Conflito fronteiriço reacende-se entre Arménia e Azerbaijão

por RTP
Primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, fala ao parlamento da Arménia Reuters

O primeiro-ministro da Arménia acusou o Azerbaijão de ter morto meia centena de soldados arménios num ataque em larga escala pouco após a meia-noite de dia 13 de setembro.

De acordo com o Ministério da Defesa da Arménia, as forças azeris iniciaram uma barragem de artilharia e atacaram também com drones múltiplas zonas do seu território, nomeadamente Vardenis, Goris, Sotk e Jermuk no leste da Arménia.

Esforços russos para conseguir um rápido cessar-fogo acabaram por se revelar infrutíferos e os combates prolongaram-se ao logo de terça-feira nas mesma zonas e ainda em Ishkhanasar e Kapan.Ambas as partes se acusam mutuamente de violar o cessar-fogo.

O primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, disse que falou ao telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, com o presidente francês, Emmanuel Macron, com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, com o presidente do Irão, Ebrahim Raisi e com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, para debater as hostilidades e pedir uma "resposta adequada" às "ações agressivas do Azarbaijão".

Erevan notou uma quebra na intensidade dos bombardeamentos nas últimas horas mas afirmou que as tropas azeris continuam a tentar avançar em território arménio. Foram atingidas infraestruturas civis e um número não especificado de pessoas, referiu. Analistas receiam o ressurgir do conflito entre os dois países, que disputam o território de Nagorno-Karabakh. Já no início de agosto deu-se um regresso de hostilidades com "mortos e feridos".

O Azerbaijão alegou que as suas tropas responderam a "provocações" e a "atos subversivos em larga escala" perto dos distritos de Dashkesan, de Kelbajar e de Lachin perto da fronteira, afirmando que as suas posições militares "foram alvejadas incluindo com morteiros" por parte dos militares arménios, que minaram ainda vários locais. Negou que as forças azeris tenham atacado alvos civis e revelou ao fim do dia a morte de 50 das suas tropas.

Os ataques arménios às posições militares azeris "duram já há algumas semanas", tendo-se "intensificado nos últimos dias", acusou por seu lado Elnur Mammadov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão.

A "Arménia tem estado a concentrar armamento pesado ao longo da fronteira com o Azerbaijão. O que sucedeu durante a noite foi uma provocação em larga-escala por parte dos militares arménios contra as posições azeris assim com o bombardeamento de infraestruturas de funcionários e civis", acrescentou Mammadov.

O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, reuniu-se com o seu estado-maior para avaliar a situação. "Foi sublinhado que as responsabilidades pela atual tensão cabem inteiramente à liderança política da Arménia", comentou o seu gabinete.

Acusações rejeitadas firmemente pelo primeiro-ministro da Arménia no Parlamento do país. Pashinyan afirmou que o ataque azeri matou pelo menos 49 soldados arménios. Três civis terão sido feridos.
Arménia pede apoios
O governo arménio anunciou esta terça-feira que vai pedir oficialmente o apoio da Rússia ao abrigo de um tratado de amizade, e apelar por assistência às Nações Unidas e à Organização do Tratado de Segurança Coletiva, uma aliança dominada por Moscovo que agrupa seis ex-nações soviéticas incluindo a Arménia. Pashinyan fez notar que as ações azeris se seguiram as conversações recentes sob a égide da União Europeia entre ele próprio e Aliyev, em Bruxelas, acusando o presidente azeri de manter uma postura intransigente.

A Organização do Tratado de Segurança Coletiva reuniu-se, com o representante arménio a enfatizar durante o encontro que Erevan espera que os seus aliados adotem "passos coletivos eficazes para garantir a segurança, a integridade territorial e a soberania da Arménia".

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, não comentou o pedido de apoio arménio mas em conferência de imprensa revelou que Vladimir Putin está "fazer todos os esforços para ajudar a diminuir as tensões".

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia pediu a ambas as partes que "evitem uma escalada das tensões e mostrem contenção".

O secretário de Estado dos EUA afirmou que Washington segue com grande preocupação as informações sobre os combates e telefonou aos líderes dos dois países a apelar ao "fim imediato de quaisquer hostilidades militares", acrescentando que "não pode haver uma solução militar para o conflito".

Charles Michel, o presidente do Conselho Europeu, afirmou que o bloco estava "pronto a fazer todos os esforços para evitar nova escalada" acrescentando que "não há alternativa à paz e estabilidade na região".

A Turquia, um aliado de longa data de Baku, apontou o dedo aos arménios, a quem responsabilizou pela violência. O ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, apelou Erevan a acabar com as suas "provocações" e o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, condenou a "atitude agressiva da Arménia e as suas ações provocadoras".
Origens do conflito
A Arménia e o Azerbaijão, duas ex-repúblicas soviéticas, disputam há décadas o território de Nagorno-Karabakh, nominalmente parte do Azerbaijão mas controlado por forças étnicas arménias apoiadas por Erevan desde uma guerra separatista na área em 1994. Pelo menos 30.000 pessoas morreram no conflito que se seguiu ao colapso da União Soviética.

O Azerbaijão considera que os arménios estão a ocupar o território ilegalmente.

Em 2020 o conflito reacendeu-se durante seis semanas e vitimou mais 6.600 pessoas, com o Azerbaijão a estender o seu controlo sobre várias áreas de Nagorno-Karabakh. O conflito serenou com um cessar-fogo alcançado por Moscovo, que colocou na área dois mil soldados da paz.

Sob o acordo, a Arménia cedeu pedaços de território que controlava há décadas.

Moscovo tem conseguido manter um equilíbrio delicado, estabelecendo laços fortes económicos e securitários com a Arménia, incluindo uma base militar neste território, a par de cooperação próxima com o Azerbaijão rico em petróleo.
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