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Guerra na Ucrânia. A evolução do conflito ao minuto

Conselho Europeu reúne-se com Gaza e Ucrânia em cima da mesa

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
"O tema mais importante em cima da mesa é a questão dos cereais ucranianos", afirmou Orbán, para alertar que "o dumping ucraniano está lentamente a destruir os agricultores europeus e húngaros". Foto: Johanna Geron - Reuters

A União Europeia vai pedir um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. A situação de catástrofe humanitária na região e os desenvolvimentos da guerra da Ucrânia têm sido dois dos temas a merecer a atenção dos líderes políticos reunidos em Bruxelas para o Conselho Europeu. Dossiers quentes que dividem os Estados-membros em pontos cruciais e ameaçam a incapacidade de avançar com posições blindadas por uma unanimidade à prova de bala furada para já por Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro.

Sobre o drama vivido pela população palestiniana na Faixa de Gaza sob cerco de Israel, e numa altura em que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, regressou ao Médio Oriente para tentar novamente um cessar-fogo, Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, anunciou esta quinta-feira que a União Europeia (UE) vai pedir uma "pausa humanitária para alcançar um cessar-fogo sustentável" na região.

Charles Michel apela desta forma à necessidade de reverter a "situação catastrófica" vivida pela população palestiniana em Gaza na Faixa de Gaza depois de Mark Rutte, primeiro-ministro dos Países Baixos, ter já manifestado à entrada para o encontro forte preocupação sobre o alastrar do conflito.

"Alcançámos uma declaração forte e unida dos líderes da UE sobre o Médio Oriente na reunião do Conselho Europeu. A UE exige uma pausa humanitária imediata para alcançar um cessar-fogo sustentável", escreveu na rede X.



Charles Michel sublinhou que o acesso humanitária "total e em segurança" é "essencial para fazer chegar à população a assistência vital numa situação catastrófica em Gaza".

O anúncio de Michel surge no momento em que, contrariando as directivas do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, para um inevitável ataque com consequências catastróficas em Rafah, Telavive dá indicações de que o chefe da Mossad está a caminho do Qatar para novas negociações.

"O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, aprovou hoje o envio de uma delegação israelita liderada pelo diretor do Mossad, David Barnea, amanhã para o Qatar", indica o gabinete de Bibi Netanyahu em comunicado.

O documento adianta que o chefe dos serviços de informações israelitas deverá encontrar-se "com o diretor da CIA, Wllliam Burns, o primeiro-ministro do Qatar, Mohammed ben Abdelrahman Al-Thani, e o chefe dos serviços secretos egípcios, Abbas Kamel, com o objetivo de avançar na libertação dos reféns" detidos em Gaza em troca de uma trégua com o Hamas.

A degradação das condições de vida dos palestinianos encurralados na Faixa de Gaza e o potencial escalar do conflito para toda a região já haviam sido objecto dos avisos de Mark Rutte: “Temos de garantir que o conflito não se alastra”, alertou o governante neerlandês quando anunciou que os líderes iriam “abordar a situação desesperada em Gaza, que está a degradar-se de dia para dia”.

“É por isso que pedimos urgentemente uma pausa imediata nos combates – para fazer chegar rapidamente mais ajuda a Gaza e garantir que seja entregue em segurança às pessoas que dela necessitam, bem como garantir a libertação dos reféns”.

Rutte deixou desde logo um pedido a Israel “para que desista de lançar uma ofensiva terrestre em larga escala em Rafah, onde muitas pessoas estão acantonadas e sem lugar para ir”.

“Acima de tudo, temos de garantir que o conflito não se alastra a toda a região”
, propugnou.

A questão tem dividido os líderes europeus e novamente com a Hungria, acérrima apoiante de Israel, a posicionar-se fora da moldura. Uma fonte próxima de Viktor Orbán apontou contudo para a possibilidade de o país vir a inclinar-se pela solução do cessar-fogo: “Acho que há um potencial crescente de encontrar um acordo a nível europeu sobre o cessar-fogo”.

A resolução da União é para já mais uma tentativa de solução para um problema que assume contornos de catástrofe humanitária, com os relatos de falta de medicamentos e de morte pela fome extrema, que Josep Borrell classificava à chegada à cimeira de “fracasso da humanidade”.

“O que está a acontecer hoje em Gaza é o fracasso da humanidade, não é uma crise humanitária, é o fracasso da humanidade, não é um terramoto, não é uma inundação, é um bombardeamento. E a única maneira de parar a crise humanitária, a crise humana, é Israel respeitar mais os civis e permitir mais apoio em Gaza”, pediu Borrell, alertando que é vital agir de imediato.

“Mesmo agora que conseguimos enviar alimentos para Gaza, as pessoas continuam a morrer de fome, especialmente as crianças. Precisam de medicamentos para poderem comer porque estão a morrer de fome. Espero que o Conselho envie uma mensagem forte a Israel”, defendeu o responsável máximo da política externa da União Europeia.
Kiev pede armamento e integração

Outro dos temas quentes do conselho continua a ser o auxílio a Kiev no esforço de guerra contra a invasão russa. Quando os 27 procuram reforçar o apoio a umas forças ucranianas visivelmente debilitadas desde há alguns meses, Viktor Orbán deixa sinais de divisionismo preocupantes com críticas ao que vê como ameaças de Kiev ao comércio de bens agrícolas húngaros e envio de felicitações a Vladimir Putin pela sua vitória de domingo na recondução de mais um mandato presidencial.

“O tema mais importante em cima da mesa é a questão dos cereais ucranianos”, afirmou Orbán, para alertar que “o dumping ucraniano está lentamente a destruir os agricultores europeus e húngaros”.

“A posição húngara é clara: temos de proteger os nossos agricultores”, avisou o primeiro-ministro.

Num posicionamento claro nas matérias que envolvem Rússia e Ucrânia, foram ainda deixados sinais de que a Hungria poderá estar disponível para acertar a utilização dos juros gerados pelos bens russos congelados desde que sejam reservados para fins de paz e não para apoio à máquina de guerra ucraniana.

Uma proposta formal apresentada ontem pela Comissão Europeia sobre os 190 mil milhões de euros de ativos russos detidos na UE sugere que o dinheiro fosse canalizado para o Mecanismo Europeu de Apoio à Paz, um orçamento que reembolsa os Estados-membros pelas contribuições para a Ucrânia mas que financia também corpos militares de paz em todo o mundo.

Já esta noite, a presidente da Comissão Europeia sublinhou que os 27 continuam a apoiar de forma incondicional o esforço de guerra da Ucrânia. A União Europeia está a rever o uso dos lucros dos ativos imobilizados russos para a Ucrânia, incluindo o apoio militar.

Ursula von der Leyen garante que os líderes concordam com a possibilidade de usar os juros não contratualizados dos ativos russos congelados na Europa como fundos para poder comprar mais armas para a Ucrânia.

“Fico satisfeita por os líderes terem decidido apoiar a nossa proposta para usar os juros extraordinários dos ativos russos imobilizados. Podemos esperar mil milhões de euros este ano e valores semelhantes nos próximos anos”, adiantou.

Von der Leyen acrescenta ser essencial desenvolver a indústria de defesa europeia e diz ainda que está a preparar uma lei sobre tarifas à importação de cereais russos
“para aumentar as tarifas às importações de cereais, oleaginosas e produtos derivados da Rússia e da Bielorrússia. Isto vai prevenir que os cereais russos possam desestabilizar no mercado da União no que se refere a estes produtos. Vai impedir a Rússia de usar as receitas das exportações destes produtos para União Europeia e vai garantir que as exportações ilegais de cereais ucranianos roubados pela Rússia não entram no mercado europeu”.

Sobre uma das discussões mais quentes dos últimos meses no seio da Europa, a presidente da Comissão diz que “a guerra de agressão da Rússia na Ucrânia nos deu um novo aviso. Temos que reforçar a indústria europeia de defesa, precisamos degastar mais, melhor e em produtos europeus”.

Uma fonte húngara afirmou, segundo o jornal The Guardian, que Budapeste seria contra “se [esses montantes] fossem para fins militares”, mas não se oporiam se parte dos fundos gerados a partir dos bens congelados fosse para missões não ucranianas, como as forças de manutenção da paz em África.

Trata-se desde logo de um travão a fundo aos pedidos do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que se dirigiu aos parceiros em modo de videoconferência no sentido de sensibilizar o conselho para canalizar esses recursos financeiros russos congelados para uma Ucrânia destruída pelos ataques de Moscovo.

“É necessário ir mais longe na utilização justa de bens russos congelados. O agressor tem de pagar o preço mais alto pela guerra. Este ano, precisamos de usar os bens russos para proteger e restaurar a vida que o agressor está a destruir na Ucrânia”, pediu Zelensky, argumentando que se trata de uma causa “justa”.

“Esta guerra é feita pela Rússia não só contra a Ucrânia mas contra todos nós, contra os vossos países também, contra toda a nossa Europa e o modo de vida europeu
”, declarou o presidente Zelensky, pedindo ajuda para a defesa aérea ucraniana e mais entrega de munições, assim como um esforço para a integração da Ucrânia na União Europeia.

“Toda a defesa aérea fornecida à Ucrânia, em particular pelos países europeus, mantém vivas as nossas cidades e aldeias. Mas os sistemas de defesa aérea existentes não são suficientes para proteger todo o nosso território do terror russo. E não é uma questão de centenas de sistemas, mas de um número alcançável para proteger todo o território da Ucrânia. Todos sabem que medidas têm de ser tomadas”, argumentou o líder ucraniano, mostrando-se desde logo grato “pela criação do Fundo de Assistência à Ucrânia, no valor de cinco mil milhões de euros, e pelo apoio à iniciativa da Chéquia de comprar projéteis para os nossos soldados”.

Zelensky advogou ainda que progressos reais no sentido de encetar negociações para a integração na União são fundamentais para os que os ucranianos vejam que estão mais próximos dos 27 e uma motivação extra na luta dos ucranianos contra a Rússia.

A Hungria será o pior dos auditórios para estes apelos. Viktor Orbán enviou esta mesma tarde os parabéns a Vladimir Putin pela sua vitória de domingo e recondução para mais um mandato como Presidente da Rússia.

“Confirmados os resultados oficiais das eleições, o primeiro-ministro Viktor Orbán felicitou Vladimir Putin pela sua reeleição, observando que a cooperação entre a Hungria e a Rússia, baseada no respeito mútuo, permite discussões importantes, mesmo em contextos geopolíticos desafiadores”, escreveu nas redes sociais Zoltan Kovacs, um porta-voz húngaro.

"Orbán afirmou o compromisso da Hungria com a paz e a disponibilidade para intensificar a cooperação em setores não restringidos pelo direito internacional, sublinhando a importância do diálogo na promoção de relações pacíficas", acrescentou.

Trata-se de um posicionamento que vai desde logo contra a posição oficial da União Europeia, cujo alto representante para a política externa, Josep Borrell, emitiu uma declaração em nome do bloco sublinhando que as eleições russas “decorreram num ambiente altamente restrito” e que a UE “reitera que não reconhece nem nunca reconhecerá quer a realização destas chamadas ‘eleições’ nos territórios da Ucrânia quer os seus resultados”.
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