A cidade de Chemnitz, na Saxónia, foi palco de violentos protestos nos últimos dois dias após o esfaqueamento e morte de um cidadão alemão no sábado à noite. A chanceler alemã condenou os protestos violentos da extrema-direita e referiu que não há lugar, no país, para atos de “justiça popular”.
A polícia está a investigar o caso e deteve dois homens suspeitos, um sírio de 22 anos e um iraquiano de 21 anos, não tendo revelado mais detalhes sobre o homicídio. Nas redes sociais, circulam rumores que os alegados atacantes são requerentes de asilo que chegaram ao país na vaga migratória dos últimos anos.
Horas depois do crime, um protesto espontâneo juntou cerca de 800 pessoas ligadas à extrema-direita, já no domingo. Entre estes manifestantes, a polícia identificou 50 pessoas como capazes de desencadearem atos violentos.
O protesto juntou simpatizantes da Alternativa para a Alemanha (AfD), principal partido de oposição no Bundestag, e ainda apoiantes do movimento PEGIDA (sigla alemã para Patriotas Europeus Contra a Islamização do Ocidente) e membros do grupo radical Kaotic Chemnitz.
Desde 2015, a entrada de um milhão de requerentes de asilo na Alemanha durante a recente crise de refugiados tem motivado a ascensão de movimentos extremistas, que culpam o incremento de criminalidade com a chegada destes imigrantes.
Confrontos no segundo dia de manifestações
Este protesto apanhou de surpresa as autoridades policiais e obrigou mesmo ao reforço de pessoal, com a chegada de mais polícias vindos das cidades vizinhas de Leipzig e Dresden. Ainda assim, o reforço do dispositivo policial não conseguiu evitar novos distúrbios que tiveram lugar esta segunda-feira.
Houve mesmo registo de confrontos entre os dois lados, e a polícia teve dificuldade em manter os dois grupos separados. Vários manifestantes atiraram com material pirotécnico e garrafas de vidro contra o lado oposto e contra as autoridades.
“As imagens de pessoas a perseguirem aqueles que aparentam ser estrangeiros assustam-nos. Queremos mostrar que Chamnitz tem um lado que é cosmopolita e que se opõe à xenofobia”, disse Tim Detzner, um representante local do partido de extrema-esquerda, durante a ação de protesto.
Segundo a agência Reuters, um rapaz afegão de 18 anos e uma rapariga alemã de 15 anos foram atacados durante os protestos de domingo. Nos confrontos de segunda-feira entre manifestantes e contramanifestantes, seis pessoas ficaram feridas. “O povo tem de tomar as ruas”
Ainda antes dos confrontos violentos na segunda-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, veio condenar a xenofobia e racismo da primeira manifestação.
"Não toleramos estas reuniões ilegais e a perseguição de pessoas que parecem diferentes ou têm origens diferentes, ou tentativas de espalhar o ódio nas ruas", disse o porta-voz de Angela Merkel, Steffen Seibert, durante uma conferência de imprensa.
O Governo alemão condenou vigorosamente os protestos e disse que o país não aceita que se faça justiça pelas próprias mãos.
"A nossa mensagem para Chemnitz e para outras cidades é de que não há lugar, na Alemanha, para uma justiça popular, ou para grupos que querem espalhar o ódio nas ruas, para a intolerância e extremismo", acrescentou o porta-voz.
Roland Woeller, ministro do Interior na Saxónia, disse que não iria tolerar estas ações de "anarquistas" e alertou para as "desinformações e as mentiras" a circular na internet, pedindo calma e confiança à população nas informações que são dadas pela polícia.
Uma visão diferente é a do deputado alemão Markus Frohnmaier, da Alternativa para a Alemanha (AfD), que incitou aos protestos às ruas no último domingo:
“Se o Estado não consegue proteger os cidadãos, então o povo tem de tomar as ruas e proteger-se. É tão simples quanto isto! Hoje, é um dever cívico parar com a mortífera “migração de facas". Poderia ter sido o seu pai, filho ou irmão”, escreveu no Twitter, em referência ao homicídio de domingo e ao fluxo migratório registado nos últimos anos.
Wenn der Staat die Bürger nicht mehr schützen kann, gehen die Menschen auf die Straße und schützen sich selber. Ganz einfach! Heute ist es Bürgerpflicht, die todbringendendie "Messermigration" zu stoppen!
— Markus Frohnmaier (@Frohnmaier_AfD) 26 de agosto de 2018
Es hätte deinen Vater, Sohn oder Bruder treffen können!
Martinna Renner, do partido de esquerda Die Linke, acusa a extrema-direita de se estar a aproveitar deste homicídio para atingir objetivos políticos.
Ein schrecklicher Mord, dessen Hintergründe unklar sind, wird in #Chemnitz aufs Widerlichste für rassistische Ausschreitungen instrumentalisiert. Potentielle Opfer müssen geschützt werden, gegebenfalls auch durch ein #Versammlungsverbot für die rechte Mobilisierung heute Abend.
— Martina Renner (@MartinaRenner) 27 de agosto de 2018
(com agências internacionais)