Congresso norte-americano certifica vitória de Joe Biden

por Andreia Martins - RTP
Amanda Voisard - Reuters

A vitória de Joe Biden no Colégio Eleitoral foi certificada esta quinta-feira pelo Congresso norte-americano. A confirmação surge depois de manifestantes apoiantes de Donald Trump terem invadido o Capitólio, interrompendo os trabalhos dos congressistas por várias horas. Pelo menos quatro pessoas morreram no protesto e há mais de 50 detidos. No final da cerimónia formal no Congresso, o Presidente cessante prometeu uma "transição ordeira", mas continuou a desacreditar o resultado eleitoral.

O Congresso dos Estados Unidos certificou Joe Biden como próximo Presidente do país. A sessão de confirmação tinha sido interrompida durante a tarde após a invasão violenta do Capitólio por apoiantes de Donald Trump que participavam numa manifestação em Washington. Morreram pelo menos quatro pessoas e outras 52 foram detidas.

A sessão de confirmação terminou já na quinta-feira, pouco depois das 3h40 locais (8h40 em Portugal Continental). Tal como previsto, o Congresso certificou o resultado 306-232, com vitória para o Presidente-eleito Joe Biden e a vice-presidente eleita, Kamala Harris. 

Nas últimas horas, ainda antes da aprovação dos votos eleitorais, os congressistas rejeitaram duas tentativas de objeção aos resultados de novembro, apresentadas por representantes republicanos do Arizona e da Pensilvânia. As moções não reuniram votos suficientes por parte de outros Estados para serem discutidas.

A primeira - e até agora, única - reação de Donald Trump surgiu no Twitter de Dan Scavino, diretor de redes sociais do Presidente norte-americano, desacreditando, de novo, o resultado eleitoral:

"Embora discorde totalmente do resultado da eleição e os factos me deem razão, ainda assim haverá uma transição ordeira a 20 de janeiro. Sempre disse que continuaríamos a nossa luta para garantir que apenas votos legais seriam contados. Ainda que isto represente o fim do melhor primeiro mandato na história da presidência, é apenas o princípio da nossa luta para Tornar a América Grande outra vez", refere no comunicado.


A reação foi publicada por terceiros uma vez que as contas de redes sociais do Presidente cessante foram bloqueadas, numa decisão sem precedentes com o objetivo de evitar a disseminação de informações falsas e a "incitação à violência". Facebook, Twitter, Instagram e Youtube removeram conteúdos publicados por Donald Trump.
"Vocês são muito especiais"
O violento protesto que interrompeu a sessão durante várias horas abalou o coração da democracia norte-americana e foi entretanto condenado mesmo entre os congressistas mais conservadores. Muitos dos legisladores tiveram de se proteger debaixo de mesas e com máscaras de gás durante a incursão. 

Há várias semanas que o próprio Presidente norte-americano incitava a este protesto. "Grande protesto em DC a 6 de janeiro. Estejam lá, vai ser selvagem!", escreveu Donald Trump no Twitter a 19 de dezembro.



Na quarta-feira, num comício ainda antes do protesto, com a Casa Branca como pano de fundo, Donald Trump exclamava: "Nunca iremos desistir. Nunca iremos ceder", disse o Presidente cessante. "O nosso país já está farto, não vamos tolerar mais isto. Vamos para com este roubo!", acrescentou. 

Enquanto decorria o protesto e as televisões já mostravam as imagens da invasão ao Congresso, Donald Trump divulgou um vídeo onde pede que as demonstrações sejam pacíficas, mas mostra compaixão para com os manifestantes.

"Eu conheço a vossa dor, eu sei que estão magoados. Tivemos uma eleição que nos foi roubada. (...) Mas vão para casa, precisamos de paz. Temos de respeitar a lei e a ordem. Não queremos ninguém ferido. (...) Nós amamos-vos, vocês são muito especiais", disse o Presidente norte-americano. 

No rescaldo da invasão ao Congresso, o Presidente-eleito Joe Biden declarou que o protesto roçava a sedição. "Isto não é dissidência. Isto é disfunção. É o caos. Está próximo da sedição. E deve terminar agora. Ordeno a esta multidão que saia e permita que os trabalhos da democracia prossigam", reiterou.
Republicanos condenam
Os protestos violentos levaram à morte de pelo menos quatro pessoas. Há ainda 14 polícias ficaram feridos, dois deles em estado grave, e pelo menos 52 pessoas foram detidas.

Mesmo no círculo próximo do Presidente cessante, foram já vários os responsáveis que decidiram abandonar os cargos em protesto. Stephanie Grishman, chefe de gabinete da primeira-dama, Melania Trump, e a vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Matthews, também já renunciaram..

Outros, como o vice-conselheiro de segurança nacional, Matt Pottinger, o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Robert O'Brien, e o vice-chefe de gabinete, Chris Liddell, estão a considerar apresentar a demissão, avança o jornal The Guardian.

No Twitter, através da conta pessoal, o conselheiro de segurança nacional, Robert O'Brien, elogiou o vice-presidente Mike Pence - que por inerência chefe do Senado - considerando que demonstrou "coragem" na sessão do Congresso. Nos últimos dias, o Presidente Donald Trump tinha pedido a Pence que recusasse o resultado do Colégio Eleitoral.

"Hoje foi um dia sombrio para a história dos Estados Unidos. Aos que semearam o caos na nossa capital: vocês não venceram. Vamos voltar ao trabalho", disse o vice-presidente no momento em que os trabalhos do Congresso foram retomados, já depois do ataque ao Congresso.

Mitch McConnell, atual líder da maioria republicana no Senado, declarou que o Congresso não seria intimidado por "bandidos, multidões agitadas ou ameaças".

"Esta tentativa fracassada de obstruir o Congresso, uma insurreição fracassada, apenas ressalva o quão crucial é esta tarefa, que temos diante de nós, para a nossa república", acrescentou.  

Tom Cotton, senador pelo Arkansas próximo de Trump, condenou o protesto: "Já é hora de o Presidente aceitar os resultados da eleição, parar de enganar o povo norte-americano e repudiar esta violência", afirmou.

No último fim de semana, o jornal Washington Post revelou uma chamada telefónica polémica entre Donald Trump e o secretário de Estado da Geórgia. No telefonema, o presidente cessante pede ao responsável estadual que "encontre" votos para si e inverta o resultado a seu favor.

A certificação da vitória de Joe Biden acontece também no rescaldo da segunda volta das eleições da Geórgia para o Senado, eleição em que os democratas arrecadaram duas vitórias históricas.

Pela primeira vez em 20 anos, o Partido Democrático conseguiu eleger não um, mas dois senadores por aquele Estado, feito que lhes permite retirar ao Partido Republicano o controlo da câmara alta do Congresso norte-americano, para além da maioria democrata já garantida na Câmara dos Representantes. 
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