Conselho de Segurança da ONU reúne-se de emergência após colapso do regime sírio
O Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se esta segunda-feira de emergência para se debruçar, à porta fechada, sobre a queda do regime de Bashar al-Assad na Síria.
A reunião terá início às 15h00 (20h00 em Lisboa) na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, e foi pedida pela delegação da Rússia, país contraforte do regime derrubado, de acordo com fontes diplomáticas citadas pelas agências internacionais.
O regime do clã Assad, que governava a Síria desde 1971, colapsou no domingo perante a progressão dos rebeldes encabeçados pela Hayat Tahrir al Sham (Organização de Libertação do Levante, antigo braço sírio da Al Qaeda), que tomaram a capital, Damasco, com escassa resistência, ao cabo de 12 dias de uma ofensiva que agregou também fações secundadas pela Turquia.Rússia e Irão expressaram-se contra a deposição do
presidente sírio, Bashar al-Assad, ao passo que a China exprimiu preocupação. O Ocidente aplaude o fim do regime
ditatorial, mas há também uma postura de cautela face ao futuro imediato
da Síria.
A Hayat Tahrir al Sham proclamou uma Damasco "livre" de Bashar al-Assad. O presidente sírio, no poder há 24 anos, abandonou o país e exilou-se em Moscovo, confirmaram entretanto as agências russas Ria Novosti e Tass.
"Há muito trabalho a fazer para assegurar uma transição política ordenada para instituições renovadas. Reitero o meu apelo para a calma e para que se evite a violência neste momento sensível, protegendo simultaneamente os direitos de todos os sírios, sem distinção", exortou António Guterres em declaração publicada no portal da ONU.
"Processo de reconstrução será longo e complicado"
A presidente do Parlamento Europeu afirmou no domingo que a queda de Bashar al-Assad na Síria constituiu um momento "crítico" para o Médio Oriente, colocando a ênfase na necessidade de diálogo e respeito pelo Direito Internacional. "É o diálogo, a unidade, o respeito pelos direitos fundamentais e pelo Direito Internacional que devem caracterizar os próximos passos", assinalou Roberta Metsola, para acrescentar que este é "um momento crítico para a região e para os milhões de sírios que desejam um futuro livre, estável e seguro".
"O ditador caiu. É claro que o Governo brutal de 24 anos de Bashar al-Assad na Síria terminou e o seu regime está desfeito", escreveu a responsável nas redes sociais.O partido Baath exerceu um poder repressivo a partir de 1970 com o advento ao pode de Hafez al-Assad, pai de Bashar, por via de um golpe de Estado. A passagem de testemunho deu-se em 2000.
Na mesma linha, a alta representante da União Europeia para a Política Externa, Kaja Kallas, elegeou como prioridade "garantir a segurança na região" e comprometeu-se a trabalhar neste sentido "com todos os parceiros construtivos, na Síria e na região".
"Estou em contacto estreito com os ministros da região. O processo de reconstrução na Síria será longo e complicado e todas as partes devem estar dispostas a colaborar de forma construtiva", afirmou Kaja Kallas, que, no X, deixou ainda uma mensagem a Rússia e Irão.
The end of Assad’s dictatorship is a positive and long-awaited development. It also shows the weakness of Assad’s backers, Russia and Iran.
— Kaja Kallas (@kajakallas) December 8, 2024
Our priority is to ensure security in the region. I will work with all the constructive partners, in Syria and in the region.
"O fim da ditadura de Assad é um desenvolvimento positivo e há muito esperado. Também mostra a fraqueza dos apoiantes de Assad, a Rússia e o Irão".
"Nova oportunidade de liberdade"
Por sua vez, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, referiu-se ao fim da "ditadura de Assad" como uma "nova oportunidade de liberdade e de paz para o povo sírio".
"A ditadura de Assad causou imenso sofrimento. Com o seu fim, surge uma nova oportunidade de liberdade e paz para todo o povo sírio", escreveu Costa no X.
Assad’s dictatorship caused immense suffering.
— António Costa (@eucopresident) December 8, 2024
With its end, emerges a new opportunity for freedom and peace for all the Syrian people. This is also crucial for the broader stability of the region.
The EU stands ready to work with the Syrian people for a better future.#Syria https://t.co/KcXetEdLrl
Também o sucessor de Charles Michel deixou a garantia de uma União Europeia "preparada para trabalhar com o povo sírio por um futuro melhor".
"Futuro estável, próspero e justo"
Os peritos da ONU encarregados da investigação de violações dos Direitos Humanos na Síria desde 2011 encaram o afastamento do regime de Assad como "uma oportunidade para inaugurar uma era mais respeitadora dos Direitos Humanos no país".
"Chegou o momento de conduzir o país a um futuro estável, próspero e justo, que garanta os direitos humanos e a dignidade há muito negados ao seu povo", declarou em comunicado a comissão liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro.Paulo Sérgio Pinheiro espera que a tomada de Damasco possa marcar "o fim de décadas de repressão estatal".
A comissão saudou a libertação de prisioneiros da prisão de Sednaya, nos arredores de Damasco: "É um quadro que milhões de sírios não podiam imaginar há apenas alguns dias e é importante que as autoridades atuais garantam que as atrocidades ali cometidas não se repitam".
Saudou ainda a libertação de milhares de prisioneiros em zonas recentemente tomadas pela Hayat Tahrir al Sham.
"Esperamos que as autoridades garantam que todas as pessoas libertadas de detenções arbitrárias e ilegais recebam assistência para facilitar o reagrupamento familiar e que tenham apoio psicológico e médico adequado".
Os investigadores das Nações Unidas esperam ver aclarado o paradeiro de dezenas de milhares de desaparecidos às mãos do regime. E apelam a que seja agilizado o acesso da missão da ONU na Síria a centros de detenção.
"Há uma oportunidade para quebrar o círculo vicioso destrutivo de pilhagem que a missão documentou em anteriores mudanças de poder territorial", rematou a comissão.
O número um do mais alto órgão político da oposição síria no exílio, a Coligação Nacional Síria, quis afiançar no domingo, em declarações à agência EFE, que Damasco "estará segura em dois ou três dias".
"Dentro de dois ou três dias, a cidade estará segura, se Deus quiser. O atual Governo vai ficar e continuar o seu trabalho até que haja uma transição adequada. Todos os funcionários do Estado permanecerão nos seus postos, continuarão com as suas funções", declarou Hadi Al Bahra à margem do Fórum de Doha, no Catar.
c/ agências