"Contra a cultura livre". Milhares protestam em Bratislava após despedimentos de diretores de teatro e galeria nacionais

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Mais de nove mil pessoas protestaram em Bratislava contra as ações do Ministério da Cultura TV Prada

A ministra da Cultura da Eslováquia, Martina Simkovicová, demitiu os diretores do Teatro Nacional Eslovaco, Matej Drlicka, e da Galeria Nacional Eslovaca, Alexandra Kusa. Cerca de nove mil pessoas protestaram, no início desta semana, em Bratislava contra as recentes decisões da governante de extrema-direita e a interferência do Executivo em instituições culturais.

Martina Simkovicova acusou Matej Drlicka de estar envolvido em "ativismo político", ao criticar constantemente o seu Ministério, e atribuiu-lhe a culpa pela queda de um lustre durante uma peça de teatro, numa explicação publicada na rede social Telegram. A ministra eslovaca da Cultura culpou ainda Drlicka e Kusa de graves falhas de gestão.

A demissão dos diretores de duas das mais importantes instituições culturais eslovacas com base em motivos frágeis está a ser contestada por milhares de pessoas no país que saíram à rua na segunda-feira para protestar e pedem agora a demissão de Simkovicova.Nos últimos meses a ministra tem sido alvo de críticas por parte de artistas, jornalistas e da sociedade civil, em parte devido às alterações impopulares às leis e às tentativas de interferência nas instituições culturais e democráticas.

"As explicações que Martina Simkovicová enumerou são uma compilação de mentiras completas", disse Drlicka ao jornal britânico The Observer. "A única razão é que o governo dela não quer que a cultura seja livre", acrescentou.

Em entrevista ao Observer, Matej Drlicka considerou que fazia parte do papel do teatro "mostrar os pontos cegos da nossa história", mas esclareceu que não tinha apresentado as suas opiniões políticas no seu papel de diretor. "Sou um diretor", afirmou.Pouco antes do anúncio de despedimento, Drlicka foi distinguido pela Ordem Francesa das Artes e das Letras, com o grau de cavaleiro, pela ministra francesa da Cultura Rachida Dati.

A decisão do Ministério da Cultura da Eslováquia deu origem a uma petição que exige a demissão da ministra. A iniciativa conta atualmente com mais de 170 mil assinaturas

No passado mês de junho, milhares de pessoas já tinham manifestado contra os planos da ministra de dissolver o serviço de radiodifusão pública RTVS e substitui-lo por uma nova entidade sob controlo do Governo populista de direita do primeiro-ministro Robert Fico, que na sua primeira aparição pública após o atentado alertou contra o que descreveu como expansão da "ideologia progressista".
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