A Marinha dos Estados Unidos informou esta quinta-feira que prestou assistência a dois petroleiros no Golfo de Omã, junto ao Estreito de Ormuz, que terão sido alvos de um ataque. O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se ainda hoje para discutir o tema. António Guterres, secretário-geral da organização, já condenou os ataques e pediu o apuramento dos "factos e responsabilidades".
A notícia começou por ser avançada pela agência France-Presse, com base em fontes diplomáticas na ONU. Depois foi a vez de diplomatas norte-americanos confirmarem a reunião desta quinta-feira - à porta-fechada -, onde a questão dos petroleiros será apresentada pelos Estados Unidos, segundo a Reuters.
"Os ataques desta quinta-feira aos petroleiros no Golfo de Omã levantam preocupações muito sérias. (...) Os Estados Unidos vão continuar a ajudar e a acompanhar a situação", frisou o embaixador interino dos Estados Unidos junto das Nações Unidas, Jonathan Cohen. durante uma intervenção numa reunião do Conselho de Segurança sobre cooperação entre a ONU e a Liga Árabe.
Ainda antes destas informações chegarem às principais agências internacionais de informação, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tinha condenado os ataques contra os dois petroleiros ao largo do Irão, pedindo o apuramento dos factos e responsabilidades.
"Assinalo, com profunda preocupação, os incidentes de segurança desta manhã no Estreito de Ormuz. Condeno com veemência quaisquer ataques contra embarcações civis. Há que apurar os factos e clarificar responsabilidades", disse ainda Guterres.
O responsável das Nações Unidas alertou também que "o mundo não pode permitir-se a um confronto em larga escala na zona do Golfo".
Na mesma sessão, o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, descreveu esta situação como "uma evolução perigosa no Médio Oriente" que, defendeu, "deve levar o Conselho de Segurança a agir contra os responsáveis para manter a segurança e a estabilidade na região".
Ao início da tarde, a chefe da diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, pediu que sejam evitadas "quaisquer provocações", frisando, através de uma declaração da porta-voz Maja Kocikancic, que "a região não precisa de novos fatores de destabilização ou de tensão".
Ataques "suspeitos"
A notícia do ataque contra os dois petroleiros no Golfo de Omã, junto ao Estreito de Ormuz, surge num momento de elevada tensão política e militar entre Estados Unidos e Irão. Ainda que não tenham sido apuradas responsabilidades e os alegados tenham ainda origem indeterminada, o incidente acontece um mês depois do alegado ato de sabotagem que visou petroleiros sauditas em Fujairah, na costa dos Emirados Árabes Unidos.
Na véspera deste primeiro incidente, Washington tinha alertado em maio para a possibilidade de "o Irão ou os seus representantes" terem como alvo "navios comerciais, incluindo petroleiros" nesta zona do globo, lembrando que Teerão chegou a ameaçar fechar o Estreito de Ormuz nos últimos meses, canal através do qual passa cerca de um quinto de todo o petróleo que é produzido a nível global.
Desta vez, os petroleiros que terão sido atingidos são de origem japonesa e norueguesa. O navio de propriedade japonesa terá sido atingido por um torpedo e, segundo a Marinha norte-americana, terá ficado gravemente danificado. A outra embarcação, de uma empresa norueguesa, registou pelo menos três explosões que terão sido provocadas por uma mina magnética.
Segundo a agência oficial IRNA, o resgate das 44 pessoas que compunham a tripulação dos dois navios foi levado a cabo por um navio de resgate iraniano.
Este caso ocorre num momento em que o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, está de visita ao Irão. É a primeira vez que um líder de Governo do Japão visita o país desde a Revolução Islâmica de 1979 e a primeira de um líder de um país do G7 desde que, em maio de 2018, Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo nuclear assinado em 2015 por várias potências.
De notar que Tóquio - que não integrava formalmente este acordo - tem um histórico vasto de relações comerciais com o Irão, tendo sido um dos maiores compradores de petróleo iraniano até maio.
As importações de crude pararam desde que os Estados Unidos anunciaram que iriam aplicar sanções a todos os países que continuassem a transacionar este produto, decisão que também afetou países como a Coreia do Sul, a China ou a Índia. Estes eram alguns dos oito países que estavam isentos, numa fase incial, das sanções norte-americanas de bloqueio ao petróleo iraniano desde novembro de 2018.
O alegado incidente com o petroleiro decorreu na mesma altura em que Shinzo Abe reunia com o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, encontros em que também participaram o ayatollah Ali Khamenei bem como os chefes da diplomacia dos dois países, Taro Kono e Javad Zarif.
Já depois do encontro de líderes, o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, considerou que os alegados ataques desta quinta-feira são, no mínimo, "suspeitos".
"Os ataques reportados em petroleiros ligados ao Japão ocorreram durante as conversações amigáveis entre o primeiro-ministro Shinzo Abe e o ayatollah Khamenei. 'Suspeito' nem serve para começar descrever os eventos desta manhã", escreveu o MNE iraniano no Twitter.