-los também é guineense", acrescentou.

O ativista disse ainda que as organizações envolvidas na manifestação de sábado continuam "a ter fé" de que a luta que estão a fazer "é uma luta pacífica em prol de todos os guineense, incluindo aqueles que estão no sistema".

A Frente Popular já marcou duas manifestações, uma a 18 de maio e outra a 27 de julho, contra o regime do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, que dissolveu o parlamento, em dezembro de 2023, e substitui o Governo da maioria PAI-Terra Ranka por um de iniciativa presidencial.

A coligação PAI-Terra Ranka, liderada pelo Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), também marcou duas manifestações no início de 2024, sem sucesso.

Em todos os casos, no dia das manifestações foi colocado nas ruas de Bissau um forte dispositivo policial.

A 18 de maio foram detidos cerca de cem ativistas, entre eles o líder da Frente Popular, Armando Lona.

O Governo de iniciativa presidencial proibiu, em janeiro, todo o tipo de manifestações públicas na Guiné-Bissau.

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