Continua a caça ao homem em Nova Iorque após assassinato de CEO da UnitedHealthcare

por RTP
Foto: Mike Segar - Reuters

A polícia de Nova Iorque continuava esta quinta-feira à procura do homem que matou Brian Thompson. O diretor executivo da UnitedHealthcare foi morto na quarta-feira, atingido pelas costas num ataque à porta de um hotel no centro de Manhattan. A imprensa norte-americana revelou entretanto que as balas encontradas junto ao local do crime tinham inscritas as palavras "negar", "defender" e "depor", que apontam para um livro crítico da deontologia das seguradoras.

Mais de 24 horas após um crime em plena Sexta Avenida, em Nova Iorque, muito continua por esclarecer sobre o ataque que vitimou Brian Thompson. O diretor executivo da UnitedHealthcare estava à porta do Hotel Hilton quando foi atingido por um atirador disfarçado.

A UnitedHealthcare é uma filial do UnitedHealth Group, uma das maiores empresas dos Estados Unidos que disponibiliza planos de saúde privada a dezenas de milhões de pessoas. Brian Thompson, de 50 anos, era CEO da empresa desde abril de 2021 e estava em Nova Iorque para a conferência anual de investidores.

No local do crime, foram encontradas munições com palavras inscritas, segundo adiantaram as autoridades. De acordo com a ABC News, incluíam-se as palavras “Deny” (negar), “Defend” (defender) e “Depose” (depor).
“Atrasar, negar, defender”
A imprensa norte-americana especula esta quinta-feira que as palavras inscritas nas balas possam evocar um livro crítico sobre o setor dos seguros, publicado em 2010, “Atrasar, negar e defender: porque é que as seguradoras não pagam os sinistros e o que pode fazer quanto a isso” (“Delay Deny Defend: Why Insurance Companies Don't Pay Claims and What You Can Do About It”).

Segundo o site da obra, o autor mostra “como lutar” contra o poder das seguradoras, que “tentam muitas vezes evitar o pagamento de sinistros justificados”.

“Para melhorar os seus lucros, as companhias de seguros atrasam o pagamento de sinistros justificados, negam completamente o pagamento e defendem as suas ações, forçando os requerentes a entrarem em litígio”, pode ler-se no website.

Contactado pela agência Reuters, o autor do livro, Jay Feinman, professor emérito da Rutgers University Law School, não quis fazer comentários.
Atirador continua em fuga
Até agora, pouco ou nada se sabe sobre o atirador, que foi visto pela última vez a fugir do local do homicídio numa bicicleta, em direção ao Central Park. De acordo com a CNN Internacional, o suspeito terá deixado cair um telemóvel e uma garrafa de água. A polícia nova iorquina revistou um hostel da cidade onde o suspeito poderá ter pernoitado antes do ataque.

Na quara-feira, a polícia divulgou imagens do suspeito em vídeos de vigilância a usar um casaco escuro com capuz, uma cobertura preta para o rosto e uma mochila cinzenta. Já esta quinta-feira, as autoridades divulgaram mais duas imagens do suspeito aquando do check-in no hostel.

As imagens de uma câmara de vigilância mostram o atirador a surgir atrás de Thompson, a levantar a arma e a disparar para as costas. De acordo com a polícia, o homicida chegou à entrada do hotel vários minutos antes do CEO da empresa e esperou que ele passasse, tendo ignorado a presença de outros transeuntes.

Entretanto, as autoridades ainda não identificaram o suspeito e continuam a tentar estabelecer quais os motivos que levaram ao crime. Segundo a polícia de Nova Iorque, tudo indica que este foi “um ataque premeditado, pré-planeado e direcionado”.

A mulher de Brian Thompson afirmou à NBC News na quarta-feira que o marido tinha recebido algumas ameaças relacionadas com o trabalho, sem dar mais informações. “Não sei, alguma falta de cobertura [de seguro]? Não sei pormenores. Só sei que ele disse que havia algumas pessoas que o estavam a ameaçar”, afirmou.

A polícia do Minnesota – onde a empresa está registada - não tem registos de ameaças contra Thompson.
Ondas de choque contra o setor?
Nos Estados Unidos não há serviço nacional de saúde universal, pelo que muitos norte-americanos são obrigados a subscrever seguros de saúde no setor privado para assegurar cuidados médicos e as seguradoras são com frequência acusadas de negarem injustamente a sua cobertura e apoio aos clientes.

O jornal The New York Times escreve esta quinta-feira que a morte do CEO da United Healthcare desencadeou uma “torrente de ódio” para com a indústria dos seguros de saúde. Nos sites de notícias e nas redes sociais, vários internautas reagem à notícia da morte de Brian Thompson com ironia, humor negro e revolta, assinalando as experiências negativas que tiveram com empresas de seguros.

Stephan Meier, presidente da divisão de gestão da Columbia Business School, afirmou ao NYT que este ataque poderá provocar ondas de choque em todo o setor dos seguros de saúde.

“O setor dos seguros não é o mais prezado, para não dizer pior”, afirmou Meier. “Se eu fosse um executivo de topo de outra seguradora, estaria a pensar: o que é que isto significa para mim? Sou o próximo?”.
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